Um silêncio desagradável tomou todo o calabouço e até mesmo as vozes que pensei ter ouvido antes se calaram.
Lúcifer me encarava com uma expressão que caminhava entre a tristeza e a curiosidade, mas eu não ousava falar nada. Estava com medo.
Ele caminhou em minha direção e por reflexo protegi meu corpo de sua aproximação, ainda podia sentir a sensação da pele se queimando:
- Acredito que tenha sido minha culpa esta reação. – ele parou de caminhar.
- Não pude evitar.
- Nem deveria, você está encurralada em um local distante e escuro, onde ninguém pode escutá-la. – O Anjo me encarou.
Senti meu corpo estremecer. A menos que a vontade de Lúcifer fosse manter-me viva, eu nem saberia o que me atingiu.
Os olhos de esmeralda me encararam novamente e então Lúcifer caiu de joelhos.
O choque de presenciar aquela cena me impediu de entender o que estava acontecendo e imobilizou-me no lugar, mas instantes depois os ombros dO Anjo se curvaram e eu entendi que ele não estava bem.
Corri até sua direção:
- O que está acontecendo? – minha voz estava trêmula.
- Será uma mentira muito obvia se disser que nada está acontecendo?
Sorri discretamente. Queria ajudá-lo a se levantar, mas sabia que se o fizesse a pessoa que estaria no chão logo em seguida seria eu:
- Vou procurar por alguém.
- Não! – ele se exaltou e virou o rosto para mim. – Por favor, não permita que ninguém tome ciência deste fato.
- Não seja teimoso, Hastiel pode...
- Ninguém...
Preferi não discutir, era perceptível que ele encontrava-se fraco demais e qualquer esforço seria demasiado.
Lúcifer arrastou-se até uma das paredes e desmoronou. Seu peito movia-se rapidamente e sua pele estava mais pálida que de costume:
- Quando forem escrever minha biografia, informe que dentre minhas piores ideias essa está no topo do ranking.
Sorri novamente e sentei-me ao lado dele:
- Bem, se vamos ficar aqui talvez seja interessante me explicar o que está acontecendo. – insisti novamente.
- Você não precisa ser gentil, eu sequer mereço sua compaixão.
- Não seja dramático.
- É a mais pura verdade, ainda me espanta o fato de permanecer nas Sombras mesmo depois de tudo o que houve.
- Certas coisas não precisam fazer sentido.
- Sua estadia aqui tem modificado as estruturas do reino. – ele suspirou. – Meus melhores Anjos a protegem como parte de sua família, meus melhores serviçais a amam com devoção e eu estou rendido a humilhação por um ataque descontrolado, tudo graças a sua simples presença.
Senti meu rosto corar, mas Lúcifer não percebeu:
- Não houve nenhum tipo de esforço, apenas sua existência já tornou este lugar menos sóbrio de si mesmo. Gostaria que as coisas tivessem tomado rumos diferentes, que você estivesse satisfeita, que não cogitasse tantas hipóteses negativas e reais acerca de mim.
- Reais?
- Agatha, eu sou o próprio demônio.
Dor, medo e torpor.
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Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)
FantasyPara proteger sua irmã da sina da família Signori, desde criança Agatha assumiu toda a responsabilidade de ser uma caçadora de demônios. Ela vem de uma antiga linhagem, que se originou com o filho de um Arcanjo e um humano. Durante séculos os caçado...