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Naquela mesma manhã, Sarah acordou sentindo uma angústia apertando no  peito, além de um pressentimento ruim. Então ela se levantou e foi até o quarto de Kevin para ver se essas sensações tinham algo a haver com ele. E quando abriu a porta o encontrou caído no chão.

Ela rapidamente correu em sua direção, e o apanhou em seu colo, sentindo o corpo quente do garoto queimar a sua pele.

Então ela o levou imediatamente para o banheiro, tirou suas roupas e o expôs nú ao um banho frio.

—– Vai ficar tudo bem, meu filho — Ela dizia, enquanto alisava os cabelos molhados dele.

Kevin tremia e delirava, e aquilo preocupava Sarah, já que ela nunca  experienciou uma cena como essa antes.

—– Mamãe, mamãe...

—– Eu estou aqui, não se preocupe.

Ela abraçava aquela ilusão, como se tratando dela, e se emocionava por ter conseguido chegar tão perto do filho a ponto de  tocar sua pele sem que ele se afastasse. Para ela, era como uma conquista e tanto.

Mas Kevin estava aterrorizado por não conseguir controlar o seu corpo, que era tomado por uma força estranha que o aprisionara.

Passados alguns minutos, a febre baixou, e ela o retirou da água, levando-o para cima da cama. Ele ainda continuava cansado e sonolento, e isso permitiu que ela o vestisse sem dificuldades.

Sarah estava com medo pelo fato de estar sozinha em casa, já que David havia feito uma viagem á negócios, e demoraria pra voltar. Ela tinha receio de não estar fazendo certo, de estar machucando ao invés de fazer sarar, mas ela se tranquilizou ao ver que a febre misteriosa de Kevin havia se estabilizado.

Mas foi na tranquilidade, e  na hora de vesti -lo, que ela notou as cicatrizes por todo o corpo dele, parecidas com queimaduras e cortes profundos. E isso a deixou bastante triste e assustada, pensando em quem poderia ter feito isso com ele, abrindo também espaço para a raiva, pois acreditava que pessoas assim deveriam ser punidas de alguma forma.

Mas nem ela, nem kevin, sabiam que Marjorie já tinha sido punida pela sua negligência como mãe, e o seu carrasco fora sua própria consciência, que sabia que ela seria incapaz de viver, sabendo que sacrificou a vida do próprio filho pra isso.

Talvez a febre seja a quebra da ligação entre mãe e filho, um fim de um ciclo de dores, o renascimento de uma criança forte e feliz, ou apenas seja o começo das consequências sombrias que estão por vir.

Sarah percebeu que era tarde demais para voltar atrás, visto que tinha criado um laço emocional com aquele garoto. Ela o amava com se ele tivesse crescido dentro do seu ventre, e depois do susto que passou, tinha certeza que levaria para sempre aquele garoto em seu coração.

Ela chorou por cada uma daquelas marcas no corpo dele, se perguntando por que não havia adotado ele antes, assim teria  evitado que outras crianças o machucasse.

Isso na cabeça dela, já que quando entrou nos processos de adoção de Kevin, lembra-se de ter ouvido da diretora que a mãe dele o deixara naquele lugar quando ainda era um bebê, o que não era bem a verdade.


Durante o dia, Kevin não quis comer, estava farto de todas aquelas verduras e legumes que Sarah havia dado para ele. Então quando ela virava as costas, ele despejava tudo na lixeira, e era rex, o cachorro, quem acabava comendo.

—– Não — Sarah protestou — Kevin, ele não pode comer isso.

Sarah arrastou o cachorro pela coleira até o lado de fora, em seguida fechou a porta e olhou para o garoto que parecia confuso.

—– Ele é alérgico a verduras cozidas.

Ela colocou as verduras em uma sacola,  e depois amarrou.

—– Desculpa, mamãe —Kevin, forçou um sorriso que a enganou direitinho.

—– Ah, tudo bem, você não tinha como saber, enfim,  já que jogou sua comida fora, o que vai querer comer?

—– Pode ser um bolo de cenoura — Ele ironizou.

—– Kevin, você tem que comer fibra, proteína e...

—– Mas no bolo tem cenoura.

—– Não tem graça, tá, vou fazer uma sopa e você vai comer tudo.

—– Tá.

Enquanto Sarah preparava a sopa em fogo baixo, notou uma movimentação na porta.

—– Deve ser o David, fica aqui, eu já volto — Ela disse para Kevin,que já estava na metade da cadeira pra descer.

Enquanto ela atendia a porta, Kevin observava de longe a panela no fogão.

—– Precisa de mais fogo — Disse sozinho enquanto a cor azulada do fogo transparecia em seu olhar.

Mas quando foi se aproximar do fogão, sentiu uma mão agarrar a sua.

—– Nem pense nisso.

Ele olhou para cima e viu que o semblante sério e autoritário de David, e ficou aborrecido, pois ele era o único que conseguia impor certos limites que ele era obrigado a obedecer.

O Garoto do Lago ( Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora