vinte e oito

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Não tenho certeza se deveria estar esbravejando tanto quanto estou... Ao invés de persistir em rogar pragas contra Autumn, eu deveria estar ajudando ele de verdade.

Eu estava tão animado para rever Harry depois de doze dias de viagem mas agora, ao invés de beijinhos ou de uma trepadinha, tudo o que eu podia fazer era prender seu cabelo na mão enquanto praguejava acima dos barulho que ele faz enquanto vomita.

Desconfiei que havia alguma coisa estranha no momento em que ele falou que estava cansado demais para ir ao apartamento, o que não faz sentido porque o aeroporto é mais perto do Ontario Plaza do que daqui, sem mencionar as roupas e coisas dele que estão por lá, ou seja, era mais vantajoso ir ao apartamento.

Dei de ombros e decidi vir a casa dele para preparar o almoço antes de sua chegada.

Ele volta pálido e desanimado e magro. Apesar de tentar me assegurar de que estava bem e que eu precisava relaxar,  um segundo depois ele corre para o banheiro do primeiro piso num impulso.

E até então está aqui.

Von Bummer deveria ser presa, não importasse o que tenha feito. Empresários jamais serão pessoas confiáveis o suficiente para viver em sociedade. Não sei o que aconteceu mas não tenho dúvidas de sua culpa absoluta. Caso encerrado, sentença de prisão perpétua e sem chance de recorrer.

Sobre as provas substanciais e irrefutáveis: Harry Styles deixou Cleveland muito bem, obrigado e apenas em duas semanas volta como se tivesse enfrentado uma gripe cruel, desanimado e magro.

Sugadora de energia do caralho.

Quando ele enfim melhora, vai à pia para lavar o rosto e boca. Suas mãos molhadas correm pelos cachos enquanto ele espera que eu pare perguntar o que houve e esqueça este assunto, o que não acontece.

- Eu estou bem, amor.

Harry sai do banheiro e sobe para o segundo andar rumando seu quarto. Sigo seu encalce como uma criança insistente.

- Como você pode achar que eu vou deixar para lá? Não é possível que você diga que está bem quando está na cara que algo aconteceu.

E então eu sinto meu corpo entrar em combustão quando, depois de muito hesitar e pedir para que eu fique tranquilo porque é comum, Harry diz que precisou tomar alguns remédios para perder peso e assim fazer as fotos da coleção de verão da Fendi. Meus dentes cravam na bochecha interna tão forte que sinto ardor e o gosto metálico no paladar.

Estou puto pra caralho.

Trago seu corpo para mim e o enlaço com meus braços, sentir seu cheiro e seu calor para tentar afastar o ódio. O que ajuda um pouco.

Não é como se a raiva tivesse passado de uma hora para outra mas sinto que a coisa mais inteligente a se fazer agora é me calar. Não vou consegui mudar o que aconteceu e nem fazer ele melhorar se continuar reclamando, pelo contrário, vou acabar estressando Harry.

- Você não precisa se preocupar, Lou. Já fiz isso algumas... só assim para minha barriguinha sumir.

Um gosto amargo e difícil de engolir engata em minha garganta. Porra, é mais que inadmissível que Harry tenha que ouvir isso. Que porra de barriguinha? O corpo dele é a obra mais divina em Terra e qualquer pessoa que discorde disso não está em seu perfeito juízo.

- Eu só preciso de cinco minutos com quem falou isso. Juro que cinco minutos é o suficiente.

Ele ri e volta a me abraçar, enterrando o nariz na linha entre o ombro e pescoço, onde deposita alguns selinhos. – Deixa isso pra lá, tô morrendo de saudades.

Digo que também e o ergo do chão, suas pernas circundando a cintura. Alguns risinhos, “você não está com cheiro de nicotina. Que milagre é esse?" e “aposta cinquentinha que eu aguento o dia todo sem fumar?” trilham nosso caminho até a sala de TV. Ele logo se apossa do controle para escolhe uma filme.

- Você realmente não lembra que dia é hoje? – Ele desvia os olhos da tela para me encarar e nega com o cenho franzido. – Que péssimo namorado! Sério, por que ainda estamos juntos? Não acredito que você esqueceu. – Implico, ele ri nervoso com os olhos esmeraldas arregalados.

- Não diz isso, amor! Eu só estou com a cabeça cheia. Fala logo e deixa de drama.

Curvo um sorriso. – Já que você esqueceu, vai ter que buscar no consolo da lareira.

- Louehhh! – Pronuncia arrastado, em um tom que transita entre protesto e animação. Rapidamente ele se levanta em um pulo e corre da sala.

Em pouco mais de um minuto Harry está de volta com o sorriso tão largo que ameaça saltar do rosto, o que foi o suficiente para afastar todos os sentimentos desgostosos de antes – claro que eu conversaria com Niall sobre aquilo uma outra hora. Tenho quase certeza que Von Bummer cagaria para gente se fossemos tirar satisfação com ela, mas aposto que o sr. e a sra. Styles não ficariam nada contentes em descobrir que seu filho é induzido a tomar remédios para inibir o apetite (por Deus, espero muito que eles não saibam nem compactuem com isso), mas sinto que preciso do Irlandês para iluminar este caminho.

Harry salta em meu colo e enche meu rosto de beijinhos com a caixinha de veludo em mãos.

- Não sei o que eu fiz para te merecer. – Sua alegria é tão contagiante que não deixo que a frase tenha efeito negativo em mim.

- Não diga isso. Se eu te entregasse o mundo inteiro ainda não seria o suficiente, Harry. – Ele sorri e deposita  selinho suave em meus lábios. – Gostou?

Harry assente, me entregando a caixinha com semblante insinuante. O rostinho brilhante e lindo. Tiro o anel com uma sutil esmeralda cravada em prata e seguro seu anelar direito estendido, posicionando a joia afrente de outro anel.

- Me sinto péssimo por esquecer do nosso aniversário agora. - Ele faz biquinho.

Cubro suas bochechas com as mãos e domino seus lábios com selinhos.

- Por favor, não se sinta! Só me prometa que você nunca vai esquecer que eu te amo. – Ele assente sussurrando um “prometo”. – Sério, promete que você jamais vai esquecer... Eu tenho tanto medo de errar com você.

Acaricio suas bochechas e vejo o lampejo de desconfiança em seu rosto. Me arrependo imediatamente pelas suplicas, neste momento tenho a sensação de ter soado como um desesperado.

Meu rosto deve estar pálido.

O sangue corre mais gelado.

Puta que pariu.

- O que você fez? – Questiona inquisitório, com um leve tom travesso.

Puta que pariu.

Curvo um sorriso grande demais, me esforçando para não soar nervoso. – Eu não fiz nada, gatinho. Meu coração pediu para dizer isso então eu fiz, só. Não posso mais ouvir meu coração bobo e apaixonado?

- Louis Louis... Se você tiver feito alguma coisa, é a sua hora para contar.

A frase ecoa e se repete em minha mente em apelo. Parece o momento certo para contar. Hoje, agora. Ele está pedindo, por mais que não saiba de nada.

Claro que eu não tenho como prever sua reação. Pode acontecer qualquer coisa e é um risco que eu estou lidando constantemente desde o momento em que acordo até o momento que durmo. A sensação de que tudo pode explodir a qualquer momento. Aflição e incerteza. As palavras de Tio Hank invadem meus pensamentos, minha farsa não vai durar para sempre.

Eu preciso contar a Harry.
Sim, agora é o momento certo porque quanto mais o tempo passar, maior e mais dolorosa será a decepção.

Ele tem que saber.

Preciso ser corajoso.

- É serio, Harry? – Solto uma risada. – É claro que eu não fiz nada, só não quero que se esqueça do quanto eu te amo... Você sabe, quando estiver num momento muito ruim, quando tudo parecer um caso perdido... você pode estender a mão que eu vou estar próximo o suficiente para te puxar. É isso o que eu quero dizer. Que eu estou com você para tudo.

- Já entendi. Eu só estava brincando. – Ele sorri e ruguinhas se formam nos seus olhos. – Agora me beija, William.

You Better Try • L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora