28 - Álbum de fotografias

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Actualmente

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Actualmente

Há muito tempo que não se sentia aprisionado, por isso esquecera-se da sensação. Até então. Percebera que se fazer passar por um gato domesticado fôra um enorme erro. Estela fechara-o dentro de casa. A sua liberdade tinha sido arrancada de si.

Quando Estela chegou a casa, Ernesto tentou uma manobra de correr pela porta, mas ela conseguira freiar sua corrida rumo à liberdade. Ele preferia o frio daquela noite de inverno, que o calor de uma casa gelada. O gelo do coração de Estela se incrustava nas paredes brancas, fazendo daquele um ambiente prisional, onde a ex-presidiária era desta vez a cárcere.

Miou implorando a rua, o espaço infinito fora daquelas paredes, mas Estela não deixou. Tinha medo que ele partisse e nunca mais voltasse. Queria ele para sempre ao pé de si.

Ernesto tinha ali uma bota muito difícil de descalçar. Talvez o ideial fosse transformar-se num animal mais pequeno, mas como sempre ouvira dizer, é pior o soneto que a emenda, e isso podia correr-lhe muito mal, pois podia acabar morto e ele não fazia intenções de desperdiçar a sua vida.

Estela não chegara muito feliz. Alguma coisa devia ter saído dos trilhos. Adorava saber o que era. Saltou para o colo dela quando ela se sentou para tirar os sapatos, mas rapidamente foi enxutado e insultado. "Afinal, para que é que ela me quer aqui se me trata mal?"; pensou. Estar na pele de um gato, não o tornava menos perceptivo, a sua mente viajou bem no passado até à sua infância. Na altura ela também gostava de o ter por perto, para se sentir superior, para poder humilhá-lo e servir-se dele como o bode expiatório de serviço. Era isso que ela estava fazendo novamente. Ela tinha encontrado um animal para se servir de suprimento, para se sentir a poderosa da situação. Sentiu-se mais encurralado que nunca. Afinal, qual tinha sido o objetivo dele? Era ver se ela mudara? Era constatar que pau que nasce torto nunca se endireita? Era confirmar que ela era o monstro que ele se lembrava? Se o arrependimento matasse...

O telemóvel de Estela tocou e ela colocou no altifalante para puder tirar a roupa ao mesmo tempo. Ernesto virou-se. Não fazia intenções de ver o bom estado do corpo de sua irmã mais nova.

Do outro lado ouvia uma voz doce, fina e calma. Estela era ligeiramente simpática com ela. Depois de alguma troca de palavras, Ernesto percebeu que se tratava de Lavínia e ela estava informando a mãe que iria almoçar o dia seguinte com a irmã. Estela não deu muita atenção ao assunto. Era-lhe indiferente, mas não queria que Lavínia pensasse mal de si. Ernesto pôde perceber que a opinião positiva da filha mais nova era fundamental para Estela. Definitivamente ela queria que quem a rodeasse pensasse bem de si.

Ernesto ficou com ainda mais vontade de sair daquela casa. Nunca tinha conhecido a sobrinha mais nova. Embora fosse filha de sua irmã diabólica, era do seu sangue. A curiosidade o tomava. Ele gostara de Melinda, provavelmente Lavínia também era boa pessoa, diferente de sua mãe narcisista, que era incapaz de amar.

Dom de Fogo (Completo) Finalista Wattys 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora