Um hiato antes do jogo

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As últimas revelações afetaram-me profundamente. Naquela noite eu não consegui dormir direito, as palavras de Yuta ecoavam dentro de cada cômodo da minha mente como uma exigência, uma espera ansiosa diante de alguma decisão minha, como se eu precisasse rapidamente resolver aquele mistério: quem estava nos ameaçando, nos perseguindo... nos matando? E por que estava fazendo isso conosco?

As únicas coisas que eu tinha eram imagens soltas, informações desmembradas que custavam a se ligar numa lógica concentrada e coesa. Vendo aquele amplo panorama, a verdade era que só existia um enorme caos.

Mergulhado na carta de Yuta, tentando resgatar das profundezas de minha memória alguma informação sobre aquelas fotografias e relacionando cada pista que eu tinha até o momento, eu fui levado, sem perceber, para um completo vazio sem cor chamado inconsciente.

Quando a desorientação tomou-me por completo tirando de mim as noções de tempo e de espaço, de abstração e materialidade, eu me vi diante daquelas imagens fotográficas. Eu entrava dentro de seus universos, escutava a música que tocava nos exatos momentos do clique da câmera, eu subvertia a própria lógica da imagem recriando aquele momento eternizado que nunca mais poderia ser acessado. Sentia os cheiros de álcool e dos perfumes caros, sentia as texturas e a temperatura do lugar. Mas existia um vazio que impossibilitava o acesso à pessoa que eu tanto queria descobrir quem era. Aquela experiência era uma amostra grátis, que se desfez em segundos, ou horas, nunca saberei, pois os sonhos possuem uma lógica própria. Quando fui recriado novamente, encontrava-me diante do bar, conversava com alguém, mas não conseguia ver seu rosto, o espaço pertencente a si, estava recortado abrindo espaço para uma outra dimensão. Aquela pessoa me contava coisas, falava em códigos, conversávamos por meio de símbolos para que ninguém percebesse nada.

Percebi que eu me observava como um espectador onipresente, olhei-me atentamente e percebi o tamanho de minha preocupação. Uma sensação de ligação forte me preenchia enquanto eu me observava conversar com aquele espaço vazio, incognito. Éramos amigos? Aquela figura parecia depender de mim, parecia apostar toda sua fé em mim e eu era totalmente recíproco a si. Aquela cena derreteu enquanto imagem, se reformulou e virou outra coisa. Virou um beco, um beco em um dia de chuva que exalava um forte cheiro de mofo, um beco de uma rua conhecida por mim. A figura anônima me pedia ajuda e eu a abraçava. Novamente a cena se dissolveu, a figura brincava com Kun, ria com Lisa, tirava fotos com Yuta, implicava com Xiumin e todas essas cenas se camuflavam antagônicas com a imagem do beco. Em um momento eu não sabia mais discernir se a figura misteriosa pedia ajuda pra mim, ou para meus outros amigos. E quando mais nada fez sentido, sobrou apenas a silhueta daquele que parecia nunca se mostrar e ao seu lado estavam Mark, Jisung e Renjun. Todos enfileirados subindo as escadas do Sonlux e o Hendery assistia a tudo aquilo e repentinamente virou-se para mim quebrando a quarta parede de seu próprio sonho, do andar de cima onde os meninos tinham subido uma voz me chamava: Dery, Dery... Cada vez mais intensa e próxima: Dery, Dery... E com ela a dor no núcleo do meu ser se materializava: Dery, Dery... Mais forte a dor, mais forte o chamado: Dery... E quando a voz que me evocava quase se fazia insuportável em minha mente, a dor rompeu o sonho e me despertou... Dery...

Totalmente ofegante e suado me levantei daquela cama. Desejava sair imediatamente para achar Yangyang, perguntar das coisas que somente ele saberia me falar. Queria achar o paradeiro de Mark, Jisung e Renjun e protegê-los de Tae. Descobrir onde Kun e Jaehyun estavam. Eram tantas coisas para minha cabeça. Tantas coisas e minha insuficiência frustração.

Contudo, faria como recomendado por Lucas, manteria a calma e deixaria ele resolver tudo isso. Nesse exato momento o agente e sua equipe estavam localizando Mark, Jisung e Renjun, e buscando Tae, que já tinha sumido do mapa e pelo o que o agente disse Sehun e Siwon estavam dando amparo para que ele não fosse preso diante de todas as provas existentes. Achar Tae seria o sinônimo de achar os garotos e com isso salvá-los.

Afraid - Medo InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora