Capítulo 63

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Carter

Amanhã pela manhã.

Foi o que Kyle havia dito assim que pousamos em solo suíço. Outro continente, estávamos em outro continente. Ele estava incomodado com algo que eu já imaginava a resposta, a verdade.

Enzo se recusou a sair do lado dele. Minhas pálpebras se recusavam a fechar, o turbilhão de emoções fazia meu coração ribombar loucamente, só de pensar em tocar a pele macia de Violet, seus cabelos castanho-escuros, vislumbrar aqueles olhinhos idênticos aos meus..., minhas mãos suavam incessantemente.

A xícara fumegante com o líquido ônix embaçava a janela por onde eu contemplava a chuva caindo de forma lenta por sobre os telhados e veículos estacionados em suas casas.

O aroma do café penetrava minhas narinas, acalmando a confusão que estava em minha cabeça. A lua estava escondida no céu noturno, adornado por estrelas brilhantes que aparentavam estar à poucos metros de mim.

Meus pés se moveram de um lado para o outro, tentando afastar a tensão crescente e a inquietude dentro de mim. Os pensamentos barulhentos estavam abafando o silêncio do apartamento onde eu estava.

Beberiquei o café, inalando o cheiro inebriante e me acalmando naquela noite fria. Eu não suportaria esperar mais, eles estavam em algum lugar que eu desconhecia, com certeza o que se passava em minha cabeça era estúpido, mas eu precisava urgentemente fazê-lo.

Violet Mbodji Sanders.

Não consegui me conter e avancei marchando até a garagem onde a Harley de Kyle repousava. As chaves da motocicleta estavam dispostas em um pote de cerâmica azul turqueza que decorava a mesa ao lado da porta de entrada da casa. Bem, estavam.

Uma lona cobria um grande volume próximo à grande porta da garagem. Caixas de madeira e papelão eram empilhadas corretamente por ordem de tamanho, me dirigi à ponta do tecido grosso e respirei fundo antes de puxar de verdade e revelar a motocicleta preta, bem conservada e obviamente envenenada.

Ótimo.

Apertei o botão no molho de chaves que erguia a porta, montei na Harley monstruosa e liguei sem me importar com capacete. O motor delicioso cantou dentro dos meus ossos, reverberando sua melodia agressiva e feroz, acelerei quando pude ter certeza que passaria ileso pela abertura e segui para as ruas de Zermatt.

Coloque a música.

Eu a caçaria esta noite como um animal. E estava pouco me fodendo para as consequências. Graças ao meu antigo trabalho, descobrir sua localização não foi problema algum. Não me importava se Kyle descobrisse que usei seu celular para isso, meu objetivo era um, e eu conseguiria alcançá-lo esta noite.

A raiva estava me dominando, as gotas geladas de chuva açoitavam meu rosto e minhas mãos no frio noturno. Minha pele não sentia frio, não tremia com a água congelante despencando dos céus.

Uma curva que dava acesso à um beco me relembrou da noite em que resgatamos Cacau, a forma como meu ombro roçou no dela no ocorrido me arrepiou, sei o que pensava enquanto sua aproximação ficava maior.

Ela nos abandonou.

Nossas noites e manhãs sempre me pareceram extremamente reais, nossos suspiros e ofegos esgotados depois de vários rounds de insanidade completa. Sua pele reluzia com o suor que escorria por sua testa ao mesmo tempo que eu recobrava os sentidos entorpecidos e viciados em seu corpo, seu cheiro, seu gosto e todos os sons que ela fazia.

MY OTHER SIDE ♤CONCLUÍDA♤Onde histórias criam vida. Descubra agora