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Lian procurou uma posição mais confortável entre os arbustos para que pudesse ter uma visão melhor dos seus filhos da janela, e sem que eles o vissem. Seus filhos estavam diferentes, seu filho john já tinha desenvolvido os dentes da frente que havia perdido. E Celine esbanjava doçura e beleza pela casa. E isso era o suficiente para fazer os olhos de Lian transbordarem de emoção e o seu peito doer de vontade de abraçá-los de fazer parte daquele momento em família, sua família. Mas ele sabia que não podia, e que perdeu esse direito há muito tempo.

Ele acompanhava com os olhos o filho correr pela casa ao mesmo tempo que observava Celine ensinar a mãe alguns passos de dança que ela havia aprendido no balé, ele sabia que sua filha de apenas cinco anos era esperta e inteligente, e isso o enchia de orgulho. Ele sorria emocionado ao ver que eles estavam felizes e saudáveis, e achou que o melhor seria eles ficarem com a mãe ao invés dele, porque ele não estava em condição de cuidar dos filhos, ele mal conseguia cuidar de si mesmo.

Mas a saudade era algo que o consumia todos os dias, algo que nem se ele tentasse iria conseguir se livrar. Eram dias e noites sem dormir pensando em como ele podia ter feito diferente e não fez, ele poderia ter se esforçado mais para ser um bom marido e um bom pai. Mas preferiu ignorar, agindo como um ser abusivo e autoritário, e suas atitudes acabaram custando o  seu relacionamento.

O vidro era a única coisa que o impedia de estar perto de seus filhos, e mesmo sabendo onde era a porta, ele sabia que não poderia ir até lá. Até porque ele se sentia envergonhado depois de tudo de ruim que fez na vida daquelas pessoas.


Ele se despediu daquela cena e se retirou dali, se sentindo incompleto e vazio. E depois de entrar no seu carro, ele desabou em lágrimas sobre o volante, lembrando das inúmeras vezes que ele se alterou e ameaçou sua esposa de morte, inclusive quando ela estava grávida de Celine. Ele a empurrou no chão. E ele também não foi um bom pai para seu filho John, sempre o desprezou e o maltratou. Enfim, ele se arrepende muito de não ter sido o pai que eles mereciam. Mas como ele vai ser um bom pai se não teve uma boa referência.

Assim que a luz da varanda se acendeu. Ele arrancou com o carro,  saindo imediatamente dali, respeitando as ordens de afastamento que sua mulher havia exigido judicialmente.

Ele prometeu para si mesmo que nunca mais voltaria a incomodá-los, e que o melhor para os seus filhos é não ter o pai por perto.

O Garoto do Lago ( Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora