A única frase apropriada para ser cravada em minha lápide é “finalmente descansa esse fodido que não teve direito a lubrificante ou a dedadinha. E muito bem feito!"
Claro que eu arranjaria um jeito de deixar, o que já não era fácil, impressionantemente complicado. É o que eu faço de melhor, a minha carta na manga contra eu mesmo. Não sei porque ainda me surpreendo.
É óbvio que eu jamais controlaria meus sentimentos. Eles não são como uma massa densa e maleável de trigo, água e manteiga que eu posso manipular num balcão e que no final fica do jeitinho que eu quero. Já não bastasse meu subconsciente me alertar desde o início, que é humanamente impossível não criar vínculos quando se passa tanto tempo com alguém, eu escolhi ignorar os gritos porque me achava fodão demais para me abalar por qualquer coisa.
Olhe para mim, eu vou namorar e me casar e me separar sem me apaixonar porque sou do caralho. Coração de pedra, Thomas Shelby.
Que patético.
Sem contar aquela vulnerabilidade que meio que bagunçou alguma coisa em mim. Talvez ver Harry daquele jeito possa até ter sido o gatilho para observa-lo com mais atenção e sensibilidade. Mas, não foi ali o grande boom.
E a ficha não caiu em um grande momento, imperdível e crucial, como os filmes adoram nos enfiar goela abaixo. Eu não descobri isso no mar californiano, sob o romântico banho lunar, com álcool na cabeça e declarações adocicadas ao pé do ouvido.
A ficha não caiu quando eu estava dentro dele, deixando-o tão cheio que suas orbes esmeraldas reviravam e as pernas falhavam ao redor da minha cintura, sob o embalo instável de gemidos manhosos. Também não caiu quando eu o vi apresentando um festival de música em Marysville, numa camisa escura e transparente que o deixava tão esbelto e superlativo quanto uma poesia do período romântico.
Minhas guardas estavam todas aos seus pés no show do Kaiser Chiefs, semana passada. E teria sido o momento perfeito. Quando descobri que uma das minhas bandas preferidas tocaria num clube em Columbus nem pensei duas vezes antes de comprar os ingressos, mesmo que o show fosse às oito horas de uma noite de sexta-feira e eu provavelmente ainda estaria em turno no hospital. Não tinha a menor importância, inventaria qualquer coisa para ir.
Além disso, com exceção do evento musical – ao qual Harry estava a trabalho, a propósito – e das baladas, nós nunca fomos a nenhum show juntos, o que para mim é ápice da harmonia e deleite que um casal poderia atingir. Comprei camarote porque, apesar de obviamente preferir pista, era inimaginável ver Harry no meio de uma multidão suada tendo seu tênis Gucci pisoteado.
Quase não tenho muitas lembranças do show em si, minhas memórias só registraram Harry cantando as músicas que eu gostava e pulando como se aquela fosse a energia que mantinha o universo em funcionamento. Lembro do hálito de cerveja e das mãos agarradas ao meu braço. Lembro de compartilhar o sorriso orgulhoso e olhar vibrante quando o vocalista ecoou por todo o hangar “é um prazer enorme saber que Harry Styles está presente. Onde quer que esteja, olá! ... A próxima é para você. Senhoras e senhores, Golden Oldies” porque meu namorado é a porra do queridinho de Ohio, da internet, do mundo inteiro.
Mas é em um noite despretensiosa, típica e entediante, onde não faço nada além de prestar absoluta atenção nos seus lábios gordinhos reluzindo saliva que ele pincelou com a língua segundos atrás. Lábios um tanto pálidos sem nenhum batom, acho que Harry não anda comendo beterrabas o suficiente. Ou será que é pelo clima seco? Se fosse, deveriam estar ressecados. Talvez seja só a iluminação.
Céus, acho que estou pirando demais.As sobrancelhas unidas, o biquinho - não tão rosado mas - incondicionalmente adorável, Harry conseguia ficar uma gracinha quando emburrado.
Sentado sobre a perna esquerda, a tela do Macbook reflete em seus óculos de grau que tentam esconder os olhos pesados. Harry se negava a deitar ou, sequer, olhar para mim. Já fazia mais de uma hora que ele não sai da mesa do quarto enquanto tenta, com toda a determinação presente em si, ignorar minha existência.
Em seu rosto ainda há resquícios da purpurina do dia anterior - e eu preciso enfatizar que toda vez que o vejo no pole sob gritos entusiasmados meu ego infla tanto que me sinto no topo do mundo. Igualmente a ele na barra, onde ninguém pode se alcançar.
- Eu te amo. – A frase foge de mim o mais rápido que consegue, como se só estivesse esperando por uma brecha.
A surpresa faz com que meus pulmões peçam por mais oxigênio. Não faço ideia de como aquelas palavras se formaram, acreditaria até ter sido um delírio se não tivesse as sentido vibrar nas cordas vocais, o canto voando em direção ao seu alvo.
Tão gentil quanto um supro de mãe num fio de cílios atrevido que cai no olho, a lente que deixava tudo opaco foi retirada.
Acima de toda a negação que eu nutria, há tempos já não o vejo como antes. Me flagrava contemplando seus mínimos detalhes, manias e trejeitos. Até mesmo as birras passaram a me divertir. Uma ascensão de sentimentos. Um turbilhão desenfreado em meu peito, se expandindo a cada segundo passado com ele.
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You Better Try • L.S
FanfictionLouis Tomlinson é um cretino interesseiro. Harry Styles é um arrogante podre de rico que pensa que o mundo está a sua disposição. Um relacionamento que começa com um abismo de mentiras e desonestidade. Mas ambas as partes tem segredos obscuros. E...