O Garoto do Lago ( Conto)

24

Durante a noite, Lian se perdia em fantasias onde ele via Sarah com uma lingerie branca, sensualizando para ele. Ele delirava de vontade de senti-la, de tocar os seus cabelos e cheira-los. Mas sempre quando ele a tocava, acordava em súbito suspiro e se deparava com sua cama molhada de suor e seu membro rígido.

—– Merda, acho que estou enlouquecendo — Ele passou as mãos pelos cabelos.

Ele esperou um pouco até a temperatura do seu corpo se estabilizar, depois se levantou e foi preparar o café, esperando que Kevin batesse em sua porta.

E como já era esperado o garoto passou como um vulto diante dos seus olhos.

—– Trouxe um filme que a minha avó me deu, quer assistir comigo?

Sugeriu o garoto abrindo um breve sorriso convidativo.

—– Claro, por que não?

Lian pegou duas xícaras, encheu de café e se direcionou para a sala, onde o garoto estava radiante com suas feições de menino inocente.

Apesar das xícaras estarem firmes em suas mãos, ele as deixou cair no chão, assim que reparou no filme que o garoto estava assistindo.

Se tratava de material pornográfico sem censura. Rapidamente ele avançou e arrancou o controle das mãos do menino e desligou a tv antes das cenas começarem a aparecer.

—– Kevin, onde encontrou isso?

O garoto ficou calado e aborrecido.

—– Onde Kevin?

—– Um camelô me vendeu.

—– Eu quero a verdade.

—– Essa é a verdade, comprei com algumas moedas que a minha mãe me deu, quando eu a ajudei arrumar a casa — O garoto reforçou,com um estranho sorriso — Tem algumas revistas também, você quer ver?

Lian se assustou ainda mais.

—– Elas estão na minha casa, mas vai ter que esperar a minha mãe chegar.

—– Você viu o que tinha nas revistas?

—– Não,elas ainda estão lacradas, mas eu sei do que se trata.

Os olhos verdes do garoto brilharam maliciosos.

—– Olha se me prometer que amanhã vai me trazer essas revistas pra mim,  sua mãe não vai ficar sabendo sobre isso.

—– Combinado —  O garoto concordou maliciosamente.

Lian então pegou a fita de vídeo do garoto e guardou, e enquanto procurava por outra, percebeu seu celular tocando.

—– Fica aqui  — Ele fez um sinal para Kevin, antes de pegar o telefone.

—– Alô.

—– Lian, é o Paul, encontramos o assassino...

Antes de Paul dar as informações para Lian,  ele começou a se preparar para ir até o endereço informado e estravazar toda a sua raiva,  somada com a indignação que Kevin causara a ele.

Apesar de saber que garotos da idade de Kevin já costumam ter certos tipos de curiosidade, não caia a ficha, pois ele chegou a pegar aquele garoto no colo, acompanhou todos os seus passos até agora.

Era uma decepção de pai que ele estava sentindo. Para ele era como se John, o seu filho, estivesse ali, debochando de sua autoridade.

—– Para onde estamos indo? — Kevin perguntou inquieto com a velocidade do carro.

—– Para um lugar, põe o cinto — Lian ordenou sem encara-lo, pois estava concentrado em sua vingança.

Lian sabia que não podia levar o garoto, mas com quem mais ele deixaria. Ele estava possesso em fúria, e precisava pôr toda essa ira pra fora.

Quando chegou no local,  ele pediu para Kevin esperar no carro até ele voltar, e quando alcançou o assassino,  ele desfigurou o rosto do sujeito de tanto soca-lo, mas quando estava prestes a mata-lo com um canivete que havia trazido em seu bolso, ele olhou para trás e avistou o garoto parado olhando para ele sem nenhuma expressão no rosto.

—– Falei pra esperar no carro, porra —  Ele gritou enfurecido, depois se levantou e arrastou o garoto para o carro.

Alguns minutos depois, enquanto dirigia ele olhou no espelho do carro, e viu que Kevin o olhava buscando uma explicação.

—– Olha —  Ele respirou fundo — Você não viu nada,  entendeu?

—– Você guarda o meu segredo,e eu guardo o seu — Sugeriu o garoto.

Lian estranhou a tranquilidade do menino, tão diferente dele quando tinha sua idade quando viu o pai fazer a mesma coisa que ele fizera com o assassino, só que com a sua mãe.

Ele ficou paralisado, enquanto seu peito subia e descia sem parar, e seus olhos arregalados. Foram muitos ataques de pânico até Lian poder de alguma conviver com isso.

Quando ele chegou em casa, avistou Sarah parada em sua porta com os braços cruzados.

—– Merda! — Resmungou abrindo a porta do carro

—– Onde vocês estavam?

—– Sarah, eu ..

Ela se assustou ao ver os punhos e a camisa de Lian, manchados de sangue.

—– Kevin, vai pegar suas coisas — Ela ordenou, afim de manter o garoto longe daquela situação.

O garoto obedeceu,  mas não sem antes olhar para Lian e passar os dedos pelos lábios simulando um zíper.

Demostrando que o seu segredo estava seguro com ele.

—– Posso saber o que aconteceu?—  Sarah o interrogou

—– Nada.

—– Nada? e o que é isso em suas mãos?

—– Tinta vermelha.

—– Tinta?

—– Sim, Kevin e eu estávamos pintando, não viu as manchas na camisa dele? só perdemos a hora.

—– Certo.

—– Sarah —  Ele a segurou e logo sentiu a eletricidade percorrer pelo seu corpo.

—– Não toque em mim — Ela se afastou e voltou o foco para o filho — Pronto Kevin?

Lian virou o rosto e viu o garoto atrás dele com uma mala de roupas. E suspirou profundamente.

Mais tarde, Lian recebeu notícias de que o assassino não resistiu aos ferimentos, e isso por mais brutal que tenha sido o encheu de orgulho de si mesmo.

Por ter conseguido finalmente vingar a morte de Diana.