Capítulo 10 - Cômodos

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Eu estava dentro de um filme, somente isto poderia explicar a riqueza de detalhes do saguão que se encontrava atrás da simples porta de madeira.

Aliás, tudo o que eu havia visto tornou-se simples naquele momento. 

O tempo havia parado dentro do castelo de Lúcifer. A porta levava a lateral de um grande salão, precisamente no topo de suas escadarias, que se dispunham uma ao lado da outra em um meio círculo, se unindo no primeiro piso e depois, separando-se novamente para conduzir por quem ela transitar até onde estávamos.

O local era grande. Seu chão era de uma pedra lisa e de tons claros, que se tornava cada vez mais esbranquiçada nos delicados degraus. Um corrimão dourado percorria todo o caminho que as escadas faziam, finalizando em pequenas sacadas, sendo sustentado por desenhos diferenciados feitos pelo metal.

Na parte de baixo do salão erguia-se uma porta de madeira maciça, com o dobro de minha altura e certamente muito mais que isso de largura. Pesados puxadores de ferro pendiam do meio da mesma, que se encontrava fechada. Ao seu lado, janelas com grandes vidraças davam a impressão de nem existirem com sua transparência assustadora.

Um lustre com milhões de cristais se erguia acima de nossas cabeças, irradiando mais luz do que em todo o reino junto e nas paredes, pequenos castiçais auxiliavam no que eu comecei a chamar de "benho de sol".

Os tons pastéis, areia e dourado brincavam com a sinestesia dos olhos e permitiam uma sensação de ternura, alegria e paz. 

Quando consegui absorver o máximo de detalhes possíveis, virei a cabeça lentamente para Lúcifer e ele sorria satisfeito:

- Não é um luxo que permito a muitas pessoas. 

- Imagino que para viver em um local com tamanha beleza a pessoa deva merecer muito. 

- Na verdade, eu falava sobre deixar alguém conhecer minha casa.

Casa? Aquilo estava mais próximo de um teatro luxuoso do século XIX do que com qualquer casa que eu vi em minha vida. O Anjo tinha realmente uma queda por épocas passadas:

- A decoração foi sua escolha?

- Cada detalhe deste local foi planejado com eficiência e cautela, eu tive muitos anos para torná-lo o que é.  - ele suspirou. - Quando se está longe de casa, tudo o que mais queremos é estar de volta, se não podemos, buscamos coisas que lembrem nosso lar.

Os olhos de Lúcifer fitaram o nada e por um momento pensei ter visto um lampejo de tristeza em seu semblante, mas rapidamente ele se recompôs:

- Você terá um bom tempo pra explorar meu castelo, ele não tem computadores ou celulares, mas é feito de seu próprio encanto, tenho certeza que ficará entretida.

- Duvido que exista como se entediar em um lugar assim.

- A mesmice cansa, Agatha. Você também vai descobrir isso em algum momento, mas eu farei o possível para que ele demore o máximo possível para chegar.

Senti um choque ao ouvir Lúcifer pronunciar meu nome com tanta naturalidade. Era como se ele sempre falasse comigo e me fizesse desejar que nunca deixasse de falar.

Olhei para O Anjo e ele me observava com interesse e surpresa:

- Geralmente não é muito usual que eu chame as pessoas pelo nome, causa reações desconfortáveis.

- Não foi nem próximo de desconfortável o que eu senti.

- E o que você sentiu?

Minhas bochechas coraram de uma forma tão indiscreta que ele não conseguiu evitar uma risada sonora:

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora