Eternal Summer III

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Haru me contou sobre a conversa com os pais deles, e mesmo sem dizer claramente eu percebi como ele ficou chateado porque seus pais só demonstraram um interesse superficial nele.

-Não precisa ficar com raiva por mim, Makoto - Haru se arrastou para poder beijar no meio das minhas sobrancelhas - Você vai ficar cheio de rugas.

-Eu só sei que eu nunca trataria meus filhos assim.

Haru deitou no meu peito e puxou o lençol da minha cama para nos cobrir.

-Você... pensa em ter filhos?

-Hmm, eu nunca pensei nisso seriamente. E você?

-Também não.

No silêncio entre nós, tentei imaginar como seria chegar depois de um dia cansado de um trabalho qualquer e entrar numa casa com nossos perfumes misturados. Eu teria que me policiar o tempo todo, já que o Haru não gosta de bagunça. E claro, eu teria que fazer as compras do mês ou só viveríamos de arroz e cavalinha.

Consigo me ver correndo atrás de uma criança para conseguir convencer ela a tomar um banho antes do papai chegar para o jantar.

Eu sorri com esse sonho breve, mas logo a realidade acabou com meu sorriso. Nós não podemos nos casar legalmente, apesar de casais homoafetivos terem o direito a um certificado de união, esse documento não nos daria o direito de adotar um filho.

Olhei para o rosto adormecido dele sobre mim, depois de tantos dias tristes, ele finalmente parecia mais leve. Decidi parar de sonhar com coisas que poderiam ou não acontecer e me focar no agora. Amanhã é o distrital e não adianta nada ficar melancólico por uma situação hipotética. Temos coisas reais com as quais me preocupar.

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Eu dormi na casa do Makoto, segundo ele para me impedir de me atrasar. Tudo bem que eu atraso sempre para a escola e precisamos correr para não termos que ouvir bronca do supervisor, mas é só porque eu não me importo muito com as aulas. Quando as coisas são importantes, eu não me atraso, não muito pelo menos.

Outra vez eu me assustei com a facilidade dele em ler meus sentimentos mais profundos. Eu não queria contar sobre a ligação dos meus pais e consegui guardar esse segredo pelas semanas que se seguiram, mas hoje eu não consegui escapar.

Minha insegurança estava crescendo de novo, a frase "nos de orgulho" que minha mãe me falou fez ressoar medos e inquietações que eu tinha guardado bem fundo, e mesmo assim ele percebeu e veio me ajudar.

Makoto tem o dom de conseguir me fazer falar, e mesmo com minhas palavras confusas e desorganizadas, ele conseguiu me entender, ele sempre foi assim.

Acho que foi por isso que acabei sonhando com o nosso passado, com o dia que ele me convenceu que deveríamos entrar no clube de natação. Mal abri os olhos e a memória começou a passar como um filme na minha cabeça.

Eu estava sentado no escorregador olhando para nada em específico quando ele me chamou. Ele estava subindo a escada de metal fino, e eu lembro da esperança fazendo seus olhos brilhar.

-Hey, Haru-chan. Vamos entrar juntos no clube de natação!

Desde pequeno ele tinha esse olhar calmo e sereno que acabava com minhas defesas.

-Não, é muito problemático.

Eu falei sem rodeios e desci pelo metal frio, mais para fugir dele antes de ceder.

Sol de Outono Onde histórias criam vida. Descubra agora