Procurando respostas pt1

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Dizem que arrumar as coisas colocam os problemas nos lugares e clareia as ideias. Sozinho dentro do caos do meu lar eu estranhamente me senti confortável, todos aqueles destroços, restos de coisas fora do lugar, expressavam como eu estava por dentro. Era como visualizar o desconcerto em que tinha me tornado, um quebra cabeça difícil de encaixar as peças. Quase que uma charada sem solução.

Andei pelos espaços que soavam familiares tocando suas texturas, sentindo os cheiros que ali habitavam, percebendo as formas que cada cômodo tinha. Redescobrindo meu próprio lugar. Um momento íntimo que eu precisava ter desde o momento em que acordei naquele hospital. Estabelecer uma reconexão. E a cada passo uma informação singela, uma imagem perdida e borrada, uma lembrança insignificante, mas tão necessária e preciosa emergia. Cada pequena coisa era algo que ajudava a erguer os alicerces do meu eu novamente.

Enquanto me revisitava ao andar pela casa, desviando das coisas jogadas ao chão, fui sentindo aquela solidão cruel que me lembrava da condição que me encontrava. Como tinha chegado naquela situação? Começava a questionar tudo o que eu já tinha em mãos e perceber o quanto tudo era perigoso, como tudo parecia distante de coisas que realmente me envolveria. Eu estava com medo. Era isso, o receio daquilo que não consigo ver, do que não consigo lembrar, a cautela sobre os perigos direcionados a mim. Puro, simples e primitivo medo.

E a pior sensação de todas é a de não pertencimento. A sensação de não se encaixar, do não reconhecer. E isso trás a desconfiança, trás os muros que você é obrigado a erguer em volta de si mesmo para se proteger, para sobreviver. Para resistir. E como isso se torna doloroso e cruel.

Mas mesmo com todos esses pensamentos decidi que não seria um protagonista fraco, que não deixaria ninguém fazer o que bem entendessem comigo. Lutaria para conseguir as rédeas da minha vida novamente. Os fatos estavam dados, e nem que eu tivesse que recriar os passos já dado por mim outra vez eu iria solucionar tudo de novo. Eu seria o Hendery novamente.

O primeiro passo seria pôr tudo de volta no lugar, ou melhor, em novos lugares. O sono não viria mesmo, depois de ouvir aquela voz eu não conseguiria dormir bem, Lucas tinha levado o celular para perícia e também tinha acionado a polícia local para que fizessem ronda na rua evitando qualquer chance de alguém tentar invadir novamente a casa. Então com a disposição ansiosa que tinha surgido acabei virando a madrugada limpando o caos que meu lar se encontrava. Varrendo os chãos, jogando fora as coisas quebradas, procurando coisas potencialmente importantes, achando pistas das minhas memórias, reorganizando a existência do meu ser.

Naveguei na noite calma reencontrando os símbolos do meu passado e pondo tudo em seu lugar. Notei que era um grande fã de rock quando eu pus em ordem discografias e mais discografias de bandas do estilo. Tanto que o álbum All The Right Reasons do Nickelback foi a trilha sonora de toda a faxina. Eu sabia as letras de cor.

Parecia até uma grande ironia de toda aquela situação a música Savin' Me, por diversas vezes trazer à mente um certo policial. O solo inicial do violão trazia uma sensação de mistério e esperança que concretizava a imagem da sua face em minha mente, e quando a guitarra, o baixo e a bateria davam continuidade um calor me tomava que se aproximava de um sentimento forte e bom, que ainda não conseguia definir o que era.

Show me what it's like

To be the last one standing

And teach me wrong from right

And I'll show you what I can be

Say it for me

Say it to me

And I'll leave this life behind me

Say it if it's worth saving me

Mostre-me como é

Afraid - Medo InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora