eu não sinto ciúmes

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Estou em pedaços, em cacos, me sinto uma garrafa de vidro de um mendigo bêbado que a deixou cair no chão e partiu-se em inúmeras partes. Estou só o pó ou o resto dele. Carrego quatro garrafas e um saquinho com chiclete, pirulito e bala para Noah. Mas quando eu me aproximo, minha visão está embaçada demais para eu enxergar direito o rosto de quem está sentado no meu lugar, ao lado dele. Mas eu sei que tem alguém, um homem, próximo a ele. Assim que chego junto, percebo que estão conversando em inglês e rindo de algo. Cumprimento ambos, pego meus óculos na bolsa para enxergar melhor que raios está acontecendo e, vendo melhor, o cara é extremamente lindo. Sabe o que é alguém lindo? Isso mesmo. É isso mesmo.

— Então... Qual o seu nome? — ele quer saber. — Eu sei que esse fofo aqui é Noahdos Estados Unidos, e o seu? É dos Estados Unidos também?

Eu ponho as garrafas d'água ao lado dele. Tem um corpo dourado, talvez já acostumado com o sol, atlético em demasia. E os fios de cabelo são castanhos, grossos e encaracolados. Fico um pouco perdido nesse seu olhar em mim, porque não respondo instantaneamente. Engulo em seco com o "esse fofo aqui", mas faço de tudo para dissipar esse pensamento.

— Josh e o seu? — finalmente respondo.

— Theo — ele sorri. — Prazer te conhecer. Eu estava falando com Noah algumas coisas... Ele não sabia que existe uma praia com areia escura por aqui. Aliás, você não me disse de onde é.

— Nasci no Canadá — lhe respondo, agora olhando para Noah e no sorriso que ele dá sem tirar os olhos do outro rapaz. — Ah... Você está falando da Perissa Beach?

Hot damn, você tá informado! — ele ri, mas vira-se para Noah. Aliás, eu nunca conseguiria traduzir hot damn mesmo. É uma exclamação sobre aprovação de algo ou alguma coisa assustadora. Enfim, viajei aqui. — Então...

— Theo! — uma voz feminina irrompe a quietude daqui. Olho para a direção e vejo uma garota sentada numa toalha numa posição diagonal à frente da nossa. — Theo, traz uma garrafa de água, porque a nossa acabou! — e, por incrível que pareça, ela diz isso em francês.

— Depois eu vou, porque é longe — ele responde, também em francês.

— Tem uma vendinha lá atrás, mas tem que percorrer uma parte da trilha de volta. Lá vende água e outras coisas também — lhe informo no mesmo idioma usado, aproveitando o gancho do francês no ar.

— Oh, você fala francês? — Theo sorri para mim, expressando-se em inglês dessa vez. — Oh, valeu por ter me dito. Eu não conheço muito a ilha, minha primeira vez aqui. Eu sou da capital, mas meu amigo me chamou para casa dele aqui e... Eu meio que aceitei dessa vez.

— É o seu amigo que só vive de casaco, até mesmo morrendo de calor? — quando Noah pergunta isso, ele e Theo caem na gargalhada. Não sei se é por conta de alguma piadinha interna aí ou por conta sotaque do Noah. Aliás, o sotaque dele é uma graça, faz parecer que ele está realmente se esforçando para falar bem.

— Sim! — o cara concorda, rindo. Percebo o modo o qual inclina-se levemente para o lado de Noah e me questiono se demorei tanto tempo assim para permitir ficarem tão íntimos com a presença um do outro. — Exatamente, cara. Enfim, Noah, antes do Josh chegar... Eu estava te falando daquele episódio...

E enquanto o tal rapaz fica falando de alguma série aí que provavelmente Noah também assiste, eu fico com cara de paspalho bebendo água e oferecendo uma garrafa para o nada, porque no final de tudo nenhum dos dois fala comigo. E eu olho para Noah, que sorri para o cara e fica olhando-o parecendo como se fosse o maior diamante do planeta.

— Ah, Theo, sabe de algum lugar que vende sorvete por aqui? — interrompo.

Ele vira-se para mim.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora