Starting Days I

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Desde a primeira vez que entrei numa piscina, eu me senti livre. A pressão da água conseguiu abafar os sons ao meu redor, incluindo a vozinha na minha cabeça que me cobrava e rebaixava. 

Dentro da água, posso me sentir livre dos meus medos e da minha solidão. Dentro da água, posso me purificar das minhas inseguranças e ativar os meus sentidos, e em consequência, silenciar minhas emoções.

Minha avó dizia que aos 10 anos somos considerados prodígios, aos 15, gênios e aos 20 uma pessoa comum.

Eu sempre vejo as pessoas falando de como crianças prodígios são especiais e valiosas, alguns até mesmo me consideram um prodígio da natação.

Eu não penso assim. Todos esses olhares e gritos de incentivo me sufocam. Se eu dou atenção a eles não consigo nadar como normalmente faço. Sinto como se correntes ou pesos estivessem em meus pulsos e tornozelos. 

Para muitos, ser visto como um prodígio é uma dádiva, mas não para mim. É como se eu tivesse a obrigação de fazer coisas grandiosas e não apenas ser feliz.

É opressor e cruel.

Eu só me vejo livre de todas essas inquietações quando estou na água. Nadando, eu consigo mergulhar no fundo do meu ser e achar a minha paz.

Por mais que eu ame essa liberdade que a água me dá, tem uma coisa pela qual eu sempre anseio ao sair da água.

-Bom dia, Haru-chan.

Tirei meus óculos e vi sua mão forte estendida para mim, o sorriso que refletia toda gentileza da sua alma e sua beleza.

-Não precisa do chan.

Mesmo resmungando aquilo, aceite sua mão e sai da água, Makoto é uma força que eu posso sempre contar.

-Me desculpe, Haru. Vamos nos atrasar para a cerimônia de abertura.

Ele fechou os olhos e inclinou a cabeça, um hábito que ele tem desde criança, seu sorriso sereno aqueceu minha alma.

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Mal saí do vestiário do Swiming Club e Makoto desfez o sorriso. Derrotado, ele se aproximou de mim, fechando os últimos botões do meu uniforme.

-Haru, não é assim… Você tem que fechar direito!

-Assim fica desconfortável.

-Logo você se acostuma.

Mesmo sufocado por aquela gola, eu não pude deixar de gostar do seu zelo e preocupação.

-Como você sabia onde me encontrar?

-Eu sei tudo sobre você, Haru - Makoto sorriu com os olhos fechados, gentil como sempre - É o que eu gostaria de dizer mas na verdade, eu perguntei para a sua mãe - Ele completou.

-Oh.

Virei o rosto para não demonstrar a minha decepção, eu gosto quando ele me faz sentir especial. 

Conversamos sobre clubes, nossas oportunidades e mudanças. Seria uma nova escola, uma nova rotina e aquilo me deixava ansioso. Makoto disse que queria mudar um pouco, mas eu não queria aquilo, eu me sentia confortável ao seu lado do jeito que ele é.

Perto da escola, vimos árvores de cerejeiras cor de rosa, o cheiro suave carregado pelo vento gelado bagunçou meu cabelo. Uma águia passou pelo céu azul, livre e inalcançável. A águia deixou um rastro de pétalas delicadas das cerejeiras e uma pena caiu perto de mim. Eu segurei ela, meu olhar perdido na imensidão acima de mim e por um breve segundo, desejei mais do que qualquer céu azul.

Sol de Outono Onde histórias criam vida. Descubra agora