Afraid - Medo Invisível

Organizando as Lembranças

Ouvir o coração de Kun batendo através do aparelho ao lado de sua cama era bom de uma forma contraditoriamente estranha. Tirando o fato de que ele estava em um leito de hospital, o mesmo em que acordei semanas atrás, e que ele ainda não tinha se recuperado totalmente da toxina que o colocou em um estado quase de coma. Desprezando a experiência de quase morte que tivemos ontem, esquecendo que tem alguém lá fora que deseja acabar com nossas vidas e que coisas inacreditáveis vem ocorrendo conosco, tirando tudo isso e apesar disso tudo era bom vê-lo vivo.

Os raios de sol que invadiam o espaço através da janela iluminavam bem o quarto proporcionando uma atmosfera agradável, fazia parecer que aquilo não era tão perigoso como era na realidade. A luz limpa de temperatura quente chegava difusa do outro lado onde estava Jaehyun que, igualmente a Kun, estava dormindo como uma figura angelical. Seu corpo estava cheio de hematomas e aparentemente era mais sensível à substância forçada em suas vias sanguíneas, o que lhe causou uma palidez mórbida e um aspecto mais sôfrego que a do seu companheiro ao lado.

Minhas mãos, desde o momento em que cheguei para visitá-los, não desgrudaram de nenhum dos dois. Elas sentiam a quentura de suas peles enquanto acariciava-os lentamente como uma performance comunicativa que somente nós, amigos, conseguiam se comunicar. A verdade era que me encontrava aliviado de saber que no fim, tudo acabou bem, e minha sensação de culpa foi diminuída tendo em vista que eu estava desconfiando de ambos e principalmente de Kun como possíveis pessoas a serem o assassino.

No entanto, agora tudo parecia mais estreito e complicado, parecia haver poucos suspeitos para ser a figura encapuzada. Na morte de Yuta, Winwin estava desacordado no andar superior, Yangyang, Kun e Jaehyun foram sequestrados pelo próprio assassino e Taeyong e Chanyeol mortos. Aparentemente sobravam apenas Siwon e Sehun, porém haviam muitas pontas soltas que dificultavam afirmar isso com total certeza.

Meu suspiro saiu mais uma vez carregado de desapontamento. A sensação de incapacidade retornava cada vez mais forte e eu, como sempre, não conseguia saber o que fazer.

Minha cabeça ainda latejava devido a todo estresse gerado na noite passada, a sensação de ter a memória novamente não era como imaginei. Parecia que eu só tinha aberto a porta das minhas lembranças novamente, que tinha achado a chave perdida apenas, mas precisaria abrir cada arquivo aos poucos e lê-los todos outra vez para que assim eu me recordasse. Achei erroneamente que tudo voltaria para o lugar como mágica, que o sentido das coisas seria estabelecido automaticamente, mas pelo visto, meu cérebro não é tão perfeito assim, ou na verdade eu era ingênuo demais para pensar que tudo seria fácil a partir do momento em que eu me deparasse com respostas. A lição que eu aprendi era que as respostas não estavam no passado e sim num futuro que estava custando muito a virar meu presente.

As batidas na porta foram delicadas e quase inaudíveis, mas me despertaram para virar e receber a advertência de alguma enfermeira pelo meu excesso de tempo no horário de visita. Mas na verdade, em surpresa, apareceu um Johnny adentrando o quarto com uma expressão ansiosa e muito preocupada. Seus olhos buscaram Jaehyun de imediato e achei aquela necessidade tão explícita a coisa mais preciosa e linda daquela manhã.

Johnny, como afirmado pelo próprio Jae, era apaixonado pelo o mesmo. E ninguém precisava saber disso previamente para perceber, bastava assistir aquilo que eu via com meus próprios olhos. Aquele rapaz de mais de um metro e oitenta que exalava confiança e certa arrogância, encontrava-se vulnerável e extremamente preocupado, gravando em seus olhos aquele que considerava ser a pessoa mais preciosa no seu infinito particular.

— Disseram que ele vai acordar em breve. - Afirmei tentando tranquilizar o americano.

— Obrigado por avisar ao grupo que ele estava aqui e estava bem. - Johnny pigarreou. - Eles na verdade, Kun também está bem, ainda bem, não é?