Prólogo

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"Minha amada filha, escute o melhor conselho que alguém poderia lhe dar nessa vida, de mim, sua mãe, companheira e amiga... Tenha coragem... Tenha fé... E acima de tudo tenha muito amor e determinação em seu  coração... Em seu coração valente, de destemida mulher"

Alma Rey, 2004.

Ano 2005...

Martin olhava para Alma, com o coração em frangalhos, ele sabia que o que estava prestes a fazer, era mais do que errado, mas infelizmente não podia fazer nada, sendo compelido a fazer, o que certamente mataria mais um pouco de sua alma condenada. Alma estava de joelho aos seus pés, contra a sua vontade,  ela lutara bravamente, mas Martin havia levado a melhor, e agora estava com sua espada acima da cabeça dela, prestes a fazer o que não queria, mas pelas atuais circunstâncias, era obrigado a fazer. Alma se matinha serena, ela não demonstrava medo ou magoa, esperava seu destino com bravura e resignação, como uma verdadeira amazona.

- Sinto muito por isso Alma... Sinto de verdade, minha querida; diz tentando reprimir suas lágrima, enquanto escondia seu rosto, com o manto negro que usava, mais escuro do que a noite que os cercava naquele deserto quase sem vida - Mas eu não tenho nenhuma escolha quanto a isso, e agora você finalmente sabe o porquê...

- Se vai mesmo me matar, Martin, faça isso logo, de uma maldita vez; ela era tão determinada, ou até mais do que sua filha Roberta - Mas antes que me meta... Me responda, o que você fez com o Franco? Onde ele está? Pelo menos uma vez na vida me diga a maldita verdade! O que você fez com o Franco? Responde Martin?

- Eu juro que nem toquei nele - Diz ele de olhos fixos na lâmina da espada, que segurava com uma determinação ferrenha; Pluma Branca é quem está com ele, a missão de acabar com Franco, foi dada exclusivamente a ela, e não a mim, mesmo que você não acredite mais em minhas palavras, depois de tantas mentiras que te contei, essa é a única verdade tenho para você, em relação ao destino de Franco...

Não havia mais tempo para perguntas e explicações sem sentido, querendo ou não, Martin teria que cumprir as ordens dos senhores das sombras, mesmo que não não concordasse nem um pouco com elas... Com essa em questão, já que matar Alma seria o mesmo que o fim para ele, que tanto a amava, a única pessoa que era capaz de entende - ló, até nos seus dias mais sombrios, confusos e vazios.

- Ah, Alma, só Deus sabe o quanto eu não quero fazer isso; finalmente sua resistência é vencida e lágrimas finas começam a brotar de seus olhos claros, os deixando iguais a dois lagos de água cristalina - Mas infelizmente, não tenho escolha, Alma... Espero que... Deus me perdoe pelo que farei agora, por que eu nunca vou me perdoar...

Com um olhar mais do duro do que a espada que levantava, Martin mudou a cor de seus olhos, que antes eram azuis, para negros, ele parecia até outra pessoa, suas maneiras, e até mesmo a sua determinação, e pela primeira vez naquela fatídica noite, Alma sentiu medo. Um medo incomum, que parecia brotar de cada poro de sua pele, e que fazia todos os pelos de seu corpo se eriçarem, iguais os espinhos de um porco espinho, quando este se sentia acuado.  Seus cabelos, sempre tão bem arrumados, estavam desgrenhados, suados, cheios de nós, e completamente sujos de areia. Há meses estava presa naquele deserto, sem saber o que seria dela, o que Martin, que dizia a amar tanto, lhe faria, se a deixaria viver, o que era impossível, considerando a marca de Caim em seu peito... Ou se a mataria, o que era mais certo. mas mesmo com a sua vida em perigo iminente, Alma não parava de pensar em Franco, e o que Marina teria feito com ele...

....

- Te darei um castigo mil vezes pior do o que você me deu no passado, "meu amor";  Marina diz terminando de colocar uma máscara de ferro no rosto de Franco, enquanto ele estava acorrentado as paredes  de sua antiga cela, sentado no chão, sem nenhuma esperança de que pudesse ser salvo de sua vingativa ex mulher - Achei que morrer seria bom demais para você, "querido"... Então decidi te dar de presente a mesma morte em vida que você me deu, assim que nossa filha nasceu...

-  Eu precisei te trancar aqui; fala com dificuldade, por causa da máscara, que não lhe permitia respirar direito - Eu precisei te trancar aqui para que pudesse... Proteger a nossa filha... No estado em que você estava, certamente a teria matado; ela não podia ver seu rosto, além de seus olhos pelos pequenos buracos da máscara, mas pelo tom de sua voz, ela presumiu que havia uma grande insatisfação nele - Coisa que aliás, você tentou... Quando tentou matar a nossa filha afogada no banho, com apenas um dia de nascida...

- Eu tive meus motivos; dá de ombros com evidente desprezo - Mas isso não me importa mais, pois acabo de te presentear com um fim mais do que digno de você, "querido"... Não espere mais nada de mim, pois isso é muito mais do que você merece, Franco Colluci...

...

Os seis jovens da famosa profecia de Azrazel, viviam um grande dilema, talvez o maior de suas vidas, até então, eles não sabiam em quem confiar ou acreditar, só tinham uns aos outros, o que muitas maneiras inimagináveis chegava a ser reconfortante, e assustador ao mesmo tempo, considerando, quão conturbada era a relação entre alguns deles, Mia e Miguel, ele não confiava nela, e ela por sua vez o odiava na mesma intensidade que o amava. Lupita estava perdida em seus próprios pensamentos e sonhos, Giovani, agia como se estivesse numa colônia de férias, já Diego e Roberta, esses dois estavam mais unidos do que nunca, apesar de ainda estarem presos. Mas  há exatos três meses, Roberta andava mais cansada que o normal, fora que ela mal controlava suas visões que iam vinha numa velocidade, que sinceramente a preocupava de muitas maneiras. Ela e Diego estão mais uma vez na enfermaria, ele fazia um curativo na testa dela, num dos muitos ferimentos que ela adquiriu com suas convulsões, que eram consequencias de suas visões, cada vez mais frequentes.

- Esse ferimento até que foi leve, se formos compara -ló aos anteriores; diz Diego limpando o ferimento dela, com carinho - Essas suas visões, Roberta, não era para elas estarem tão fortes e frequentes, desse jeito... Isso me preocupa... Me preocupa muito, na verdade...

- Não deve ser nada; mente para não preocupa -ló, e mais uma vez bancar a durona, como estava acostumada a ser, como fora ensinada pela sua mãe - Deve ser apenas a evolução dos meus poderes - Ela sabia muito bem, que era algo além disso, mas preferiu continuar com a mentira, já que nem mesmo ela sabia, o que de fato, estava interferindo em seus poderes - É... Não deve ser nada, além disso, Diego...

- Pelo bem de nós todos, eu espero mesmo, que seja apenas isso, Roberta...

...

Ja começava a amanhecer naquele deserto, onde tudo começara, como ponto de partida, desta estória, os raios de sol de um novo dia que, estava apenas, a começar, iluminavam aquela cena de puro horror. Alma estava mais do que perdida, seus pés e mãos estavam atados, literalmente, Martin iria mesmo mata - lá, dava para sentir em seus olhos negros, frios, distantes, praticamente vazios e desprovidos de emoção, era o seu fim, e nada, nem ninguém poderia salva - lá naquele momento de pura tensão, ou pelo menos era no que ela acreditava piamente... Até que ouviu o trote de um cavalo selvagem e um grito de guerra, seus olhos estavam fechados, esperando a lâmina descer sobre o seu pescoço, algo que naturalmente não aconteceu. Ao abrir os olhos, Ama percebeu que Martin estava desacordado no chão, e ao seu lado, o que parecia ser uma jovem, coberta por um manto branco, que lhe cobria o rosto e o corpo, montada em um cavalo negro, com uma mancha branca em formato de estrela, na testa  com as patas dianteiras levantadas bem acima da cabeça de Martin, havia fúria nos olhos vermelhos daquele animal, que parecia tão selvagem quanto a sua dona

- Quem é você? E por que salvou minha vida?  - a jovem misteriosa nada responde, apenas sussurra algo estranho no ouvido esquerdo do animal, algo que o acalma e o faz se agachar, para que ela descesse, algo que a sua misteriosa salvadora faz a seguir, com graça e elegância, ela era tão familiar e estranha ao mesmo tempo, seus modos, seu jeito de andar, sua graça rebelde, tudo lhe parecia... De muitas maneiras, familiar e misterioso, nela, naquela garota esquisita e ao mesmo tempo tao corajosa, e peculiar em suas atitudes;  por que não me responde? O Martin está morto? Você o matou? E é por isso que não quer me responder? - A jovem apenas se aproximou de Alma, sem nada dizer, pegou uma adaga, que por alguns instantes ficaram acima da cabeça dela, até que sua salvadora cortou as cordas que a prendiam, antes que Alma se levantasse do chão, apeou o seu cavalo, o montando em seguida, de modo rápido e gracioso, e sumiu tão rapidamente, quanto surgiu, e sem deixar rastros - Ainda vou descobrir quem é você, nem que essa, seja a última coisa que eu faça na vida, ou então não me chamo Alma Maria Rey Gómez...

Dias nublados de um futuro perdido... Onde histórias criam vida. Descubra agora