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Com oito anos. Kevin já podia compreender tudo, especialmente como foi parar ali. Porém ele não compartilhava seus sentimentos com ninguém. Mas uma coisa que ele não entendia era porque a piscina era tão profunda e aterrorizante para ele.

—– Não vai entrar, o dia está tão quente —  Dizia Sarah enquanto se  preparava para um mergulho.

Kevin olhava para o azul da água, refletindo a si mesmo, e se perdia em sensações ruins. Até que David, sem saber disso, o empurrou bruscamente,  causando assim um ataque de Pânico no garoto.

—– David,  ele está se afogando, tire ele  daí agora, você é louco — Gritou Sarah desesperada.

Kevin sentia mãos afundando o seu corpo até a morte, e não tinha forças para se livrar delas.

David demorou para perceber que aquela brincadeira tinha ido longe demais.

Ele mergulhou e tirou o garoto de lá ,que começou a se debater como um peixe fora d'água logo em seguida.  Como se a água naquele momento fosse seu ponto fraco.

Mamãe, mamãe!

Kevin berrava rouco apertando os olhos.

Sarah se ajoelhou e passou a mão sobre a testa do menino afim de acalma-lo.

—– Está tudo bem, querido, eu estou aqui.

Passado o susto, David e Sarah questionaram o estranho comportamento do garoto.

—– Você não deveria ter feito aquilo, ele estava com medo, e você sabia disso — Sarah  repreendeu enquanto cortava algumas cenouras para o jantar.

—– Amor, me desculpe, foi uma brincadeira de muito mal gosto, não vai mais se repetir.

Ainda havia vestígios de risadas nos lábios de David, demonstrando que ele não estava nenhum pouco arrependido.

Parecia até que ele adorava ver Kevin se dar mal, Já que ele tem roubado toda a atenção de sua esposa, exclusivamente para ele.

E David acabava ficando pra escanteio.

Mas enquanto os pais discutiam na cozinha. Kevin os observava atentamente, tremendo de frio e envolto em uma toalha, e subitamente seus olhos ascenderam em um instante de fúria pelo pai.

Mais tarde, ele foi até o escritório de David.

—– Que papéis são esses? —  Ele perguntou curioso.

David olhou por cima dos óculos e viu que o garoto o observava da porta.

—– São papéis importantes do meu trabalho — Ele respondeu depois voltou os olhos para os documentos nos quais ele estava assinando.

No dia seguinte, quando David levantou notou que a porta do escritório estava aberta,o que era estranho já que só ele tinha acesso. Quando procurou pela chave no lugar de costume,  mas não a encontrou.

Kevin!

Ele entrou no escritório e notou que todos os  papéis do trabalho estavam  rasgados em cima de sua mesa, e a raiva subiu subitamente para seus olhos.E ainda tinha um bilhete que dizia o seguinte.

"TE AMO PAPAI".

Com tinta vermelha simulando sangue.

Rapidamente ele subiu as escadas, pegou o garoto ainda em cima da cama, de cueca, e o arrastou violentamente até o corredor.

—– Por que você fez isso, an?—  Ele soltou entre os dentes cerrados, apertando o garoto contra a parede, e se segurando para não perder a cabeça.

—– David, para, sai de cima dele — Sarah gritou atordoada, puxando o marido pela camisa, mas ele estava tão  possesso de raiva, que mal se moveu.

—– Você sabia que eram papéis importantes, e você fez de propósito —  David insistiu permitindo que uma lágrima rolasse pelo canto do seu olho.

O garoto não conseguia respirar e estava com olhos arregalados de medo.

Sarah por fim conseguiu tirar David  de perto do garoto. E ele socou a parede e deu um profundo suspiro.

—– O que está fazendo?

—– Ele rasgou...ele...

David não conseguia falar de tão nervoso.

—– Fique calmo,  tá — Sarah o abraçou e encarou o filho pelo ombro do marido — Ele é só um menino, e fez besteira, mas tem outras formas de puni-lo, e não é essa.

—–  E você tem outra ideia melhor? — Ele se afastou da esposa, irritado, depois a encarou de volta —  Era o meu projeto e estava finalizado, levei mais do que duas semanas para concluir.E esse garoto rasgou noites e noites sem dormir, acabou com o meu esforço em um único dia

—– Calma, meu amor — Sarah voltou a abraçar e consolar o marido enquanto olhava para Kevin decepcionada.

Durante a noite ela evitou conversar com o filho, apenas o cobriu e apagou a luz, aflita pelo ocorrido. Foi para o quarto e se juntou ao marido que estava triste e silencioso.E dormiu desejando que o outro dia fosse diferente.

O Garoto do Lago ( Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora