eu estou um pouco atrasado

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Minha cabeça dói. Oh, meu Deus, como minha cabeça dói... Se eu soubesse que iria ser assim, provavelmente teria dado um basta na quantidade de rodadas que o Joel estava a pedir incessantemente. E agora que estou sentindo dor e planejo tomar uma sopa de ressaca num desses restaurantes de bairro, encaro o relógio digital sobre a bancada e quase surto com o fato de ser extremamente tarde para o compromisso que tenho hoje e que talvez meu subconsciente interpretou minha falta de vontade de ir com um "não haverá mais" - já que não tem explicação para eu não ter acordado antes. E eu também fui burro em não programar o despertador. Maravilha, Josh, continue assim...

Checo as duas ligações do Lamar que perdi. Mas é claro que perdi. Estive dormindo e, enquanto isso, ele me mandava mil mensagens perguntando onde estou e se fui sequestrado e assassinado num beco da cidade. Às vezes Lamar me assusta um pouco, mas apenas respondo que estou à caminho. Nem espero sua resposta; me arremesso debaixo do chuveiro, me ensaboando rápido, e saio tão lépido que até me surpreendo com isso, ao checar o horário. Eu nunca tomei um banho tão rápido na minha vida. Talvez porque meus banhos, no mínimo, duram quinze minutos.

Pego minha bolsa, ainda arrumada com as coisas do trabalho, e saio de casa ainda ajeitando o cabelo. Se eu tivesse mais tempo, tentaria passar uma prancha ou poderia até mesmo lavá-lo. Mas, infelizmente, aqui estou eu dirigindo super focado para não atrasar mais e evitar que Krystian fique pistola comigo. Enfim, eu só pisei um pouco na bola. Não é o fim do mundo.

A cidade continua a mesma, as mesmas pessoas também. Até o céu cinzento que outrora costumava tirar-me do sério, de repente ele faz sentido para mim. Estaciono na rua seguinte, passo por uma esquina de fumantes e sou atacado com um punhado de fumaça. Meu livramento por hoje é o fato de eu sempre estar de máscara, o que claramente me ajuda em momentos como esse. Então desço a rua, empurro a porta e tiro a máscara do rosto.

- Apareceu a margarida! - exclama Krystian, descruzando as pernas e levantando-se para me cumprimentar.

- Desculpa, eu estou um pouco atrasado... - digo o óbvio. Lamar ri da minha cara, já Krystian faz um gesto para que eu sente. - Bom dia, Krys, Lamar e... Bailey, né? Oi, Bailey - sorrio simpático para ele, sentado todo largado na cadeira e com a cara no telefone.

- Ah, oi, Josh. E aí? - ele decide ser simpático também.

Eu sorrio, mas na verdade quero fugir daqui. Estou prestes a me sentar ao lado dele, mas ele acaba por me impedir prontamente. Bem, eu só não gosto de me sentar no lado da passagem de garçom.

- É que o Noah está sentado aí.

- Ah, tudo bem - e eu não entendo porque estou tão atrapalhado para mudar de cadeira. Só tem mais uma cadeira livre, então é lá mesmo onde sento. Bem próximo a de Lamar, claramente entre ele e Noah.

Sinto-me levemente tonto, então talvez devesse pedir um café quente e alguma coisa para comer. Pego o menu sobre a mesa e rolo os olhos por cada coisa, decidindo o que realmente vou pedir. Enquanto isso, eles conversam algumas futilidades que claramente não me interessam. Meu estômago chacoalha só por eu estar lendo nomes de comida, então talvez a tontura venha daí mesmo. Eu odeio sentir fome.

Fome é como dor, pois dói. Ainda que nunca faltasse comida em casa, por vezes eu passei fome quando fazia estágios na França e precisava ficar horas sem comer - porque os superiores diziam que sim, comer o que estava a produzir no restaurante seria considerado roubo -, pois o trabalho era puxado e quase não haviam pausas, ainda que de meio período. Eu sempre achei essa busca pela perfeição algo cruel, como abdicar de todas as suas dificuldades e colocar-se em situações que lhe cansam fisicamente e mentalmente para alcançar determinado objetivo. Eu não quero ter de fazer isso nunca mais, embora sempre faça.

thé et fleurs  ✰  Nosh  ❖  Now UnitedOnde histórias criam vida. Descubra agora