Afraid - Medo Invisível

Sem saída

Saber que não fui alvejado não manifestou alívio, muito pelo contrário, uma aflição e angústia me consumiram. Lucas ficou ferido e sua face de dor e desorientação era tudo o que não queria ver. Não sabíamos de onde o disparo veio, e muito menos quem era o autor, e nosso instinto de sobrevivência nos conduziu para longe buscando qualquer lugar seguro. Enquanto corríamos tudo o que estava em câmera lenta ganhava mais velocidade e a adrenalina em nossos corpos era tamanha que os segundos que se passavam eram sublimados de nossas mentes.

Lucas segurou minha mão e me puxou para o labirinto de túmulos que existia próximo de onde estávamos, minha consciência foi ativada quando novos tiros começaram a ser disparados contra nós. Felizmente, nenhum obteve êxito e os únicos alvos que acertavam eram as lúgubres estátuas que adornavam o espaço.

Os batimentos cardíacos estavam tão acelerados que achei que poderia ter um infarto. O medo da morte é avassalador e indescritível. Mas minhas dores não eram nada comparadas ao que Lucas estava sentindo. Eu deveria ser forte e ajudá-lo, porque naquele momento eu era sua salvação.

Demos impulso para voltar a correr, mas seu corpo vacilou e o policial cambaleou indo ao encontro do chão mais uma vez. Fui mais rápido e arranjando forças de onde não tinha segurei sua estrutura o amparando. Foi quando ele grunhiu de dor e meu braço tingiu-se com seu sangue. Meu tremor denunciava o medo que sentia com o que poderia acontecer à Lucas e ele percebeu.

— Ficarei bem, não se preocupe, só temos que sair vivos daqui.

Sua mão suspendeu sua camisa e revelou o ferimento, a região de seu oblíquo estava dilacerada e sangrando muito. Pelo rasgo a bala tinha passado e não se alojou, o que era um ponto positivo. Ainda assim precisávamos de ajuda de um hospital urgentemente.

— Por favor, aguenta, está bem? — Aquele pedido tinha muitas chances de não ser atendido, e eu queria acreditar que Lucas aguentaria até o fim.

Ainda que essa fosse nossa intenção, nosso perseguidor tinha outro plano. Os tiros não paravam, parecia que existia um tanque de guerra atrás de nós, será que ninguém estava escutando aquele atentado? Não havia mais ninguém naquele lugar? Ninguém para nos ajudar? Todos estavam conspirando contra a gente? Não poderia ser possível.

Lucas voltou a me segurar e a correr com as poucas forças que restavam e sua habilidade de sobrevivência eram notáveis, já que conseguiu desviar de tudo com facilidade, e quando dei por mim estávamos chegando na Wanda, sua moto.

Sem tempo para medidas de segurança, ele simplesmente subiu e eu o acompanhei na garupa. O que ficou para trás foram o restante dos tiros, e por alguns segundos achei que o pior tinha passado, mas junto com o arrancar da moto de Lucas um carro preto nos seguiu aparecendo instantâneamente.

Lucas buscou despistá-lo perfurando as ruas, mas o automóvel que vinha em nosso encalço era tão hábil quanto o policial. Aquele momento era digno de um filme de ação, os carros buzinando, o vento cortando nossas peles, os cabelos flutuando no ar, os gritos dos transeuntes, o barulho das ruas como flashes e a sensação da morte chegando cada vez mais perto. Tudo aquilo poderia ser um sonho e eu só queria acordar.

Não sabia ao certo onde Lucas estava indo, e duvido que ele soubesse também, parecia não haver saída ou lugar seguro. A sensação é que todos estavam contra nós. Mas enquanto a moto costurava as ruas, minha mente dividia-se em se preocupar com o estado do policial e a razão de tudo aquilo. Razão essa que estava clara: Siwon deveria ter mandado alguém dar fim a Lucas mais uma vez, e aquela tentativa parecia ser a definitiva sem opção de erros.

Minhas esperanças estavam no limite de findarem quando o policial cortou bruscamente a direção para uma espécie de viela e conseguiu despistar nossos perseguidores, já que o carro não seria capaz de adentrar ali. Continuamos em velocidade pelo caminho apertado de tijolos quando atravessamos um longo jardim e demos para o cruzamento de uma avenida movimentada.