eu perdi numa aposta

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Noah lambe os lábios de açúcar, então passa a língua nos dedos e engole após mastigar. Eu apenas escuto seu suspiro denso ao passo que dou algumas bebericadas no chá. Mordo um pedaço da minha rosquinha e ajeito-me melhor na cadeira, porque sei que ele está em silêncio pensando e que provavelmente não iremos continuar o assunto. É estranho estar evitando essas coisas. O amor é realmente uma palhaçada.

Porque é engraçado o modo o qual comemos em silêncio e fingimos que ambos concordamos com o dito. E eu não sinto muito por isso, sendo sincero. Porque às vezes se tem uma visão sobre algo que possa dizer quem você é. Eu não gostaria de ser igual a ninguém, deve ser por isso que ando de acordo com o meu pensar. Eu não fui moldado, eu me moldei. Não é ego. É independência.

- Essa tem gosto de quê? - ele me pergunta quando já estou no final. Engulo antes de esticar para que possa provar e, após segundos pensando se essa seria uma boa ideia, ele inclina o corpo e dá uma mordida. - Hmm... É realmente bom! Eu gostei porque é bastante doce.

- Você é viciado em doces - comento. Abocanho o último pedaço e pego a xícara para mais um gole.

- Doce é bom - ih, olha lá o defensor do açúcar. - A qualquer hora e em qualquer lugar.

- Não irei refutar - é o que digo. - Eu prefiro algo amargo. Chocolate amargo, por exemplo.

- Ah, eu também, né! Gosto de coisas doces e amargas. Mas não tão doce. É bom, mas enjoativo. Só minha opinião importa.

Ah, pronto. Ele já está vindo de memes agora.

- Estás parcialmente equivocado, do... - paro no meio da frase, percebendo o que estava prestes a falar. Não, não mesmo. Não irei chamá-lo disso outra vez, ainda que seja apenas uma brincadeira despretensiosa.

- Hm? - uma das suas sobrancelhas se ergue.

- Quê?

- Você ia falar depois alguma coisa... - aposto que ele sabe o que seria, mas também não tenho certeza.

- Era algo em italiano, eu ainda estou bugado com a mudança de idioma - chacoalho a mão direita para que ele esqueça o assunto e desço os olhos para o chá.

- Ah, entendi...

Assim que eu pego a outra rosquinha para comer, alguém entra na floricultura. Por uns dois segundos não dou atenção, mas a movimentação de Noah ao meu lado me faz olhar para esse alguém. É um cara de boina amarela e short marrom que entra. Ele olha para nós dois sorrindo enquanto caminha, o que me faz pensar que talvez seja um cliente assíduo também. A única explicação para esse ar íntimo e familiar com o ambiente.

- Bom dia, bom dia - ele cumprimenta com um sorriso. - Oh, que bela surpresa...

- Bom dia para você também, Zabdiel - assim que Noah responde, fico a olhar para ambos tentando entender a situação. Ok, eu não conheço ele.

- Bom dia, senhor Noah Urrea - seu sorriso é irônico. - Vejo que está bem trajado hoje...

Depois desse comentário, praticamente sou obrigado a deitar o olhar em como Noah está vestido - ou como não está vestido. Ele revira os olhos e cruza os braços. Eu dou um golinho no chá para tentar disfarçar a furtiva espiada nos seus músculos e o peitoral que, pelo ângulo que estou, consigo ver quase sem querer.

- Filho da mãe - Urrea esbraveja. Eu não entendo a situação, mas o modo que levantou-se e fingiu partir para um soco no rapaz acaba por me assustar e fazer-me engasgar.

- Aí, ó, Noah... Quase matou Josh! - e meu surto fica maior ao escutá-lo dizer meu nome quando nunca antes nos conhecemos. Eu me lembraria. Acredito que me lembraria. - É o Josh, né? Meu instinto diz que sim...

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora