Afraid - Medo Invisível

Memórias em Chamas

Obviamente depois daquela ligação eu não tive condições nenhuma de dormir. Vi os raios do dia tomar os céus ainda sentado na sala, com o celular em uma mão e a faca na outra, me questionando por diversas vezes se eu deveria contatar Lucas sobre toda aquela situação, ou seguir as condições do assassino.

As horas nunca passaram tão devagar em toda a minha vida, pareciam se rastejar ao máximo perpetuando minha ansiedade e agonia. Meu corpo estava tão exausto de pensar e forçar minha mente que a dor de cabeça latejante nem era mais percebida por mim. O que o assassino faria em seguida? Restava-me apenas esperar. Meus parâmetros de racionalidade tinham se diluído no medo e na vontade de salvar meus amigos. Não sabia o que aconteceria, se tudo era apenas mais um jogo doentio da figura misteriosa, ou se realmente ele me daria a chance de salvar Kun e Jaehyun. Mas para alguém cansado de ser um coadjuvante da própria realidade, ter a chance de protagonizar alguma solução já era muito. E no fundo eu sabia que tudo isso era uma forma de compensar a culpa que eu sentia por duvidar dos meus amigos e de certa forma me responsabilizar pelo sequestro deles.

Olhava aquele instrumento afiado atravessando meu reflexo tentando escavar as profundezas de minha memória com ansiedade na busca de algo que eu nem sabia o que era. A verdade Hendery, era que você estava totalmente incapacitado. Minha mente só conseguia mergulhar nas fotografias que apareceram na casa de Yuta tentando descobrir quem era aquela pessoa recortada das imagens. Com certeza era a resposta de tudo. Quem era você? O que lhe aconteceu? Por que eu não conseguia lembrar de nenhuma memória envolvendo aquela pessoa? Forçava-me a recriar os cenários das fotos no Sonlux na falha tentativa de me recordar dessa pessoa, mas minha cabeça insistia em bloquear esse espaço dentro de mim. E com isso a frustração foi virando raiva. Também repassava meus últimos sonhos envolvendo a mesma pessoa, mas as manchas que a ocultavam não ficavam legíveis, por que minha mente não queria lembrar dessa pessoa? Essa dúvida me consumiu durante todo tempo ininterruptamente até meu celular vibrar e resgatar-me novamente para a minha dura realidade.

A notificação do número misterioso trazia um irônico bom dia e o download de dois vídeos. Era o assassino.

Quando o download foi concluído e eu assisti aquelas cenas de poucos segundos, soube que a situação não era um blefe e o perigo espreitava-se imperativamente. O primeiro vídeo era uma gravação caseira que mostrava Jaehyun sentado e desacordado com suas mãos e pés amarrados em uma cadeira. Ele estava abatido, sujo e parecia ter sido agredido já que era visível os hematomas no braço e no rosto. Aquilo cortou meu coração. A mordaça na boca estava firme e em seu braço existia acesso intravenoso que estava conectado a uma bolsa cheia de substâncias de aspecto leitoso que parecia lentamente injetar-se em seu organismo. O segundo vídeo repetia a mesma cena, mas com Kun, e observei que ele usava a mesma roupa do dia da festa na casa de Johnny. As cenas eram apavorantes e os ruídos sonoros que existiam nas gravações agregaram ainda mais uma atmosfera de terror para tudo aquilo. Cada vez mais tudo parecia surreal e inacreditável.

O telefone tocou inesperadamente e eu já sabia que era ele.

— Deveria ter dormido Hendery, hoje você terá um longo dia. - A voz distorcida continha um tom irônico e ameaçador.

— O que eu preciso fazer para salvá-los? - Não tinha mais paciência para os jogos dele, desejava ir direto ao ponto de uma vez.

— Gostei da sua pressa. Você vai precisar ser rápido mesmo se quiser salvar ao menos um deles. - Riu. - Escute com atenção: Seus amigos estão sendo drogados gradualmente com uma pequena toxina que está envenenando o organismo deles. Esse processo começou às 00:00h de hoje e vai finalizar dentro de 24hs. Se dentro desse tempo você não conseguir encontrá-los eles estarão mortos.