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No dia seguinte, Lian acordou bem cedo e decidiu voltar ao lago que assombrava as suas noites junto com a figura assustadora da mulher de cabelos negros e olhar vazio.  Embora sonolento e um pouco atordoado por não ter dormido direito, ele seguiu refazendo os mesmos passos que fez naquela manhã de inverno.

E como um flash back, ele viu o vulto da mulher passar por ele, provocando súbitos arrepios pelo seu corpo. Aquele lugar não trazia boas sensações para ele, mas a vontade de descobrir o que aconteceu era mais forte do que todo aquele medo e angústia que ele  estava sentindo.

Ele pensou por um segundo, e olhando ao redor viu um caminho estreito coberto de mato que acreditou ser o atalho que Marjorie usou para chegar até o lago, já que pela estrada, ela correria o risco dela ser vista.

Qualquer um suspeitaria de uma mulher descabelada, descalça, com um vestido velho e rasgado, carregando uma criança desacordada e  indo em direção a mata.

Então Lian se despediu da lembrança fria, daquela mulher parada ali, de costas para ele. E seguiu pelo o trajeto sinuoso até chegar em uma pequena cabana.

Destas que a gente só costuma ver em filmes de terror.

Ele bateu na porta várias vezes, mas ninguém saiu, então para não perder a viagem, ele acabou invadindo o lugar, visto que a porta estava entreaberta e convidativa.

Ele andou até uma sala, onde havia um sofá pequeno e uma tv de tubo, e do outro lado havia um balcão que dividia a sala da cozinha. Estava tudo fora de ordem, havia resíduos de comida por todos os lados, e o cheiro era insuportável. O piso estava manchado com alguma coisa que ele não conseguiu indentificar a olho nu.

Lian foi até um dos quartos e se deparou com mais bagunça, roupas espalhadas em cima da cama, junto a uma mala. O que dava a entender que a mulher pretendia fugir, depois de se livrar do filho, E isso o deixou ainda mais aterrorizado.

E havia mais manchas, dessa vez nas paredes. Ele acreditava ser sangue, mas elas estavam tão escuras que era difícil de distinguir. Explorando mais a fundo a casa, ele esbarrou em algo no chão, e viu que era um ursinho de pelúcia com a cabeça arrancada, então ele percebeu que havia chegado no quarto de Kevin.

O seu corpo foi tomado por uma sensação horripilante, mas ele deixou o medo de lado e avançou até o quarto pequeno e escuro.

Abrindo a Janela, a primeira coisa que ele notou foi que não tinha uma cama. Kevin apesar da idade ainda dormia em um berço de madeira, e pela quantidade de pacotes de leites, era visto que sua alimentação também não era das melhores. Lian notou também que havia fraudas sujas espalhadas por todos os cantos, e que o colchão que ele dormia estava velho e encardido com um cheiro forte de urina. Levando a crer que Kevin ainda fazia xixi na cama.

Havia também objetos estranhos que o fazia acreditar que Kevin sofria alguma espécie de tortura.

A precariedade daquele lugar assustou Lian, ele não conseguia acreditar no que estava vendo, e nem conseguia  parar de pensar no que Kevin passou nos últimos cincos anos morando com a mãe. Ele jamais permitiria que seus filhos sofressem assim, mesmo não estando presente na vida deles.

Ele então começou a vasculhar em toda casa, procurando pistas de onde Marjorie poderia estar, encontrou fotos dela e do garoto, mas nada que fosse útil para saber o paradeiro dela.

Porém, quando ele estava prestes a ir embora, notou que tinha um pequeno pedaço de papel em cima do armário da cozinha, e que havia um número de telefone escrito.

Então ele pegou o telefone mais próximo que encontrou e discou os números rapidamente. Em questão de segundos uma mulher atendeu.

{ Alô....marjorie, é você?.

O Garoto do Lago ( Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora