eu falei o quê?

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Abro os olhos e tudo está doendo. A claridade da sacada incomoda minha retina, então encosto as pálpebras por um tempo e, aos poucos, noto o semblante calmo e sonolento dele. Mas o que assusta-me, de fato, é que ele está de frente a mim, mas tem alguém aqui por trás, com o braço jogado à minha cintura e proximidade extrema. O odor é diferente, o mesmo digo da textura da pele. E então ergo o tronco, assustado com o que tem abraçado a mim por trás. Assim que noto o semblante do infeliz, quase tenho um treco.

- Me larga, sai... - afasto a mão de Bailey da minha cintura e movo meu corpo para o lado oposto, ainda que não haja quase espaço algum entre eu e Noah.

- Ai, quanto barulho... - May põe a mão no rosto, depois bagunça ele mesmo o cabelo que já estava bagunçado. - Shh...

Afasto o cobertor para que eu possa sair desse ninho de cobra, mas é aqui e agora que constato minha ausência de roupas, senão a íntima. Olho para Bailey: o mesmo. Puxo um pouco o lado de Noah, que já está acordado e soltando gemidos: idem. Estamos, nós três, apenas de cueca dormindo abraçadinhos na cama. Isso é sério?

- Cadê minha roupa? - procuro ao redor. E, olhando bem, estamos no meu quarto. E isso significa que posso muito bem expulsar Bailey.

- Shh... - Noah resmunga, mostrando que acabou de acordar também. Olho para ele, mas ainda tem os olhos fechados e metade do rosto no travesseiro.

- Sério, cadê minha roupa? - repito.

- Bailey tirou a roupa de todo mundo, eu acho - é Noah quem responde. - Ele sempre faz isso.

- Por que você tirou minha roupa? - viro-me para o filipino, que está a levantar-se. Tiro o cabelo do rosto e procuro algum prendedor na bancada, para segurar a franja.

- Porque eu quis - ele sai do meu quarto ajeitando a própria cueca ao corpo.

Bem, minha pergunta não foi nem um pouco respondida.

- Bom dia... - Noah fala manhoso, puxando-me para perto pela cintura. Ele até deixa um beijo na minha barriga, ainda que eu esteja prendendo o cabelo para trás.

- Pela intensidade do sol, já deve ser tarde - olho pela janela, as cortinas ruflando num gostoso vai e vem.

- Boa tarde, então - ele dá uma cutucada no meu umbigo. Rio quase sem querer.

- Para, Noah... - lhe afasto a mão. - Espera... Se estávamos aqui deitados sem roupa, quer dizer que...

- Não, não mesmo - Noah ri apertando as pálpebras. - Quer dizer, eu e você quase que... Você sabe... Mas você ficou enjoado e acabou não rolando. Só me lembro disso. Nem sei onde foi que encontramos Bailey, porque ele tinha sumido a festa toda.

- Sim! - exclamo, com os pensamentos nos eventos de ontem à tarde e noite. Eu gostaria de lembrar de tudo, mas só me lembro de quando troquei de roupa e de Bailey ter sumido. - Tudo está muito embaçado para mim.

- Para mim também - ele me puxa junto a ti, fazendo-me deitar outra vez, e aproveita o feito para dar-me beijos demorados e carinhosos no rosto e pescoço. Esse carinho todo está fazendo-me querer fugir. Sinto que há algo errado. - Te amo.

Fico uns trinta segundos olhando para a parede branca do quarto, minha cabeça latejando e pensando no que irei responder quanto a isso. Porque é estranho. Sim, é completamente estranho. Não gosto de quando ele fala isso, porque... Não é como se eu não soubesse, certo? Além do mais, ter de responder é cruel. Eu não vou responder. E ele vem com esse sorriso, essa calma, o coração tranquilo, tocando minha barriga para chamar-me a atenção. Quando encaro teu semblante formoso, ele está recheado de expectativas.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora