Capítulo 17 - Chaves

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Não tive tempo suficiente para me recuperar das palavras que havia ouvido. Peter sussurrou que não tínhamos muito tempo para voltarmos ao quarto e me arrastou pelo caminho de volta.

Assim que fechamos a porta de madeira pesada logo atrás de nós, eu tive a sensação que iria desabar:

- Gostaria de me desculpar com a senhorita. – Peter me olhava com preocupação. – Imaginei que seria apenas uma travessura, mas o que ouvimos estava muito além dos meus planos. Eles geralmente contam sobre o mundo mortal e nada além disso.

- Você costuma espioná-los com frequência?

O guarda enrubesceu:

- Não é o que está pensando...

- Fique despreocupado, não acho que você cometeu qualquer crime ao ouvir conversas. As pessoas neste reino não são o que parecem.

Era meu sentimento mais honesto. Hastiel mostrou-se completamente arisco e cruel em nosso primeiro contato, mas naquela curta conversa deixou transparecer um coração maior do que eu poderia imaginar.

Lúcifer, por sua vez, parecia quase real em seu sofrimento e agora se deixava levar por um impulso egoísta, por sua frustração. Eu tinha razão, ele era um garoto mimado.

Mas eu não poderia julgá-los, também escondia meus segredos e não era quem demonstrava ser. Todos tínhamos diversas faces, somente assim poderíamos sobreviver.

Peter ainda tremia quando anunciou sua partida:

- Devo deixá-la descansar.

Meus olhos cruzaram os dele com urgência:

- Fique. – disse imediatamente. – Não quero ficar sozinha esta noite.

- Sua dama de companhia é a alma mais indicada para esta função.

- Minha dama jamais compreenderá os motivos pelos quais estou com tanto medo.

Nesse instante eu percebi que havia alguma coisa errada. As Sombras me deixavam mais vulnerável do que de costume. Medo, pânico e terror eram sentimentos que raramente me afetavam no mundo mortal.

Aquele reino me enfraquecia.

- Peter. – disse com paciência. – Exceto se for desconfortável para você, fique comigo essa noite, sua presença me deixará mais calma.

- Lúcifer não ficará satisfeito se souber.

- Ele não precisa saber, saia cedo e não deixe rastros. Se descobrirem, eu assumo toda a responsabilidade.

Peter desistiu de lutar contra minha argumentação.

Troquei minha nova roupa de montaria por uma das camisolas mais discretas que havia na gaveta e me deitei no meio dos inúmeros travesseiros de minha cama.

Dei dois toques ao meu lado indicando para que ele se sentasse:

- Porque você me levou nessa exploração?

- Sua vida no castelo se tornará entediante, não quero vê-la sucumbir a loucura deste lugar. Sua presença transforma as coisas e é exatamente deste tipo de salvação que precisamos.

- O Anjo ficaria furioso se soubesse.

- Eu não concordo com as ações e medidas de Lúcifer há muitos séculos, a senhorita surgiu como um sopro de esperança. O Anjo sucumbirá e levará todos nós para seu poço de destruição e ódio, estamos presos aqui.

- Foi sua escolha vir para cá? – olhei profundamente nos olhos de Peter.

- Sim. – ele abaixou a cabeça. – E eu não me orgulho desta decisão, mas procuro formas de torná-la minimamente útil.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora