Afraid - Medo Invisível

Desenterrando o passado

Aquele dia estava lindo, depois de muito tempo eu e Chenle conseguimos sair para ter um tempo somente nosso. Era inexplicável como aquele menino tinha desenvolvido uma ligação tão profunda comigo. Seu sorriso, seus olhos, a gentileza nos seus gestos, tudo fazia parte de uma composição única que fazia ele ser adorável. Ele não tinha ninguém nesse mundo, assim como eu e por isso nossa conexão era tão pessoal. A gente entendia o vazio um do outro. E era melancolicamente lindo.

— Eu já entendi o porquê você insistiu tanto para a gente vir aqui na pista de skate Lele.

— Porque eu queria batata frita com refrigerante ué. - Disse simplista, tentando esconder o sorriso traquino.

— E para ver esse monte de garoto sem camisa fazendo manobras. - Acusei dando um empurrão no menor enquanto nos acomodamos na arquibancada do parte perto das pistas onde vários rapazes da idade de Chenle exalavam jovialidade e testosterona enquanto rodopiavam no ar desafiando a gravidade.

— O que? Longe de mim, Dery! É você que está babando igual um cão no cio! Aliás, quando você vai arranjar um pai pra mim em?

— Eu não estou ouvindo isso! - Nosso convívio era sempre assim, cheio de brincadeiras. Chenle era minha família, quando ele sorria e seus olhos fechavam quase sumindo completamente tudo fazia sentido para mim.

— Então você vai aceitar o convite de você vir morar comigo? - Chenle nunca aceitou diretamente meu pedido, ele escondia algo que eu sabia que era perigoso e muito estranho, mas nossos planos de ter uma vida juntos se concretizaria logo mais. Todos já o consideravam como meu filho, ou meu filhote como Kune e YangYang gostavam de falar.

— Sim, eu moro com você quando você arranjar alguém pra beijar essa sua boca, e eu só aceito um pai legal e maneiro viu? Aqueles caras que dão em cima de você na Sonlux são todos frouxos.

O dia se seguia assim, entre risadas e brincadeiras, infelizmente logo mais acabava e Chenle com seus mistérios saia para longe de mim outra vez.

— O que foi Dery? - Lele olhava para mim tentando achar o que eu tanto via atrás da gente, além do parque. - Você viu alguém?

— Não é que... - Era sempre a mesma sensação. - Eu às vezes acho, meio que sinto que alguém está observando a gente, sabe? Principalmente quando estou com você.

Ele tentou ver algo, até mesmo levantou e rodou trezentos e sessenta e nada. Realmente deveria ser apenas uma sensação de medo idiota.

— Hey Dery calma, não é nada e eu sempre estarei aqui para te proteger e não deixarei ninguém te machucar!

—

Acreditei que passaria uma das melhores noites da minha vida após o encontro com Lucas e que o final perfeito seria ele e eu aproveitando o melhor um do outro na sua cama. Mas quase sempre a expectativa é maior que a realidade e o balde de água fria dói. Por isso eu fiquei transitando no limiar dos sonhos e da realidade por toda aquela noite, como se estivesse em uma prova de resistência da qual a morte seria o castigo do desleixo em me entregar ao sono.

Como eu conseguiria dormir após escutar a conversa do médico e do agente? Não somente pela grave suspeita sobre Jaehyun ser o assassino que vem me perseguindo todo esse tempo, mas também pela fala extremamente suspeita e misteriosa que soou quase acusatória de Xiao em relação à Lucas. Sim, confesso que os pontos levantados em relação à Jae podem fazer sentido e isso é uma hipótese que de forma alguma eu quero acreditar, quando eu me recordo que ele era o único que usava o apelido de Dery se referindo a mim, além de Chenle, que ele não acreditava na existência desse assassino, que as ligações e mensagens que eu recebi sempre aconteceram sem sua presença e muitas delas se encaixam em contextos relacionados ao Jae, como o fato dele sempre querer me beijar e eu não dar espaço. Tudo isso, quando eu rebobino os últimos dias parecem engrenagens que inacreditavelmente vão se encaixando, se fosse ele, por que? Por que ele faria isso por Chenle? O que os ligava? O que eu não estou lembrando? Ou pior... O que eu não sabia?