dezessete

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- E, porra, nenhuma desculpa. Até um foi mal estava de bom tamanho. - Reclamo depois de ingerir mais um gole de bourbon.

- Arrogantezinho. E quem em sã consciência troca o meu garoto tão bonito e educado por qualquer um? – Indaga Tio Hank, o que me faz ri de escárnio.

- Esse é que é o problema: não foi qualquer um. E o cara não é só bonito, é inacreditável. Porra, Jasper Hawthorne?!

Acendo mais um cigarro, devia ser o quarto da madrugada e meu corpo continuava implorando por mais tragadas de nicotina.

- Pelo menos ele foi atrás de você, é um bom sinal.

- Ele só queria um pau. – Não que isto seja ruim. – Tanto que, depois do café da manhã, foi para Los Angeles.

- Ele deve estar apaixonadinho por você, sim. Ninguém vai a casa de alguém em uma madrugada a troco de nada.

- Para ser sincero, eu estou pensando em desistir disso tudo. Além dele ser um escroto, quer tudo e todos. – Nego com a cabeça, antes de expelir nevoa cinzenta entre os lábios. - Estou fora. – Tio Hank tira o copo da minha mão e põe da mesa.

- Você não vai desistir, é só o álcool falando por você. Tenha paciência, você ainda tem um ano morando naquele apartamento.

- Não sei. Sinto que estou fazendo muito esforço numa corrida que não vai levar a lugar nenhum.

- Besteira. – Ele estapeia o ar. - Apenas corra no seu ritmo, não se esforce tanto... mas não relaxe muito. Tenho certeza de que, logo logo, você vai botar uma aliança de noivado naquele dedo.

- Muito otimista da sua parte. – Disparo.

- Escute a voz da experiência. – Encolho os ombros. – Prometa que você não vai desistir agora. – Sinto a palma da mão formigar, esfrego  no joelho, um tique nervoso que adquiri desde o acidente. – Vamos lá, Tomlinson.

- Está bem, prometo. – Garanto. - Só que se isso durar por mais tempo... – Ele levanta a mão.

- Eu sei, você desiste. Mas não vai durar, confie no seu velho. – Reviro os olhos e concordo em um murmuro. – E por que você ainda vem aqui? O apartamento que está com certeza é melhor que esse muquifo.

E ele tem razão. Ademais, os dois dias que eu levei para encaixotar todos os pertences que claramente não eram meus, como lençóis floridos, retratos de família e brinquedos de infância do Liam, deram muito trabalho para eu não passar tanto tempo por lá.

Também tive que levar a picape a uma oficina para conseguir transportar todas as minhas coisas a Cleveland em uma viagem que, apesar de ter sido de apenas uma hora e meia, conseguiu enrijecer todos os músculos da minha costa. Estou enferrujando mais rápido do que deveria, constato melancólico e resignado.

- Eu prefiro passar um tempo aqui. - Afirmo com sinceridade genuína.

Apesar do apartamento ser confortável, a cama fofinha estar sempre atrativa para horas de procrastinação e a vista da janela ser o lugar perfeito para tragar um cigarro, não é um lugar para mim.

Apesar de minhas roupas estarem no guarda-roupa e as minhas coisas decorarem a casa, como o diploma em um quadro dourado na sala, troféus de futebol e diversas fotografias – colocar as fotos de família foi um grande dilema mas percebi ter sido uma boa ideia quando Harry pegou as fotos e perguntou curioso sobre as pessoas nelas, parecia até meigo carregando aquele semblante empático com as descobertas - ainda assim, o ar daquele ambiente me expele, as paredes dizem eu não pertenço a ali, o chão sussurra que sou um intruso.

You Better Try • L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora