Capítulo 16

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Isabelle

Estávamos na sala assistindo um noticiário, ou ao menos fingindo que estávamos assistindo.

Notei uma presença peluda e cambaleante entrando na sala. Assobiei para chamá-lo mas ele se chocou contra o sofá e caiu tonto.

Me apressei em pegá-lo nas mãos e inspirar seu cheirinho. Ele estava atordoado e lambeu minhas bochechas.

-- Você está com sono? -- Carter fez uma voz fina e levantou do sofá e se jogou no chão ao nosso lado.

Cacau se espreguiçou em minha barriga e olhou para o homem deitado ao meu lado.

-- Aposta quanto que ele dorme em cinco minutos? -- perguntou e estendeu a mão para fazer carinho no filhote.

-- Não aposto, tenho certeza. -- ri baixinho e fiz o mesmo.

Meus dedos deslizaram por seu pelo macio, encontrando os dedos grossos de Carter e sentindo aquele choque novamente.

-- Você não é tão desagradável. -- soltei acariciando os pêlos do pequeno.

-- Você também não, quando não me ameaça com as facas da minha cozinha, ou com fogo, ou com socos, ou com sua arma. -- riu e revirei os olhos.

Sua risada era engraçada, mas, de repente ele ficou sério e senti seu olhar sobre meu rosto. Seus dedos dançavam sobre Cacau, até que perguntou:

-- Como você está lidando com aquele comentário? -- sua voz soou baixa -- Você está bem?

-- Não sei, de verdade. -- ficamos em silêncio por um tempo, ele parecia disposto a ouvir -- Como é acordar sabendo que não será atacado com ódio por causa da sua cor?

-- Nunca pensei por esse ângulo.

-- Deve ser maravilhoso. -- sorri fracamente -- Eu só queria... -- vacilei -- Eu gostaria de acordar um dia e ter a certeza de que não seria julgada pela cor da minha pele. E não digo isso querendo ser branca, amo a minha cor e tenho orgulho da história de resistência e resiliência que ela carrega, mas, nosso sangue é da mesma cor e mesmo se fosse diferente, não teriam o direito de nos julgar. Eu queria um mundo melhor.

-- Eu te ajudo... -- franzi o cenho -- a lutar por um mundo melhor. -- seu polegar acariciou as costas de minha mão. Meus olhos encontraram os seus, aquele arrepio novamente percorreu os meus sentidos e o meu corpo inteiro.

-- Obrigada. -- sussurrei e fechei os olhos -- O que aconteceu entre você e a Ellie? -- perguntei e ele soltou uma risada baixa.

-- Éramos noivos, éramos parceiros, e éramos um trio. Eu, a Ellie e o Adam. -- disse tranquilamente, mas consegui detectar uma leve amargura em seu tom.

-- Eram um trisal? -- perguntei ainda sentindo seu toque.

-- Não. Éramos melhores amigos. Eu sempre fui amigo de Adam, nos conhecemos no ensino médio, fomos para a faculdade e conheci Ellie. Éramos inseparáveis e eu me apaixonei perdidamente por ela, cada sentimento era compartilhado com o Adam, afinal, ele era o meu melhor amigo. A Ellie tinha alguns problemas... -- hesitou.

-- E você não vai me contar, porque é algo muito pessoal, e eu respeito. -- interrompi ao perceber sua tensão.

-- Obrigado. -- respirou fundo -- Eu nunca gostei da ideia de um casamento, acho que é necessário somente o amor, que talvez eu nem acredite mais. -- disse amargo -- Ela sempre quis casar, e eu como um idiota apaixonado que fazia de tudo por ela, pedi. Foi uma bela festa, a mãe dela sempre foi uma mulher fantástica e gostava muito de mim, talvez ainda goste. E então, já na agência, éramos noivos, melhores amigos e amantes. -- ele parou por alguns segundos -- Em pleno natal, estava indo para casa, depois de comprar coisas que ela gostava, e que a deixavam feliz, afinal, sempre me preocupei com a sua felicidade, mas talvez fosse para suprir a falta de amor que eu tive, e eu me sentia apavorado só de pensar em perdê-la.

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