Capítulo 28 - Motivos

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Acordei com um raio de luz entrando pela janela, o quarto já estava bem iluminado e Peter estava sentado em meu sofá:

- Bom dia, senhorita.

- Bom dia guarda!

Bocejei preguiçosamente, não havia nada que me obrigasse a levantar da cama. 

Pedi meu café da manhã no quarto e desfrutei da companhia do guarda:

- Então você reassumirá o quarto andar? - perguntei enquanto bebia minha xícara de leite quente.

- O que significa ficar de olho na senhorita e em qualquer engraçadinho suicida que tente incomodar a Estrela da Manhã.

- Certamente. – dei um risada escandalosa.

Olhamo-nos por alguns segundos, Peter parecia mais sereno que de costume e me encarava com um cuidado demasiado.

Na verdade todos ali me observavam com cautela, parecia que um grande tesouro se perderia caso fizessem de outra forma. Criados, servos, almas e Anjos, tudo naquela reino parecia encontrar em mim um ponto de calmaria.

Isso me fazia sentir mais e mais urgência de chegar a algum lugar, mas qual?

Não demorou muito para que Julie aparecesse e expulsasse Peter de meu quarto. Ela cantava uma música desconhecida, enquanto trocava as roupas de cama:

- Julie, você é feliz aqui?

Ela parou de cantar e me olhou com curiosidade:

- É uma pergunta um tanto quanto específica. – ela sorriu. – Felicidade é um conceito muito vago para a eternidade.

- Ainda se lembra das coisas antes de vir para cá?

- Muito pouco, a vida humana se tornou muito distante, a rotina das Sombras é muito mais presente em minhas memórias.

- E porque escolheu vir para cá?

- Não é uma resposta que posso lhe contar. – seu rosto corou.

- Que injusto me deixara curiosa, conte-me por favor. – olhei para ela com olhos implorantes.

- Muito mais injusto é me chantagear de uma forma tão descarada.

- Vamos lá, não pode ser uma história tão secreta assim.

- Tudo bem. – Julie sentou-se em minha cama. – Quando o seu mundo ainda era regido por reis, as mulheres vestiam-se deslumbrantemente e cuidavam apenas dos assuntos de casa, eu era a dama de companhia de uma duquesa.

Minha boca se abriu levemente e ela continuou a história:

- Naquela época era comum que os casamentos fossem arranjados e que a nobreza casasse seus servos entre si, o que não foi diferente comigo. Fui prometida a um dos guardas do duque. 

- Quanto anos você tem?

- Deixei de contar os anos há alguns séculos.

Meus olhos se arregalaram e ela sorriu:

- Meu noivo não era um homem que despertava qualquer sentimento, mas não havia como argumentar, era uma época rígida no que se tratava de mulheres.

- Sinto muito.

- Foi um desvio de rota que me levou ao motivo pelo qual estou aqui. – um sorriso impecável tomou conta do rosto da dama. – Apesar da severidade, o homem para quem estava prometida também adepto de grandes extravagancias e decidiu que nosso noivado seria uma festa regada a bebidas finas e jogos de azar.

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora