Encontrando o passado

32 6 2
                                    

Encontrava-me sentado em uma cadeira próxima a parede observando a movimentação de policiais e peritos indo de um lado a outro, tirando fotos, apontando para coisas no chão, no corredor, anotando evidências, articulando hipóteses... Eu estava completamente exausto. Depois de relatar pela terceira vez tudo o que tinha acontecido ao terceiro oficial diferente e ser examinado pela milésima vez pelos médicos e enfermeiros, eu só queria saber o que aconteceria comigo dali em diante. Afinal, aparentemente nem o próprio hospital era um lugar seguro, eu estava completamente ferrado, essa era a verdade.

Mas destoando de todos os sentimentos ruins que venho provando nos últimos momentos, o abraço de Wong Yuk Hei foi a única coisa que me deu paz e segurança. Era como se eu ainda conseguisse sentir-me envolto pelo seu calor, ouvi-lo dizer baixo ao pé do meu ouvido que tudo estava bem agora, que ele estava me protegendo e eu deveria manter a calma. Ainda sentia o seu toque leve sobre minhas costas querendo me acalmar, eu pude me sentir seguro, protegido e salvo.

O fato é que pela segunda vez em um curto período de tempo tentaram me assassinar. E a figura encapuzada com o pedaço de lâmina nas mãos foi corajosa o suficiente para vir até o hospital para terminar o serviço. Quando o vi no corredor, minha mente instantaneamente recordou-se de sua imagem. Era a mesma pessoa que me perseguiu da última vez, e eu não me encontrava seguro em nenhum lugar.

Enquanto mil coisas passavam em minha mente, no lado de fora do corredor eu podia observar Wong Yuk Hei e o Xiaojun discutirem sobre mim:

— Você precisa dar alta pra ele, esse lugar não é mais seguro Xiao! - O policial passava as mãos nos fios, que pela primeira vez, estavam desalinhados.

—Ele não estará seguro em nenhum lugar Yukhei! - O médico parecia muito aborrecido e não parava de dar passos circulares. - Você não pode protegê-lo 24hs por dia!

—Posso sim! E eu vou se for necessário. - Disse confiante sem exitar o olhar ao médico.

—Não, Lucas!

—Você sabe o quanto tudo isso é importante pra mim. - O policial tocou nos ombros do colega e aproximou-se quase em súplica suspirando. - Você é o único que sabe...

Xiaojun abaixou a cabeça e ponderou brevemente, a solicitação de Wong deve ter atingido algo muito íntimo, fazendo o médico ceder.

—Você será consumido por tudo isso Lucas, você não está agindo de maneira neutra. - Suspirou finalmente. - Tome cuidado...

Não só a nova forma de tratamento do médico com Yukhei, mas também o fato de Xiaojun saber algo de maneira exclusiva sobre o outro me deixaram extremamente curioso. Como suspeitado, algo estava acontecendo nas entrelinhas da situação que me rodeava que eu não sabia. Na realidade todos sabiam algo, menos eu, o paciente amnésico vítima de tentativas de homicídios constantes. Patético.

Depois de mais ou menos uma hora e meia, onde nesse meio tempo eu fui levado a outro quarto para comer e descansar, Wong Yuk Hei apareceu com algumas papeladas em mãos e uma bolsa tomando minha atenção ao acender a luz do espaço:

—Você está bem? - Sua pergunta fática teve apenas meu levantar de ombros como resposta. "Estar bem" era uma definição positiva demais da situação.

—Xiaojun te deu alta. Você irá para casa. - Ele colocou a bolsa sobre a mesa. - Aqui estão algumas roupas, talvez fiquem largas, mas foi o que eu consegui na assistência social do hospital e será melhor que a camisola que você está usando.

O oficial continuou me encarando tentando entender a minha inexpressividade pela notícia que era tão quista mais cedo, e quando desistiu de encontrar uma razão, fez menção a se retirar da sala.

Afraid - Medo InvisívelOnde histórias criam vida. Descubra agora