7 - Em sonhos e pensamentos

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Antes

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Antes

Por fora uma adolescente normal, por dentro a urgência de controlar um poder saindo de seu controle.

Sara entrou pela porta das urgências, mochila às costas, mas carregando em si muito mais que material escolar.

A sua bagagem nunca fôra tão pesada. Havia algo no ar. Algo potencializara aquilo que ela sempre soube ter em si, assim como Sílvia, sua irmã gêmea tinha. Mas porquê? O que estava acontecendo consigo? Nunca tinha alcançado esse tipo de proporções.

- Ouça, é urgente - disse para a secretária medical que lhe pediu os documentos - Preciso de um antipirético, talvez mais.

- O seu médico não está de serviço hoje no hospital - informou a mulher.

- Quer dizer o Dr. Condessa? Ainda bem. Ele só me receita placebo. Eu não sou hipocondríaca. Placebo não vai fazer nada, porque eu sei muito bem a minha condição. Ouça, eu preciso de antipiréticos.

A secretária olhou a adolescente desconfiada. Chamou uma enfermeira para falar com Sara.

Sara conheceu a mulher de farda branca à sua frente. Aquela enfermeira era super simpática, mas não acreditava em si, mesmo depois de a ter advertido, de lhe ter confiado o que era capaz de fazer. Ainda que a enfermeira fingisse acreditar, Sara sabia super bem que ela não acreditava, ela apenas era gentil, incrivelmente e genuinamente gentil e ainda assim céptica.

- Oi, Sara - cumprimentou-a, convidando-a a entrar num gabinete vazio - Não devias estar nas aulas?

- É, eu devia, mas aconteceu algo estranho no autocarro, então eu vim directamente para aqui.

- O que se passou no autocarro, minha querida? A tua irmã não estava contigo?

Sara inspirou e prosseguiu.

- Não, a Sílvia ficou em casa. Está indisposta. Já lhe falei que ela é capaz de perceptar os pensamentos dos outros?

- Perceptar - repetiu a enfermeira - Uma palavra e tanto para uma adolescente.

- É que eu leio muito - Sara explicou. Não que precisasse, a enfermeira sabia disso. Aliás, ela se convencera com o tempo que aquelas histórias de Sara eram encorajadas pela leitura. Não que ela fosse contra, ela mesma achava a leitura um hábito super saudável, mas no caso de Sara, a leitura se tornara sua inimiga, dada a imaginação sem limites - Hoje ela estava a perceptar os pensamentos com mais força, num maior alcançe, creio eu, não se sentiu capaz de ir à escola. Eu estava indo sozinha. Apanhei o autocarro perto de minha casa. Estava a ler um livro, então...

- O quê? O que é que aconteceu?

- As pessoas pareciam estar a adoecer à minha volta. Fiz o motorista abrir as portas num semáforo vermelho, corri para o hospital e então eu me senti muito quente. Eu preciso de um antipirético. Isso vai fazer com que as outras pessoas não sofram.

Dom de Fogo (Completo) Finalista Wattys 2021Onde histórias criam vida. Descubra agora