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Sarah não sabia, mas David já estava  desconfiando do seu comportamento estranho e das suas desculpas para não ir com ele nos lugares, quase sempre preferindo ficar em casa com Alice, sem contar a sua indisposição em satisfazer as suas necessidades carnais. Tudo isso era motivo para ele ficar com o pé atrás. Mas o que mais chamou sua atenção, foi o fato dela e Débora não estarem mais se falando, ela eram  amigas desde a adolescência, inseparáveis, e do nada essa amizade acabou, ele precisava entender o porquê.

—– Débora? — Ele a chamou quando a viu deixar sua casa pela manhã. Débora, assim que percebeu a sua presença,  acelerou os passos — Ei Débora.

David  correu em sua direção e  conseguiu acompanha-la.

—– O que houve entre você e a Sarah? Ele perguntou ofegante.

—– Nada, não houve nada —  Ela acelerou novamente os passos o deixando pra trás.

Mas ele não satisfeito agarrou o braço da mulher, que se assustou totalmente com a sua atitude inesperada.

Como se o seu toque fosse como um choque elétrico que ela acabara de receber.

—– Houve sim, e eu preciso muito saber.

—– David, eu — Ela abriu a boca pra falar, mas notou que Lian a observava do outro lado da rua, e começou a  tremer — Tenho que ir trabalhar, estou atrasada.

—– Débora, espere — David a gritou.

—– Algum problema, vizinho.

Ele apenas olhou para Lian, e entrou pra dentro, ignorando a sua pergunta. Não era nenhum segredo eles não se darem bem.

David não conseguia ficar em paz com a dúvida martelando a sua cabeça, tinha algo de muito errado acontecendo, e só ele não sabia.


Então em um  momento de ausência da sua esposa, ele vasculhou as coisas dela, uma atitude que ele nunca teve antes, porque nunca precisou, mas ele tinha a impressão de que havia alguma coisa ali dentro, alguma coisa que ele precisava encontrar.

E encontrou dentro de umas de suas gavetas, uma camiseta masculina, que não pertencia a ele, e isso  serviu de prova suficiente para ele acreditar que se tratava de uma traição. Mas ele decidiu investigar um pouco mais, antes de enfrentar a esposa, afinal de contas era apenas uma camiseta, ela poderia ter comprado para ele e esquecido de entregar, ou algo do tipo.

Mas se fosse isso, por que não tinha etiqueta?

No dia seguinte, antes de ir para o trabalho, ele decidiu passar na agência publicitária onde sua mulher supostamente estava trabalhando, e descobriu que ela não frequentava o ambiente havia um tempo, pois havia sido demitida  por comportamento duvidoso. O que deixou David atordoado o dia inteiro no trabalho, pensando em como a mulher que ele tinha liberdade de contar tudo, fora capaz de traí-lo  dessa maneira.


Ele passou a noite fora, perambulando pela cidade, bebendo todas para se livrar daquele peso que o sufocava, e da dor que consumia sua alma por inteiro.

Ele se sentia insuficiente, machucado. Sua mulher e seus filhos, são a sua única família, pois David passou a vida entrando e saindo de lares adotivos, pois não se encaixava em nenhum, por ser um garoto problema, nunca conheceu os pais, nunca entendeu os motivos que resultou em seu abandono.

Ele tomou um último gole da bebida amarga, antes de voltar pra casa e encarar a sua triste realidade.

—– Não acredito que ela fez isso comigo, como ela pôde, eu dei tudo pra ela, pra no final ela fazer isso comigo, ordinária, vagabunda —  Ele xingava bêbado enquanto andava até seu carro.

Por sorte não havia bebido muito e conseguiu chegar em casa sem se envolver em nenhum acidente grave.

—– David, onde você estava?

Ele passou pela mulher ignorando a sua preocupação.

—– Cadê minha filha, onde ela está? — Ele perguntou transtornado.

Estava cabisbaixo, porque mal conseguia olhar para ela.

—– No quarto, por que?

Ele foi até o quarto cambaleando, pegou a menina no colo, e tocou sutilmente o seu rosto.

Vendo que ela mal conseguia manter os olhos abertos de tanto sono.

—– Oi, meu amor — Suspirou eufórico.

A garotinha recolheu as lágrimas do pai e o encarou com ternura.

—– Papai, te ama muito — Soluçou

Em seguida deu um beijo em seu rosto e a colocou de volta na cama, e seguiu para o seu quarto onde caiu sobre a cama exausto e adormeceu.

Sarah ficou observando o marido da porta, preocupada com o seu estado, porque ele nunca havia chegado bêbado em casa. Ela temia que seu problema com bebidas estivesse voltado. E só ela sabia como era difícil fazê-lo parar.


Pois seu marido era um suicida antes, e atentou diversas vezes contra a própria vida, mas ela infelizmente não pensou nisso quando resolveu se aventurar nos braços de outro.

Ela foi até ele e arrancou os seus sapatos, e suas roupas o deixando completamente nu, permitindo que ele dormisse mais tranquilo. Mal ela sabia que aquela tranquilidade está perto de acabar.

Aquele seria o começo do fim.

No dia seguinte, David fingiu que estava indo para o trabalho, para ver onde sua mulher iria após deixar Kevin na escola. Ele entrou em seu carro e ficou acompanhando os seus passos de maneira discreta e calculista. E seus olhos custaram acreditar no que viram. Sua mulher, o amor da sua vida, entrando na casa do vizinho com sua filha nos braços, ela nem se deu o trabalho de bater na porta. E na cabeça de David, era porque ela já fazia isso com uma certa frequência.


Imediatamente ele desceu do carro, e foi até a casa do vizinho, dominado pela raiva, mas antes de invadir e começar a quebrar tudo,  ele preferiu ser mais racional, e decidiu escutar primeiro o que ambos estavam conversando através da porta.

O Garoto do Lago ( Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora