Capítulo 16 - Velas

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A boa notícia é que eu tinha vestidos para todas as ocasiões que viriam a seguir, a má notícia é que eu continuava sem saber andar de salto e Julie insistia para que eu colocasse uma sandália mais alta do que deveria ser permitido por lei.

Faltavam alguns minutos para anoitecer, meu relógio de parede marcava seis e meia e de acordo com as regras do castelo, o jantar sempre era servido as sete, o que me dava mais meia hora para afugentar Julie e me preparar para aquela noite.

Dulce não gostou da informação sobre o jantar, ela não deixou transparecer sua preocupação, mas foi inevitável. Ela também estava com medo das motivações de Lúcifer para um convite tão discreto, bem como curiosa para saber o que ele havia feito durante tanto tempo no mundo mortal.

Preferi não pensar a respeito, se O Anjo soubesse a verdade sobre mim eu encararia as consequências com dignidade.

Alguns minutos antes do horário suposto para o jantar, sai do quarto com delicadeza e comecei a caminhar sem muita pressa até a sala já conhecida. A porta estava entreaberta e as luzes acesas.

Bati na madeira do portal esperando uma resposta, mas ninguém disse nada. Vagarosamente aproximei-me da maçaneta e empurrei a porta que agora deixava a vista uma sala diferente da que havia visitado.

A mesa de reuniões estava coberta com uma toalha branca e em cima dela dois castiçais de prata adornavam o ambiente, suas velas ainda estavam apagadas. Por toda a mesa bandejas escondiam uma refeição que cheirava muito bem.

Nas pontas haviam pratos de uma porcelana delicada, um para sopa e outro para o jantar. Ao lado deles, alguns talheres brilhavam e refletiam as taças de cristal fino:

- Minha pretensão era que as velas já estivessem acesas e luz apagada quando você entrasse.

A encantadora voz de Lúcifer soou em meus ouvidos como uma crise de abstinência sendo curada com o uso da droga letal.

Virei-me de costas para o cômodo e O Anjo estava a poucos centímetros de mim. Senti um formigamento no rosto e ele se afastou, preocupado.

Por alguns segundos não entendi seu olhar, mas alguns instantes depois percebi do que se tratava:

- Você não me queimou.

Ele sorriu agradecido:

- Deus sabia exatamente o que estava fazendo quando me castigou.

- Dizem que ele sabe o que faz, mas honestamente eu sempre entendi que Miguel quem te expulsou.

Lúcifer sorriu sem humor:

- Você já brigou com sua irmã?

Fiz que sim com a cabeça e ele continuou:

- E quem castigava a parte errada?

- Meus pais. – respondi sorrindo.

- Exatamente, infelizmente meu pai é um pouco radical em seus castigos.

- Quanto tempo demorou para que você aprendesse?

- Não compreendi exatamente o que quis dizer, o que eu deveria ter aprendido

- Em uma de nossas conversas você me disse que havia se arrependido de suas atitudes. – olhei para ele interessada. – Quando exatamente você percebeu que não estava agindo da melhor forma?

Lúcifer ficou em silêncio por alguns minutos, pensando no que iria responder. Se ele havia descoberto sobre mim, nada melhor do que relembrá-lo de seu possível coração bondoso:

- Foi há muitos anos, quando o mundo não era igual ao que é agora, quando os homens ruins viviam seu reinado de indiferença e solidão. Eu acreditava em meu triunfo, mas um momento fez tudo se desfazer, foi neste dia que o castigo começou.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora