To the Top V

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Há poucos minutos da nossa casa tem um pequeno parque com árvores de bordo altas e frondosas (árvore cuja a folha é assim 🍁), e naquela tarde de outono senti uma vontade repentina de ver aquelas folhas vermelhas e bonitas empilhadas no chão como um tapete fofo e quentinho, então arrastei Makoto comigo para uma caminhada descontraída.

No caminho paramos em uma sorveteria e eu entrei nela apesar do suspiro cansado que ouvi dele. Desde que ele se tornou o meu treinador oficialmente, ele raramente permite que eu saia da dieta especial que ele criou para mim, mas hoje ele só me seguiu para dentro da pequena loja e também pediu um sorvete igual ao meu.

-Obrigado por não fazer um discurso.

-Mas só hoje, você é um atleta olímpico, não pode descuidar da sua alimentação.

Quando ele falou isso, me lembrei de uma coisa sobre a qual estou me debatendo há algum tempo já, talvez por hoje ter sido um dia de outono perfeito e até o ar ameno esteja contribuindo para a comodidade, eu consiga conversar com ele sobre nosso futuro.

Saímos com os sorvetes em mãos e chegamos a um banquinho antes mesmo do fim da música reproduzida pelos fones que compartilhamos. Ele me abraçou pelos ombros e ficamos ouvindo música após música e só apreciando a beleza daquele entardecer.

Os últimos raios de sol refletiam nas folhas vermelhas e fez uma coloração abrasadora tomar conta delas, o céu azul e violeta como fundo equilibrando e contrastando ao mesmo tempo somado com o calor calmo e amável no meu coração deu um novo significado para a palavra ‘perfeito' para mim.

Umas das coisas que eu mais amo no nosso relacionamento, desde sempre, é o conforto que sentimos quando estamos em silêncio. Eu mantive essa calmaria o máximo que eu pude, até decidir que se eu não falasse naquele momento, eu nunca mais teria coragem ou ousadia de abordar o assunto.

-Makoto, eu estive pensando em me aposentar depois das Olimpíadas do ano que vem - Soltei de uma vez, olhando para as árvores na nossa frente.

Como eu esperava, Makoto parou de balançar a perna e de cantarolar, me olhando com uma expressão ilegível.

-Por que? O que aconteceu?

-Eu já conquistei tudo que eu queria natação competitiva, estou mais do que satisfeito, e francamente, a próxima geração é muito promissora.

-Se você está se sentindo ameaçado…

-Não é isso - Agitei as mãos na sua frente antes que ele continuasse - Eu quero gastar minhas energias com outra coisa.

-O que? 

Eu não respondi imediatamente, eu ainda estou um pouco inseguro sobre isso, apesar de já termos conversado várias vezes, nunca chegamos a uma decisão. Eu sabia que no momento que eu falasse, aquilo deixaria de ser um ‘e se’ e jamais poderíamos voltar atrás. Eu engoli as dúvidas e encarei seus olhos verdes, que pareciam mais escuros tanto pela expectativa quanto pela ansiedade.

-Acho que está na hora de pensarmos em nosso futuro, como família.

-Co-como assim?

-Makoto… eu quero adotar uma criança.

Makoto pareceu congelar no lugar, sem reação e mal parecia estar respirando e se transformou numa imagem congelada na minha frente com os lábios um pouco separados. Sua reação foi bem diferente do que eu esperei e imaginei, talvez eu tenha adiantado as coisas demais.

De tempos em tempos conversamos sobre adotar uma criança, e depois que nos casamos no civil essas conversas têm ficado mais frequentes. Há quase um ano o governo reconheceu o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o que nos deu os mesmos direitos legais que um casal heterossexual tem com o casamento civil, então com a nossa idade e a estabilidade financeira na qual estamos, achei que era a hora certa, entretanto, agora eu não tenho mais certeza.

Sol de Outono Onde histórias criam vida. Descubra agora