Sarah tinha se encantado por todas as crianças daquele orfanato, mas nenhuma chamou tanta a sua atenção quanto Kevin. Ele se encaixava perfeitamente no perfil da criança que ela estava procurando, sem contar que foi amor à primeira vista quando seus olhos cruzaram - se com os dele.
Mas David, seu marido, viu algo nos olhos daquele menino que ninguém mais vira. Uma espécie de amargura contida. Logo o seu coração se fechou e ele já não tinha mais certeza de que queria adotá-lo.
—– Tem certeza, querida? — Ele cochichou no ouvido da esposa, enquanto eles observavam o garoto loiro em meio às outras crianças.
—– Claro que tenho, olha para ele, ele é perfeito — Suspirou encantada.
David não quis compartilhar esse sentimento com a esposa, porque não queria estragar a sua experiência. Ele nunca tinha visto ela tão feliz e sorridente.
Kevin tão pequeno não compreendia o porquê daquela mulher sorri e olhar para ele com tanta ternura, mas sabia que ela o levaria pra casa, e tiraria ele daquela prisão, e isso a princípio parecia ser um alívio e tanto para ele que não suportava mais estar naquele lugar. Sentia falta de casa, da sua mãe e dos maus tratos dela.
Foi um longo processo até que Kevin finalmente pudesse conhecer sua nova casa, seu quarto e seu cachorro que por estranho que pareça se esquivou do seu contato. E ele não ficou contente com isso, logo percebera que havia ganhado um inimigo.
—–Tudo bem, ele só está estranhando você, mas logo irá se acostumar — Disse Sarah num tom gentil tocando o ombro do garoto.
Ele demorou um pouco para se acostumar com a nova vida. Mas aos poucos ele foi se desprendendo do fato de que sua mãe certamente o abandonou e que não vai mais voltar.
Ele passava a maior parte do tempo andando pelos cômodos da casa, fascinado pela imensidão daquele lugar.Mas triste por não conseguir achar um lugar que não fosse tão desconfortável. Depois de tanta procura ele acabou adormecendo ali mesmo, no chão da sala.
Sarah tinha dado esse espaço a ele,ela não queria forçar uma estadia calorosa, cheia de mimos, queria que ele descobrisse o seu lugar ali, que ficasse à vontade para explorar cada canto da casa, e se sentir íntimo do lugar.
—– Ele não é lindo? — Cochichou ao marido, enquanto ambos observavam o garoto dormir
—– Ah, ele é sim — David se aproximou da mulher, beijando sutilmente seu rosto, mas por dentro a preocupação o consumia.
—– Você acha que ele gostou da gente? — Ela perguntou receosa.
—– Bom, desde que chegou não disse uma palavra, mas acho que é tudo muito novo pra ele, que está se adaptando.
—– Vou colocar ele na cama, esse chão está duro e gelado, pode machuca-lo — Ela disse animada com a própria ideia.
—– Ótimo, eu vou preparar alguma coisa para ele comer quando acordar — David disse fugindo da estranha sensação que sentia ao olhar para aquele garoto,embora estivesse dormindo
—– Ok.
Sarah se aproximou, mas quando tocou em Kevin, ele subitamente abriu os olhos e se afastou dela.
—– Tudo bem querido, eu vou deixa-lo se levantar sozinho — Ela sorriu ingênua.
Ele se levantou e a encarou por alguns segundos, depois sacudiu algum tipo de poeira invisível que acreditou está em sua roupa.
—– O que foi? Quer tomar um banho? está todo suado. — Ela tentou novamente tocá-lo, mas ele se esquivou — Está bem, quando quiser.
Kevin tomava banho sozinho, porque odiava a ideia de alguém querer toca-lo, assim como não estava acostumado com aquela mulher estranha o encarando o tempo todo. Ele experimentava várias emoções ao mesmo tempo e não conseguia lidar com elas.
Enquanto Sarah preparava a cama dele, notou algumas folhas de papéis onde ele havia desenhado uma mulher e um menino, e se animou com fato de supostamente ser ela rabiscada ali.
Mas ao sair do banheiro, ele tomou violentamente os papéis de sua mão e os colocou todos organizados dentro da gaveta,e outra vez voltou a encara-la como se a repreendesse.
—– Essa sou eu — Sorriu — No desenho?
Ele permaneceu calado, olhando para ela que acabou se intimidando com o olhar do garoto.
—– Olha Kevin, eu estou aqui pra cuidar de você, e permitir que você tenha um lar, uma família, e não o contrário. Eu sei que você está confuso e com medo, mas eu já te amo e quero o melhor pra você...
Os olhos da mulher se encheram de lágrimas.
O rosto de Kevin misturou- se uma expressão de tristeza e raiva.
—– Se algo estiver te incomodando, você pode me contar, pode me perguntar o que quiser, tá, eu vou estar sempre aqui pra você, tudo isso aqui é seu.
Kevin sabia que aquela casa não era sua, e que aquela mulher parada na sua frente não era sua mãe, mas sabia que para não voltar a morar numa escola onde os pais nunca buscam seus filhos, ele teria que fingir.
E fingir era o que ele sabia fazer de melhor, pois cresceu vendo sua mãe fingir que o amava para as outras pessoas, quando na verdade ela só estava tentando ganhar mais tempo para depois se livrar dele..
Mas David e Sarah não sabiam disso, eles estavam felizes por ter o adotado, sempre quiseram ser pais,embora tentassem,mas visto que Sarah não conseguia manter uma criança por mais de dois meses na barriga, eles então pararam de tentar,pararam de se enganar, e resolveram optar por uma criança já crescida e carente.
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O Garoto do Lago ( Conto)
HorrorUma mãe, totalmente perturbada, decide livrar-se do filho, porém o seu plano dar errado depois que um policial percebe o que ela está prestes a fazer.