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Deitado em sua cama, estava Lian com os olhos presos no teto, imaginando como sua vida teria sido diferente se ele não tivesse tido o pai que teve, se não tivesse feito as escolhas que fez. Com certeza ele seria um homem bom, um marido excelente, e mais importante teria sido um pai melhor. Mas não foi, porque as circunstâncias não permitiram que isso acontecesse, elas contribuíram para que o jovem policial se tornasse uma pessoa fria e conturbada. E se sua mãe estivesse viva agora provavelmente estaria decepcionada com o tipo de homem que ele se tornou.

Ele se esforçava para se levantar da cama, para jogar um pouco de água fria no rosto. Os dias pareciam intermináveis, e o tic tac do relógio parecia um bomba em sua cabeça, contando os minutos para explodir os seus miolos. Havia vozes gritando o tempo dizendo que ele era fraco, que não iria ter nada em sua vida, porque todas as coisas que teve, ele perdeu por pura arrogância e descuido. Ele sabia que jamais seria um homem feliz.

Mas mesmo com tudo contribuindo para o fim da sua sanidade, ele se levantou da cama, pegou o carro e dirigiu até um lugar onde jamais imaginou que iria.

-- Que surpresa - Disse o homem do outro lado da cela, desafiando Lian com um olhar inexpressivo.

-- Eu poderia te matar aqui e agora - Lian rebateu a ironia do velho com toda a raiva do mundo.

-- E porque não faz, não veio aqui para me desejar os parabéns ou veio? - O homem soltou confiante.

-- Você é a única pessoa que me faz sentir raiva, mas que eu não tenho coragem de matar

-- Não se mata uma pessoa que é igual a você - O homem sorriu, avaliando a postura vulnerável de Lian - Por acaso já se olhou no espelho.

-- Eu não sou igual a você - Lian soltou entre os dentes, esmurrando a grade, e sentindo seu punho vibrar de dor depois.

-- Ah, você é sim, não é à toa que é o meu filho.

Essa única palavra foi capaz de liberar uma série de lembranças ruins na cabeça de Lian.

-- Você é o grande culpado de tudo isso - Ele falou irado, mas não pôde conter as lágrimas que escorriam deliberadamente do seus olhos

-- Não é culpa minha você não conseguir resolver os seus próprios problemas, ah quanta irresponsabilidade, que tipo de homem você é?

-- Você matou a minha mãe - Lian gritou em meio às lágrimas, enquanto se manteve apático e calado - Você destruiu a minha vida, eu era apenas um garoto e depois disso eu nunca mais consegui me recuperar daquilo, se hoje eu sou um fracasso como homem, foi porque você contribuiu para que eu me tornasse assim...

-- Não espere que eu me ajoelhe e implore pelo o seu perdão, já estou pagando pelo o que fiz, e sei o que eu fiz, mas e você, sabe? já pagou pelos seus crimes? O que veio fazer aqui, descarregar todo o seu ódio em cima de mim, já se passou muito tempo, e ainda vejo aquele garoto medroso, um inútil que vivia embaixo da mesa se escondendo, tá mais do que na hora de você crescer, meu filho e deixar essa parte da sua vida pra trás.

Lian olhou nos olhos do pai e em seguida se afastou. Por que se deu conta de que tudo aquilo que ele havia dito, era verdade. Ele baseou sua vida toda em um único momento, e a partir daí passou a viver e se comportar de maneira passiva. Assistiu sua vida desmoronar e não fez absolutamente nada pra mudar. Se comportou a vida inteira como um garotinho medroso.

-- Espero que apodreça aqui, e que as piores coisas te aconteçam - Soltou para o pai as palavras que guardou a vida inteira pois nunca teve coragem de confronta-lo.

O Garoto do Lago ( Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora