eu acho que temos visões diferentes

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Eu e Noah damos tchau a Lamar. Com ajuda dele, abocanhadas e risadas, decidi que vou tomar vergonha na cara e deixar Noah lá em casa. Estou me preparando mentalmente para isso, sei que vai ser difícil, uma vez que nem eu queria ir, quem dirás puxar Noah comigo. Conquanto, estou com uma estratégia de ficarmos nos quartos mais distantes dos principais e mantermo-nos longe das conversas majoritárias.

— Josh? — Noah chega perto de mim, vendo o carro de Morris sumir. — Que você vai fazer com a carne de dragão? E a de unicórnio?

— Olha, Noah... Sinceramente... Eu espero que não seja carne humana... Fora isso, eu jogo numa panela e faço mágica — me desencosto do porta-malas do meu carro e passo a mão no cabelo. — Você vai ser minha cobaia.

— Sai fora, maluco! Meu chicote que eu vou fazer uma desgrameira dessa com minha vida! — com uma careta ele vai andando até a porta do passageiro e faz um gesto para eu destravar.

— Chicote? Não entendi o contexto — caminho para a porta do motorista e destravo as portas.

— Chicote, rego, furico... Tudo é cu, Josh. Não tem mistério — quanto mais ele tenta explicar, mais fico confuso. Não questiono mais também. — Traduzindo o termo: nem fudendo vou fazer isso!

— Porra, Noah... — reviro os olhos. — Enfim... Vou te levar pra casa — sento-me no assento de motorista e ponho o cinto antes de fechar a porta.

— Ah, sério?

— Sério.

— Sério?

— Tá virando uma brincadeira já de dormimos juntos toda vez que nos vermos, Noah — reviro os olhos ao ligar a luz interna do veículo.

— Eu juro que só fico hoje! — ele cruza os dedos.

— Daqui a dois dias vou viajar, então certamente hoje seria a última vez — ligeiramente giro o tronco na sua direção.

— Mas vou sentir sua falta...

— Você vai comigo!!!

— Mas em vôos diferentes... — Noah cruza os braços. — Meu vôo é dezesseis horas depois do seu. Como vou sobreviver?

— Parou, Noah? — ergo a palma direita. O drama já está me dando nos nervos já. — Sério... Está ficando meio insuportável isso todo dia.

— Desculpa... Desculpa... — suspira, agora descendo o olhar para as próprias coxas. — Fiquei um ano e meio sem você... Tô ficando obcecado pela sua presença, eu confesso. Eu literalmente fico pensando em você o dia inteiro. O dia inteiro! E também tenho medo de, sei lá... Desculpa.

Respiro fundo. Bem fundo. Bem fundo mesmo. Quero absorver o conhecimento do mundo neste momento para criar uma resposta delicada, porém informativa. Eu quero dizer: não fique viciado em mim, eu sempre fujo quando me apertam. Mas não, eu estou pensando demais no que responder.

— Respira, tá? — começo. — Olha... É legal o que temos, mas... Calma, ok? Você está muito emocionado e muuito intenso com... Sabe... Toda essa coisa nos rondando... Mas... Relaxa.

— Eu sei, eu sei — encosta-se na porta. — Eu acho que temos visões diferentes sobre a mesma coisa... — ele parece ponderar. — Mas eu compreendo. Eu deixo toda minha lógica e pensamentos sobre o óbvio de lado quando estou contigo, aí acabo enchendo o saco com meu sentimentalismo excessivo. Pode me levar pra casa, eu normalmente brinco com essas coisas, mas... Se já não está sendo divertido, é melhor parar por enquanto.

Eu abro a boca para tentar argumentar, mas desisto. Desisto porque essa discussão vai render demais e eu não estou com muito fôlego. Eu acho que isso vai terminar em como nós dois enxergamos o relacionamento. E isso vai trazer alguns pontos expostos no bullet journal dele, onde tem escrito sobre quão mal fiz a ele e coisa e tal.

— Baby, eu vou te deixar em casa — ponho a chave na ignição. — Amanhã de noite você dorme na minha, pode ser? Traga roupas. Provavelmente eu vou estar cansado, mas posso ficar relaxando com você. Que acha?

— Não se sente obrigado a fazer isso?

— Não, eu realmente quero. Quando estivermos no Canadá teremos um quarto para cada, então sem chance de dormirmos juntos.

— Tá ok, então — ele concorda.

— Ótimo — sorrio.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora