Capítulo 36 - Passado

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Duas semanas se passaram desde que Hastiel partiu.

Nenhuma notícia, nenhum sinal de êxito ou falha em sua missão, estávamos no escuro total, tateando uma parede irregular que não levava a lugar nenhum.

Peter parecia preocupado, algumas almas tentaram invadir o quarto andar exigindo explicações de Lúcifer por sua arriscada manobra de "enganar" os solados e causar um colapso nas Sombras.

O Anjo, é claro sustentava a desculpa criada por Hastiel, mas aquilo já não parecia convencer.

Muito além desses pequenos ataques, percebi que Lúcifer estava preocupado e talvez arrependido de sua decisão.

Não havia um dia daquela semana que não estivemos juntos.

O Anjo parecia lutar contra sua própria sugestão de me presentear com uma dama de companhia, pois cada vez que Ester aparecia com um plano maluco para nos aventurarmos, ele lançava um olhar sombrio para ela e relutava em me deixar ir.

Isso me preocupava.

Eu ainda não havia conseguido falar com Peter sobre meu correspondente e nem respondido sua última carta.

Tinha medo de que meu constante contato com Lúcifer pudesse gerar suspeitas e o caçador agisse por conta própria.

Temia pela segurança dO Anjo, mas sentia ainda mais receio de que ele descobrisse a verdade.

Não conseguia contar o que estava acontecendo, por mais que ele perguntasse o que me afligia. Precisava admitir, meu medo era da reação dele.

Por alguns dias eu cheguei a pensar que todo o meu receio vinha do castigo que estava destinada quando O Anjo entendesse a traição, mas depois eu percebi que não queria perder sua atenção e companhia.

Estar com ele me permitia ser algo que eu não pensava que poderia ser.

Eu estava feliz pela primeira vez na vida, pelos motivos errados, mas estava.

Bruno era uma lembrança vaga, a ideia de que ele se encontrava nas Sombras foi se apagando de meus pensamentos.

E ainda havia a declaração.

Lúcifer havia dito com uma voz trêmula e atrevida que estava apaixonado por mim. Pensar naquelas palavras me deixava zonza e um frio desconcertante subia por meu corpo.

Era como uma queda livre em uma montanha russa. Assustador e profundamente prazeroso.

Quando O Anjo se declarou eu fiquei estarrecida, mal conseguia me mover. Ele me olhava com desespero e angústia e eu retribuía o olhar com uma surpresa que tenho dúvidas se presenciarei novamente.

Quis tocá-lo, correr a mão por seu rosto delicadamente e abraça-lo. Isso, obviamente era impossível, pelo menos não sem me causar danos profundos.

A única coisa que pude fazer para retribuir foi sorrir e, em silêncio, convidá-lo a mais uma vez dormir ao meu lado... Com travesseiros nos dividindo.

Quinze dias era tempo suficiente para que eu entrasse em desespero.

Tomava meu café da manhã na companhia de Ester, ela havia se mostrado uma ótima companheira, as vezes até sufocante:

- Você parece preocupada.

- E estou. - respondi por impulso.

- Com o que?

Segurei a xícara de leite entre os dedos, o calor começou a queimar minha pele, mas eu não me importei. Ester me olhava intensamente aguardando uma resposta:

Imortal - As Sombras (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora