interlúdio defeitusosamente estruturado, porém de coração, assim como eu e você

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o vício me consome, eu diria. mas tê-lo aqui, rente a mim, com seus sussurros e carícias, impede que eu diga algo que não seja "você quer um pouco mais?"

você quer um pouco mais, e eu filtro minhas necessidades e libero-as em ti. o tato, calor e fluidez. você sabe que às vezes os ósculos são grudentos. tudo está em você agora.

o rosto ruge contrasta tua palidez, porque a bebida não dá trégua e o uísque é caro e enxuto. quiseres arrancar-me as vestes, assim como arranco teu coração. eu sou mau e sinto muito. mesmo assim você me quer.

eu escutei em algum lugar que você é assim mesmo, você gruda e não quer soltar, temes minha ebulição. eu também, devo contar-te. mas agora seguro seu corpo bem forte, para que nos tornemos produto de uma reação exotérmica.

quando você diz que sou lindo, eu seguro seu queixo e digo: você é o ser mais incrível que já conheci. e você sorri feliz, porque sabes que ganhei nessa modalidade.

vais beijar-me o corpo, vai pedir por mais. eu não sei onde ir com você, estamos indo rápidos demais. se as bocas se encontram, decerto ei de atirar-me em ti.

há como voltar a fita? não me lembro de ter feito tudo certo para conseguir isso. deixei as coisas pela metade, perdi três semestres inteiros. como pude voltar e pegar o diploma assim, sem mais nem menos? você é tão bom.

és sussurro delicado numa noite de insônia. um suco de melancia cheio de gelo após um almoço de pedreiro dum verão acima dos trinta graus. tu és, literalmente, a massagem que recebo após uma semana inteira de estresse.

eu não sei parar de procurar-te no corredor, na sala, no sofá, quando sentamos e você me abraça. põe rosto no meu pescoço e eu sinto que amá-lo é como um pacto com o diabo. sei que isso vai perseguir-me por todo lugar, que acordarei no meio da noite, suando frio, pensando: meu deus, e o amanhã? o amanhã, meu filho, é que irás estar batendo à porta com os dois chifrinhos e um sorriso descarado no rosto, surrupiando minha alma para o desconhecido. e eu vou, porque tu tem uma fala mansa de preguiçoso e toque singelo. eu caio nessas redes aí.

sentei num estabelecimento, ainda vendo o menu, garçom de sorriso frouxo brotou-me com a porra de um amor quentinho dizendo que era pra mim. eu falei: não pedi, mas ele deixou sobre a mesa. e passei tanto tempo pensando no que pedir, que olhei tanto para ti e pensei: não há nada no cardápio que se compare com isso daqui. acho que foi aí que te aceitei.

minhas palavras são rasas e previsíveis. mas você não é. em teu colo, eu sinto a umidade dos lábios nos meus, o tato, o afago tão lépido que sei nem se existe ou é cena de ação de ficção científica. em falar em ficção científica, mostre-me tua matrix. eu não estou com bons pensamentos agora.

você é doce, mas tem o gosto amargo. bebemos amargura, porque somos jovens e desconfiamos do amanhã. aperta mais a minha pele e eu te digo se esperava ou não. às vezes você tem medo de mim. eu sou mau, sinto muito.

não me importa se achas minha pele macia feito algodão. quero saber quando é que vou poder ter-te nela, porque você pode morder, rasgar, pode fazer-me de tapeçaria, coser em mim. vamos brincar de teatro: eu sou a maçã e tu és branca de neve. só põe a boca em mim. é minha súplica.

por mais que eu sinta enjôo, tombo pelos cantos, sinto calor. você segura meu ombro e diz que estará comigo sempre, sempre. eu precisando ou não. porque você é demais. mas eu bebi demais. tudo parece girar.

eu te amo eu te amo eu te amo eu te amo e foda-se a gramática que diz que não se deve iniciar oração com pronome oblíquo eu não estou nem aí não vou usar vírgula não sei o que é ponto final eu só sei que te amo te amo te amo te amo mas isso dói tanto supera o enjôo que sinto supera a tontura que arremessou me ao banheiro outra vez eu não sei pôr o hífen vou chorar hoje a noite porque eu te amo te amo demais te amo demais você me tirou da zona de conforto e eu te odeio tanto eu te odeio te odeio é cansativo tudo isso me desculpa eu não quero te machucar se eu te machucar outra vez eu vou chorar se eu te fizer chorar outra vez eu vou chorar eu não quero não eu te amo te amo te amo me desculpa te amo eu to enjoado mas eu te amo demais pare de me tirar da minha zona de conforto por favor suma da minha vida eu te amo demais eu não quero te amar me machuque logo antes que eu te machuque você não pode chorar porque eu te amo te amo te amo te amo eu sempre tenho certeza de tudo e se te falei é porque nisso eu também tenho eu tenho sim eu te amo te amo te amo te amo te amo demais eu te amo

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora