Capítulo 7 - Queda

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Eu sempre imaginava o Trem como uma viagem horrível, ilustrando o que seria a vida no inferno. Pensava em almas corrompidas torturando os passageiros e gritos horrorizados de dor e medo, mas o que eu encontrei foi queda.

O Trem descia em vertical em uma velocidade impressionante, a vertigem me impediu de ver muitas coisas da viagem, apenas pedras e alguns lápsos de luz, o que era curioso, se estavam descendo da onde vinha a iluminação? 

A viagem foi curta, sendo finalizada com uma parada brusca do Trem.

As portas se abriram e uma intensa iluminação praticamente me cegou. Demoraram alguns instantes até que meus olhos se acostumassem com toda a claridade do ambiente.

Pouco a pouco comecei a distinguir alguns vultos olhando, aparentemente curiosos, por entre a porta do trem. Meu coração acelerou: eu estava no inferno.

Um dos vultos se aproximou e pude perceber que era uma mulher:

- Você não pode ficar aqui dentro para sempre. - disse ela me puxando pela mão. - Venha.

Comecei a caminhar sem muita iniciativa, agora conseguindo perceber os detalhes ao meu redor. O local era maravilhoso, um reino particular perdido embaixo da terra. Era um insulto chamar aquele lugar de Sombras, pois luz era o que não faltava.

Grandes colunas pareciam sustentar o tento infinito, todas repletas de luminárias luxuosas, variando entre um metal dourado e outro prata. Nós estávamos em uma estação, havia uma superfície plana e cimentada que se estendia para a direita e esquerda, até se perder de vista.

Um túnel levava a outro ambiente que parecia ter o chão feito de pedras brancas e parecia muito com uma praça. 

Notei que a garota que me levava pela mão indicava ter pouco mais de vinte anos, seus cabelos eram ruivos de um vermelho quase vinho que me lembravam muito de uma cantora da qual eu gostava. Suas feições eram delicadas, seus lábios finos e olhos castanho-oliva. 

Ela usava um vestido vinho na altura dos joelhos, com uma pequena renda branca finalizando a barra. Seu cabelo estava preso em um coque no alto da cabeça.

Ela me puxou apressadamente até a praça, sendo seguida por curiosos:

- Porque você veio para cá? - ela olhava para os lados desconfiada. - Sozinha!

- Fui atingida pelo Trem. - foi a resposta mais honesta que poderia dar.

Precisava pensar em uma desculpa razoável para estar no inferno e explicar que era uma caçadora em missão não seria uma alternativa.

Honestamente eu não sabia o que acontecia com as almas no inferno, mas sempre desconfiei que não era um lugar desagradável pela fidelidade absoluta dos demônios seguidores de Lúcifer. 

Independente de qualquer fator, boa parte daquela população estava presa sem chance de saída graças a minha família, eu não seria bem recebida nem se quisesse ser a fã número 1 do Senhor das Sombras:

- Disso eu sei, mas quero saber por qual motivo. 

Empalideci, sabia que pessoas que faziam pactos morriam para que suas almas viessem para o inferno. Por qual motivo eu estaria viva?

A garota me olhou com curiosidade até que algo pareceu fazer sentido em seus pensamentos e seus olhos arregalaram:

- Você é uma caçadora. - ela sussurrou.

Minhas pernas fraquejaram, não havia para onde fugir. Ela me entragaria ao Anjo e ele me destruíria:

- Precisamos pensar em uma boa desculpa para você estar aqui. - ela continuou sussurrando.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora