três

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- Tommo!

Escuto uma marcha irritantemente de sapatos contra o piso ganhando proximidade de mim à medida que estou atravessando o corredor principal do hospital. Meus passos cessam e meu olhar se volta na direção do chamado, vitando um Liam cada vez mais perto com seu resplandecente sorriso simpático.

- E aí, Payno. - Cumprimento ele com um soquinho. - Como vai o dia? - Indago contra a má-vontade que sinto.

O que eu menos quero é ficar de papinho furado no corredor do hospital no fim do turno.

- Você sabe, umas consultas aqui, uns exames ali. - Liam descansa seu ombro na parede branca e azul, enfiando a mãos nos bolsos do jaleco. - E o seu?

Minhas pernas reclamam da demasiada quantidade de tempo que passei em pé, e uma leve enxaqueca tem latejado em.minha cabeça desde as cinco da tarde. Então, para terminar logo essa conversa, eu apenas respondi:

- Normal.

- Já tá de saída? - Aceno. Sim! E, por gentileza, pare de falar e me deixe ir pra casa. - Daqui a uma hora termina meu turno, não quer uma carona?

- Não, cara. Não precisa. Ainda dá tempo de pegar o metrô das nove e meia. - Fito o relógio do meu celular apenas para demonstrar convicção. - Aliás, você deve estar cansado também. Não precisa gastar seu tempo só pra me deixar em casa. Ou eu tô transando com você e não tô sabendo? - Cutuco sua costela implicantemente, e ele nasala uma risada. - Sério, cara. Eu tô bem.

- Tem certeza? Você sabe que eu tô aqui pro que precisar, não sabe? Menos pro coito, por enquanto. - Balanço a cabeça sorrindo. - Mas e aí, viu sua mãe hoje? - Meu Deus, será que um homem não pode seguir o caminho para casa em paz?

- Estou sem cabeça para isso hoje. Mas vejo ela amanhã. - Ele aperta meu ombro enpaticamemte.

- Beleza. Então descansa, irmão. - Bocejo, fazendo um joinha com a mão. - E pede um descanso para o Styles, acho que tá sugando sua alma. - Rimos e ele se despede. Finalmente!

Caminho praticamente correndo para a saída do Hospital Marymount, hoje eu senti que foi um dos meus dias de azar então tudo o que eu mais quero é chegar em casa e não ter nenhum infeliz no meu encalço, atrapalahndo meu descanso.



Assim que piso na calçada de concreto aparente, ouço o ressoar de buzinas de trânsito ao tempo em que eu me introduzo na horda de transeuntes apressados. Sou tomado pela necessidade de nicotina, então enfio as mãos no bolso para tirar o maço de cigarro e o isqueiro. Levo a guimba à minha boca e acendo o cigarro com uma tragada profunda. Meu ombro tromba com algo.

- Anda, garoto. Tem gente querendo chegar em casa e você parado no meio da rua. - Esbraveja um homem na casa dos trinta e poucos anos 1ue segue seu caminho de duras pisadas.

Ergo-lhe o dedo do meio, mesmo que seu olhar não tenha se voltado para mim. Ajeito a mochila em minha costa e sigo o fluxo humano que se assemalha às formigas levando alimentos ao formigueiro. Mas o de humanos é bem menos organizado, claro. Não estamos pensando na comunidade, estamos presos em nossa individualidade ansiosa.

Preciso chegar logo ao metrô, se eu me atrasar e perder o que está próximo, só chego em casa às onze da noite. E eu preciso ter uma boa noite de sono.

Há quase três meses que tenho tido encontros regulares com Harry. E Liam está certo, estou tendo minha alma sugada pelo cansaço.

Faço turnos em dois lugares diferentes, a noite no hospital e de manhã na doceteria gourmet. Além disso, o metrô leva uma hora para chegar em Cleveland. E não é como se eu pudesse usar a picape que tenho como o veículo para ir vê-lo. Não mesmo. Aliás, ela nem sempre em seus melhores temperamentos e raramente tenho dinheiro suficiente para abastecer o tanque, então não estou preocupado em mandá-la a uma oficina tão cedo.

You Better Try • L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora