eu não vou demorar muito

1.1K 200 295
                                    

O melhor de Lamar é sua saída. Ele limpa a bagunça, guarda as coisas, me leva pra cama, me deixa um beijinho na testa - sim, um dia o peguei fazendo isso e ele saiu imensamente envergonhado pela minha descoberta - e depois sai na pontinha dos pés, para não me acordar. Eu sei disso porque acordei na minha cama e a sala está brilhando de limpeza. Ah, nossa... Eu simplesmente amo Lamar. E ele sabe disso.

Me arrumo com dor de cabeça, porém nervoso. Tomo um remédio para a quantidade de álcool que ingeri ontem à noite e preparo um café da manhã. Gostaria que Lamar tivesse ficado para comermos juntos, mas ele é tão acostumado a sair cedo durante os lances dele, que acaba acontecendo até comigo. Mas eu não ligo. Funcionamos assim. Nos damos bem.

Pela manhã, me sinto melhor em limpar todas minhas notificações. Gosto de ver cada uma, sempre. Quando chega a vez do Instagram, acabo dando de cara com a foto que estava a abrir ontem à noite e acabei por não fechar a aba do aplicativo. A imagem está bem aqui, à minha frente.

Bebo meu café quente olhando a foto, como se estivesse analisando. Eu detesto ficar de olho nisso, mas é a primeira imagem que postam juntos e... Bem, talvez as coisas estejam melhores sem mim.

Noah está namorando, eu soube. Começou num vídeo que Krystian postou, brincando com os dois. Ele citou o namoro, então eles começaram a rir. Mas eu soube ali, soube que era verdade. Bailey deve ser um bom namorado, eu penso. Ele posta inúmeras coisas dos dois, mas poucas vezes mostra o rosto de Noah com ele. Às vezes é apenas eles andando de mãos dadas, ou num restaurante, ou se abraçando ou fazendo qualquer coisa. Imagens típicas boyfriend material. Eu perdi o ar quando vi pela primeira vez.

Nunca segui Bailey, mas tudo o que ele posta é público. Exatamente tudo. Por isso que, olhando essa foto, eu meio que não sei como me sentir. Noah está de maquiagem, um esfumado escuro ao redor dos olhos. Estão frente ao espelho, Bailey abraçando por trás com os lábios no pescoço dele. Tão íntimo e fofo ao mesmo tempo. E eu encaro essa foto e fico pensando sobre isso. Se eles eram para ser, talvez eu devesse ter acabado com aquilo logo. Se eu estava no meio do caminho.

Mas isso não me importa mais, de qualquer jeito. Limpo minhas buscas, fecho esse aplicativo, me levanto e termino de me arrumar para o trabalho. É bom estar de volta na minha casa, chacoalhar as chaves do meu carro, dirigir sem me preocupar com muitas coisas. Hoje eu só quero me sentir bem.

Quando chego ao restaurante, é paz que encontro. Amo abrir, amo checar tudo, amo acompanhar o pessoal chegar. Aos poucos, vou cumprimentando todos, acenando. Ninguém mais liga para a minha máscara no rosto, alguns até elogiam meu cabelo novo. Sabe, eu tive que mudar. Às vezes as coisas precisam de um pouco de mudanças. Assim a vida é.

Lamar aparece com roupas diferentes das que estava a usar ontem e um sorriso no rosto. Eu já estou acostumado com o fato de ele ser tão aleatório, então apenas converso sobre o restaurante. Quando minha equipe já está reunida, faço um pequeno discurso sobre as prováveis mudanças que ocorrerão daqui a poucos meses e expor quão estou feliz por estar de volta.

Eu sinto muito orgulho de mim por ter conseguido ir tão longe. Eu não sabia, há alguns anos atrás, como estaria agora. Eu era inseguro, eu não me considerava tão bom, eu queria ser o melhor. Meu ensino médio foi um inferno, minhas notas eram extremamente medíocres e a frase em francês que eu mais repetia aos meus companheiros de quarto era "laisse-moi pleurer" (deixe-me chorar). Se tinha uma coisa que eu não tinha a mínima ideia de que seria capaz, era abrir meu próprio restaurante com minha própria equipe. E aqui estou eu.

Lamar quer conversar, ele insiste. Eu digo que não agora, estou com saudades da minha cozinha. Prendo-me num avental e entro nela. Estava morrendo de saudades dos meus cozinheiros, de como ficamos insanos no período do almoço e início da noite. São os melhores momentos, porém mais intensos. E que saudades de gritar para que façam da maneira certa e rápidos. Tudo tem que ser perfeito.

No final da noite, quando todos vão embora, estou ajeitando as coisas no escritório, então dois indivíduos invadem a sala com gritaria e algazarra. Nem preciso virar-me para saber quem são: as duas bençãos cozinheiras que me irritam mais que qualquer outra coisa, mas sabem fazer um trabalho divino na cozinha.

- Joshua... - o mais novo deles começa, aproximando-se de mim. - Vamos sair pra beber e comemorar sua volta. Estamos loucos pra saber os babados da Itália com mais detalhes. Tipo sobre o Andres...

Reviro os olhos ao virar-me para encarar os dois.

- Duas pestes, vocês dois - reclamo. - Ficaram bisbilhotando minha vida na internet, foi?

- Filho, a gente sabe o nome de todos os boys que você ficou - Joel responde, com aquele típico sorriso dele de quem tem total propriedade sobre o assunto. Ai, que ódio desses dois...

- Andres... Andres... Andres... - Erick cantarola, claramente se referindo ao meu namorado de Nápoles. - Nunca pensei que Josh Beauchamp um dia seria capaz de namorar.

- Foi um relacionamento aberto, amado - explico, enfiando meu MacBook na capa e colocando com jeitinho dentro da bolsa. - E é sério que vocês querem me embebedar para saber dos meus relacionamentos?

- Das pizzas que você comeu que não é, né Beauchamp! - Erick revira os olhos, pegando minha bolsa e fechando ele mesmo, todo apressado para irmos logo.

Um me puxa por um dos braços, o outro praticamente me empurra escada abaixo. Talvez... só talvez eu esteja sendo sequestrado. E isso não é nenhuma novidade, já que minha opinião não conta nem um pouco quando o assunto é esses dois. Dois ridículos.

- Ah, vocês vão sair? - Lamar aparece, já de saída, olhando para nós três.

- Vamos encher a cara. Vamos, Lamar - Joel larga meu braço e pega o do Morris. Lamar ri e se afasta, negando a oferta.

- Não, não. Aliás, Josh... Lembre que amanhã precisamos encontrar Krystian. Então nada de chegar tarde - me adverte.

- Relaxa. Eu não vou demorar muito... - sorrio, para que ele confie em mim.

Lamar nega com a cabeça e sai do restaurante, após acenar como despedida. E assim sou puxado para mais uma noite de farra. Nem sei como fomos parar em nesse bairro, mas já estamos com nossas garrafas de vinho escutando essas música eletrônicas sem noção. Às vezes me sinto um velho no corpo de um jovem. E então aproveito meu corpo de jovem para me afogar no álcool.

Eu realmente não quero lembrar de amanhã.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora