33 - Narcisos

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Antigamente

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Antigamente

Debruçado sob as águas paradas de uma lagoa, onde uma pequena cascata encontrava seu pouso, estava Óscar, um grande apreciador de sua própria beleza. Por vezes ouvia a bruxa de sua madrinha avisá-lo que não era bom contemplar-se com tanto fervor, mas ele não ligava para as palavras dela. Óscar sabia que era bonito e que teria o mundo a seus pés graças a isso. Ele era o maior fã de si mesmo. E adorava apreciar-se por isso.

As águas límpidas retornavam o seu reflexo bonito. Óscar estava demasiado concentrado em si mesmo para puder perceber que alguém o espiava. A curiosidade clamava pela criatura, incapaz de ceder à tentação de apreciar um humano refletido em suas águas. Ele fazia isso quase todos os dias de maneira ensadecida, nos mesmos horários. Ele preferia as horas em que a luz brilhava mais, mas isso não o impedia de voltar também à noite para se olhar iluminado pela luz da lua. Ele era muito jovem para gostar se contemplar por tanto tempo. Deveria estar correndo, fazendo outras coisas da vida, mas ía para ali, contemplar-se infinitamente, pensando em qual seria a melhor maneira de usar a sua beleza em proveito próprio. Os seus pais não iriam permitir que ele não ganhasse dinheiro. A família tinha posses, mas não eram ricos e ele fugira da tropa há dois mêses, para desilusão de seu pai. Não queria morrer ou ter um acidente, porque uma das coisas que mais temia era a morte.

A criatura que o espiava, certo dia ousou sair da água e se sentar num rocha olhando para ele. Nunca havia visto um humano tão bonito e ela já vira muitos. Às vezes apareciam, despiam-se e banhavam-se ali, no seu lar. Aquele não. Ele apenas olhava o seu lindo reflexo. E era tão focado em si mesmo, que nem se apercebera que desde que aparecia por ali, aos poucos e poucos vinham surgindo umas flores amarelas de pétalas brancas bem na beira da lagoa, onde a água alcançava a terra.

Ela o olhava já há um longo tempo, exposta sob a luz do sol, porém Óscar não a via. Fingiu uma tossidela, ainda assim ele não olhou.

- Ó em casa! - chamou a criatura.

Só então Óscar ergueu o rosto e a viu. Ela era linda, quase tão linda quanto ele, pensou.

- Quem és tu? - perguntou Óscar, ligeiramente chateado por ter seus pensamentos interrompidos.

- Sou a filha dessas águas...

- Como é que é?

Ela não deveria dizer aquilo, mas a verdade é que nunca ninguém a alertara sobre a maldade humana e sua imprevisibilidade, ainda assim, ela já conhecia Óscar há um tempo e não lhe sentia maldade, apenas paixão. A paixão que ele tinha por si mesmo. Com o tempo ela passou a desejar que ele se apaixonasse assim por si. Era tão intenso!

- Sou o que os humanos chamam de ninfa.

- Mas tu tens pés - disse Óscar, encarando o corpo dela com descaramento. Ela não vestia quase nada. Nunca tinha visto uma mulher com tanta pele à mostra. A sua madrinha chamava mulheres assim de... como é que era? Rameiras - És uma rameira.

Dom de Fogo (Completo) Finalista Wattys 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora