Capítulo 14: Sentimentos

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Seu corpo tombou para o lado e ele quase caiu, o movimento o fez despertar rapidamente e olhar ao redor. Logo se situou e se lembrou de que estava naquela escuridão para fazer companhia a Nyë, que estava presa naquela cela. Bilbo se levantou e sentiu a coluna reclamar, dormir sentado e naquele chão não era um dos melhores lugares para se dormir. Ultimamente ele tem dormido nos sacos de farinhas na dispensa da cozinha, eram macios e aconchegantes.

Ele esfregou o rosto ainda meio sonolento e caminhou até o córrego que cortava aquela parte e fitou seu reflexo nela, mas assim que chegou perto ele notou que havia algo errado. Não só pelo fato de sentir a mesma sensação que sentiu quando atravessavam o lago na floresta, como pelo fato de que o mesmo estava parcialmente congelado. Foi então que ele olhou ao redor e sentiu o ar frio, o chão estava frio, apesar de não estar congelado, a prisão de prata inteiro estava frio como se o inverno habitasse aquele lugar.

Bilbo correu e grudou na grade tentando enxergar algo dentro da cela, mas apenas viu Nyë deitada e enrolada no cobertor, bem encolhida. Algo dentro do pequeno se desesperou, principalmente por vê-la tão enrolada no cobertor, ela não sentia frio. Mesmo que usasse capas para se proteger, afinal a pele dela não era tão imune, mas tremer de frio. Bilbo nunca a viu fazer aquilo em doze meses de viajem.

- Nyë, fale comigo... pelo amor dos deuses – ele tremeu ao dizer.

- B-Bilbo – proferiu fraca e tremula – Estou com frio – emendou.

Ele engoliu em seco e assentiu.

- O que está sentindo a mais?

- Minha perna... – falou somente e o hobbit compreendeu.

Alguma coisa estava errada e ela estava ferida na perna, muito provavelmente.

- Vou buscar ajuda! – exclamou e em seguida se afastou das grades e saiu da prisão de prata, mas antes recolocou o anel.

E pelos corredores, ele começou a correr.

*

*

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Deitado na cama e fitando o teto de madeira, Thranduil tentava ainda lidar com os últimos acontecimentos. Sua barriga ainda doía pelo soco que Giel havia lhe dado e a boca ainda carregava o gosto nojento do chá que ele o obrigou a tomar e que o fez apagar em questão de segundos. Dormiu como nunca havia antes, apesar de elfos não fazerem isso com frequência. Sentia-se leve e oco por dentro, mas sua mente ainda rondava em torno de Nyë.

Logo se sentou e levantou-se da cama. Ainda usava a mesma roupa que usou no jantar, sua coroa estava repousada na cômoda ao lado da cama e foi completamente ignorada por ele. Ao adentrar a ante-sala de seus aposentos ele foi pego pela claridade forte e constatou que dormira mais do que o considerado normal. As cortinas estavam abertas, revelando as copas das árvores e o céu límpido e o sol do meio dia. Um longo suspiro ele deu e logo depois batidas ecoaram em sua porta, ao dar permissão avistou Feren adentrar os aposentos. Parou no meio do cômodo e aguardava por alguma ordem.

- Mandem preparar um quarto para Nyë – ordenou – E a tirem daquela cela agora mesmo – emendou.

Feren assentiu e sem dizer nada se retirou. Thranduil então caminhou em direção ao banheiro, luminárias se encontravam acesas pois o cômodo não possuía janela alguma. Havia água na banheira redonda e ao verificar a temperatura, observou que suas aias provavelmente a deixaram pronta para ele. Não as chamou, queria apreciar um banho sozinho e tentar colocar os pensamentos no lugar. E enquanto isso, foi se despindo.

Não deixaria Nyë naquela cela, só os deuses sabem o quanto foi difícil para ele lidar com a própria sentença dada, mas ele estava tão furioso pela audácia daquele anão, que ele simplesmente perdeu o pouco controle que possuía. Não tinha ideia de como encarar Nyë, não tinha ideia de como seria o casamento deles dali por diante. Ele ainda amava e sabia que ela também, e que tudo aquilo fora causado por culpa da impulsividade de Thorin.

I See FireOnde histórias criam vida. Descubra agora