Capítulo 15

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Durante o almoço, o clima estava um pouco estranho. Juliette sentiu que o assunto em que tinha tocado era desconfortável para Sarah. As duas estavam sentadas uma do lado da outra no balcão, comendo o risotto, mas praticamente não trocavam nenhuma conversa.

Depois de alguns minutos naquela tensão, Juliette resolveu quebrar o silêncio:

- Ei... - ela disse, fazendo com que Sarah olhasse pra ela - Eu disse algo que não devia?

A loira ficou encarando Juliette por alguns segundos e depois desviou os olhos para o prato quase vazio

- Não... Fica tranquila, eu só... - a loira suspirou - Eu só não gosto de falar muito sobre meu passado... Só isso - Sarah disse com um sorriso triste

- Entendi... - Juliette disse remexendo a comida no prato

- Mas você tá morrendo de curiosidade, não é?

- Tô! - Juliette praticamente interrompeu Sarah e as duas riram - Mas eu entendo, de verdade... É assunto seu...

- O que você quer saber? - a loira perguntou tranquila, olhando para a advogada e recebeu uma expressão de surpresa em resposta.

- Como assim? Qualquer coisa? - Juliette perguntou e Sarah sorriu afirmando

- Eu já falei que não minto pra você... - a publicitária respondeu

- Onde você nasceu? - a morena perguntou

- Cristalina... É uma das cidades vizinhas daqui de Brasília. Nasci e vivi lá até os meus dez anos... - Sarah fez uma pausa olhando o vazio e respirou fundo - Depois fui pra Goiânia, onde eu conheci o Rodolffo na faculdade e depois fomos pra Brasília pra cuidar da Matthaus.

- E seus pais ainda moram lá em Cristalina? - a advogada perguntou tranquilamente mas logo se arrependeu.

Sarah ficou encarando Juliette com uma expressão indecifrável, mas a morena percebeu que a mulher empalideceu na mesma hora e seu corpo se enrijeceu. A loira desviou o olhar e apertou os punhos, engolindo em seco.

- Sarah se você não quiser respond...

- Não... Eu falo - a loira disse decidida e olhou Juliette com um olhar triste que a morena nunca tinha visto em seu rosto - A minha mãe morreu quando eu tinha dez anos, Juliette...

A advogada prendeu a respiração se sentindo super sem graça. Pela primeira vez estava vendo Sarah claramente emocionada com um assunto. Sua expressão mostrava uma mágoa gigante com aquilo, tão grande que a morena nem se atreveria a perguntar como a mãe da loira tinha falecido.

- Eu sinto muito, eu não queria...

- Fica tranquila... - a loira olhou pra ela e deu um sorriso triste - E bom o meu pai... Eu nem sei se ta vivo. Ele desapareceu na mesma época...

Juliette arregalou os olhos surpresa:

- Pera que? - a morena indagou - Você foi abandonada pelo seu pai quando sua mãe morreu?

Sarah demorou um pouco pra responder. Desviou o olhar suspirando e começou a descascar o esmalte do polegar em um sinal de nervosismo:

- É mais ou menos por aí... - Sarah disse num tom amargurado - Ele era viciado em drogas. Se perdeu completamente.

A loira olhava o vazio e seu rosto denunciava que aquilo era um ponto muito frágil da sua história. Juliette sentiu uma enorme vontade de abraçá-la. Mas quando Sarah olhou para cima, como se estivesse evitando chorar, e suspirou, a morena achou melhor não fazer nada.

A morena começou a entender o porquê do bloqueio de Sarah com sua vida antes de se casar.

- Quando eu te disse que fui pra Goiânia com dez anos, foi porque eu fui mandada pra um orfanato lá. - Sarah explicou e Juliette franziu o cenho

- Orfanato? Não tinha nenhum parente pra cuidar de você? - a morena perguntou e Sarah negou.

- Nenhum... A gente não tinha contato com ninguém. E como éramos muito pobres nem ligaram muito pra procurar algum familiar... - a loira suspirou e continuou - Eu cresci lá, nunca fui adotada... Com dezoito anos fui liberada, estudei bastante e consegui entrar na UFG em publicidade. - Sarah disse e Juliette sorriu

- Aposto que nem foi tanto assim... Tua inteligência é algo admirável! - a morena a elogiou e recebeu uma resposta inédita.

Sarah encolheu os ombros e corou sorrindo. Pela primeira vez Juliette tinha a certeza de que um momento entre elas estava sendo completamente sincero. Até ali, ela sentia que essa tinha sido a única conversa onde a loira estava sem nenhuma barreira.

A publicitária mordeu o lábio olhando o prato e deu uma batidinha na mesa:

- Bom, mas... Acabou a entrevista? - Sarah perguntou de forma bem humorada e Juliette riu assentindo - Bora trabalhar, doutora?

- Vamos... Eu te ajudo com a louça! - a morena disse já se levantando e pegando seu prato, talheres e copo e indo até a pia

- Não, Juliette você é minha convidada! - Sarah disse indo na mesma direção e correndo pra chegar antes dela.

As duas riram quando a loira passou apressada pelo lado de Juliette e lhe empurrou com o quadril para tirá-la da frente da pia. A morena ficou do lado da publicitária a olhando e sorrindo:

- Acho que eu já sou mais que uma mera convidada, né? - Juliette disse colocando as louças na pia do lado da maior.

Sarah virou o rosto e deu uma piscadinha para a morena que fez as duas sorrirem em um clima muito descontraído.

Ainda a observando ensaboar os pratos, Juliette se aproximou e sussurrou:

- Ei... - a morena chamou e Sarah virou o rosto para olhá-la de novo - Obrigada por ter sido tão verdadeira comigo, agora...

Juliette levou uma mão para a bochecha da loira e fez um leve carinho. O olhar de Sarah era de total cumplicidade com a morena, mas ao mesmo tempo seu coração batia com uma espécie de medo daquilo tudo.

Sarah se inclinou e colou seus lábios nos de Juliette, a beijando suavemente e depois a encarou de novo para repetir o que tinha falado minutos atrás:

- Eu nunca minto pra você!


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Curtinho mas é pra preparar vocês pro tombo 👀

Jogo Perigoso | SarietteOnde histórias criam vida. Descubra agora