eu não te acho uma má pessoa

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- Feche os olhos - eu peço. - Assim você pode se concentrar em apenas um sentido.

Noah fecha os olhos e eu olho seus lábios. Me aproximo devagar, quase imperceptível. Gosto do calor da sua respiração. Dos seus olhos fechados suavemente. Gosto de como ele não sabe que estou próximo e lambe os lábios sem querer. Ele umedece os lábios. E eu me pergunto. Me pergunto como seria se eu também pudesse fazer isso por ele. Como seria se fosse minha língua e não a sua. Se fosse eu umedecendo e não ele. Com minha saliva e meu contato. E meu calor. No seu. Na sua boca. Contigo. E se eu pudesse espremer seus lábios com os meus, quando eu fosse me afastar com um pouco de ti. E se ele gostasse. Tanto quanto eu gosto de tornar tudo calmo e lento. Porque é tão bom. Tão confortável. Tão gostoso de se estar que eu quero aproveitar o máximo que puder.

Se eu pudesse beijá-lo agora... Minha língua deslizaria para dentro da boca dele com a maior felicidade do mundo. Normalmente não me preocupo com beijos, porque são fáceis demais para mim, acessíveis, não é preciso cena nem teatro, eu sempre consigo o que quero. Mas não, eu não sei porque é que me sinto assim como ele. Deve ser porque tem namorado e eu respeito isso, como certas vezes não fiz no passado. Mas isso não muda muito o fato de que eu quero beijá-lo agora. Minha boca na dele fazendo arte. Porque eu e ele. Eu e ele. Ele e eu. Somos nossos artistas favoritos.

- Perfeito! - alguém comenta atrás de nós. De repente todos começam a aplaudir e eu me afasto assustado, com o cu na mão, olhando ao redor para ver que porra foi que aconteceu. É que chegou ao fim e eu não tinha percebido.

Noah abre os olhos e, encantado, começa a aplaudir também. E estou atônito ainda, assustado com o que aconteceu. Mas o acontecimento não eram os aplausos repentinos que me acordaram para a vida. Foi eu. De repente sinto medo de mim. Percebo meu próprio silêncio quando tudo se encerra e, minutos depois, já estamos de saída. Ele está a dizer que gostou imensamente. Demais. E eu não sei o que responder.

- Fico bem feliz, Noah - vou dizendo, para que ele não fique a falar com as paredes do corredor.

- Podemos ir ao banheiro agora?

Eu ia perguntar que eu tenho a ver com o banheiro, mas me lembro que falei no início que iria com ele. Concordo, então preciso segui-lo. Por incrível que pareça, também estou precisando fazer xixi e nem tinha percebido. E aqui estamos nós, lado a lado no mictório, escutando a conversa de dois caras que não sabem como dispensar a namorada de um deles. E eu me pergunto por que é que o ser humano é tão frágil assim. Eu gosto de não ser tão frágil assim.

- Que você vai querer comer? - pergunto do nada, olhando quão amarelo meu xixi está para saber se estou bebendo muita ou pouca água. Eu gosto de notar isso, taokei?

- Hm... Não sei - me responde. - Talvez algo com queijo?

Eu sorrio sem nem olhar para ele.

- Está com vontade de comer queijo hoje? - questiono num tom brincalhão. Termino primeiro que ele, então me recolho, ajeito minha calça e me aproximo da pia.

- Uhum - ele concorda.

Combinamos então de comer costelinhas mergulhadas em queijo derretido. Após lavarmos as mãos, vamos à procura de algum lugar aberto neste horário para que possamos comer. Procuro num aplicativo, mas Noah insiste me dizer que no boca a boca vai ser melhor. E enquanto eu estou buscando no Google um estabelecimento por perto, ele fica me cutucando para pedir informação a alguém.

- Que peseta, Noah! Se tu quer perguntar a alguém, por que você mesmo não pergunta? - eu realmente olho feio para ele. Noah revira os olhos. Isso é bom, não estamos nos ofendendo nem nada.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora