quinze

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- Eu estou morto. – Declara Harry, se jogando no sofá da sala.

Acabamos de chegar do Exotica Club. Além de Niall, Leslie, Maya e Liam que foram nas ultimas duas vezes, Zayn também estava lá, apesar de ter passado a maior parte do tempo com a cara enfiada no celular.

- É a Claire, ela não costuma vir em boates. – Justificou ele sorrindo quando perguntei com quem ele estava falando.

Harry dançou cinco músicas e eu fui busca-lo no camarim. Bebemos cervejas e doses de vodka por algumas horas antes de irmos embora.

- Eu imagino. – Respondo a ele.
Pego o controle da lareira em cima do consolo e a ligo.

Não estava tão congelante como no inverno, as temperaturas começavam a esquentar, esta noite, porém, o frio e a cerveja deixavam o corpo débil, preguiçoso.

Ao seu lado me sento e deixo que ele deite a cabeça no meu ombro.

- Ainda não vi você dançando... Em particular.

- Por que você quer uma dança particular? – Questiona em tom de divertimento.

-Por que eu não iria querer? – Retruco com o cenho franzido. Ele ri.

Purpurinas ainda polvilham todo o seu rosto e as pálpebras carregam  pigmento violeta. Há gel no cabelo, o deixando escuro e sem ondulações.

- Talvez um dia eu faça, se você fizer uma coisa agora.

- O que?

- Cookie. – Ele imita o som gutural do Cookie Monster da Vila Sésamo.

- Só isso? – Pergunto sorrindo e ele balança a cabeça. – Fácil.

Quando Harry tira a cabeça do meu ombro, levanto para ir a cozinha a passos cambaleantes. Por que cerveja transforma nosso corpo em uma grande massa gelatinosa?

- Enquanto isso, vou tirar a maquiagem. – Ouço os choques da botas em direção a escada, viro os tornozelos e volto para o pé da escada.

- Pode descer! – Decreto. – Você sempre diz que está com fome e que “vai tirar a maquiagem" mas acaba dormindo.

- Eu juro que não vou dormir. Só vou tirar a maquiagem e te esperar na sala de TV.

- Você vai descer! Ou então não faço. – Ele ri e desce até mim, me dando um selinho.

- Confia em mim. Vou te esperar. – Cerro os olhos e ele tenta uma expressão séria, não dá muito certo.

- Está bem. – Ele sobe a escada em pulinhos. – Se você dormir, nunca mais terá meus biscoitos. – Harry levanta o polegar antes de virar o corredor.


Quando entro na sala de TV, ele está deitado no sofá de costas para a tela. Ah, mas ele vai acordar, penso revirando os olhos. Deixo a tigela e os dois copos de leite na mesinha.

- Harry. – Chamo, antes de sentar no sofá e inclinar o corpo sobre o seu, acariciando seu cabelo. – Baby. – Sussurro.

Vejo que ele está fingindo. Uma covinha se afunda e ele tenta esconder sutilmente seu rosto com o ombro.

- Você é um falso. – Digo antes de morder seu ombro. Ele arregala os olhos, levanta de sua posição reclamando e formando um biquinho. - Nem foi tão forte. – Me defendo quando ele sou empurrado.

-Ah, claro, você diz isso porque não foi com você. – Murmura emburrado.

Quero dizer para ele não ser tão dramático, mas apenas me aproximo do ombro que mordi e dou um beijo. - Melhorou?

- Claro que não. – Me inclino até a mesa e pego a tigela com biscoitos mornos.

- Cookies, então.

Ele puxa da minha mão e pega um, enfiando na boca. Harry senta em cima dos próprios pés, eu pego um copo para tomar o leite e nós acompanhamos um documentário da National Geographic sobre a cultura da Oriente Médio pela perspectiva de três ocidentais, um francês, uma americana e uma latino-americana.

- Não que eu seja curioso nem nada, apenas checando... – Ele cerra os olhos pra mim e inclina a cabeça, esperando que eu continue. - Está acontecendo alguma coisa entre Niall e Leslie?

- Porquê?

- Sei lá. Achei que tinha uma tensão entre eles. Aquela tensão, sabe? – Harry revira os olhos.

- Droga. – Resmunga, pegando um biscoito da tigela. – Eu não sei se eles estão juntos. Niall meio que gostava... gosta dela.

- Acho eles adoráveis.

- Seria estranho. Zayn já namora, se Niall ou Leslie namorarem... – Ele pausa. – As pessoas mudam quando namoram, ficam mais idiotas, tolas. E quando terminam? – Ele faz careta. - Agem como se o mundo tivessem acabado, choramingando e ficando dez vezes mais estúpidas que antes. Imagine Niall e Leslie? Não daria certo. Conheço os dois muito bem. – Ele cessa o monólogo para mordiscar o biscoito. Abençoado seja o cookie.

Apesar de eu já ter tido alguns namoros, não posso negar que concordo com seu ponto de vista.

- Se eles não te falaram é porque eu estou viajando. – Dou de ombros.

- Niall tenta alguma coisa com ela desde a viu lecionando na Uni. É só questão de tempo, Leslie vai acabar abaixando a guarda. – Queria deixar para lá, mas sinto a inefável necessidade de defendê-los.

- Não acho que Niall mudaria com você. Vejo como ele te adora... Leslie não fica atrás também. – Retruco.

Não entendo o motivo dele parecer tão chateado com isso. Decido que o melhor é não tentar montar esse quebra-cabeça.

Vi que, tanto Niall quanto Leslie, pareciam gostar um do outro e, depois do que Harry disse, tinha quase certeza de que eles estavam tentando manter em segredo.

Até me permito sentir culpado por ter comentado isso com ele, provavelmente agora já deve ter enfiado isso na cabeça.

***

Liam e Maya decidiram comemorar mais um mês de namoro no Lola, um restaurante classe média com iluminação dourada e cores neutras. Eles estavam próximo do segundo ano juntos, faltavam apenas três ou quatro meses.

Já tínhamos devorado os canapés de vegetais e, agora, comíamos bife malpassado com fritas acompanhado de champagne rose.

Além do casal, Danielle estava sentada ao meu lado na mesa redonda. Era para Harry estar aqui também, até liguei de manhã mas ele pôde vir, estava com enxaqueca.

Liam queria que fossemos para o apartamento que eu estava ficando depois do jantar. Eu neguei.

- Sua mãe foi um amor de pessoa comigo mas ela me fez assinar um contrato e registrar a assinatura num cartório. Sem festinhas lá dentro.

- É sensato da parte dela, capaz de você querer transformar aquilo num point para maconheiros. – Disparou Maya rindo.

- E por falar nisso, a sindica advertiu que não pode dar um tapa no prédio, em qualquer horário. Dá pra acreditar? Vou ter que ir fumar na casa da Dani.

- Nem sonhando. – Ela ri. – Harry mora mais perto de você agora.
Dou de ombros e corto uma fatia da carne, enfiando na boca. Maya sugere para que fôssemos a um bar tomar algumas rodadas de cervejas. Entramos em um impasse entre Flanner’s ou Stone Mad.

Prós para o Stone Mad: pertinho dali e os onions rings eram ótimos; Contra: sempre estava lotado. Prós para o Flannery's: só tocava músicas fodas e o espaço era amplo e climatizado; Contra: a cerveja aumentava um dólar a cada meia hora.

- E então? – Questiono quando eles se silenciam e me encaram. – Não vou decidir sozinho, vivemos em uma democracia.

- Por que você disse que Harry não veio mesmo? – Indaga Danielle casualmente.

Um vinco se forma entre minhas sobrancelhas pela aleatoriedade da pergunta .

- Dor de cabeça, ou algo assim. – Respondo.

Vejo todos ficarem com um semblante engraçado e virarem o rosto para a recepção do restaurante, instigado, acompanho com o olhar.

Não tinha como não reconhecê-lo naquela calça skinny e camisa de botões verde-limão. Seus cachos ultrapassavam os ombros, balançando enquanto seguia a recepcionista.
Ao seu lado estava um homem com pele cor de cacau e dreads curtos no cabelo. O cara era grande. Do tipo alto mesmo, o topo da cabeça de Harry batia em seu ombro.

Dizem que quando estamos encarando alguém, a pessoa inconscientemente entra em alerta e nos procura. Nós, com toda a certeza, não éramos os únicos que olhávamos para o casal deslumbrante. Entretanto, o olhar de Harry encontrou o meu em poucos segundos, por instinto ou não.

Apesar da iluminação baixa, consigo ver seus olhos aumentarem de tamanho e acredito que seu rosto fervia. Ele hesitou enquanto me encarava, até o homem botar a mão em sua costa e guiá-lo até a mesa, onde se sentaram.

- Bom, ele deve ter tomado um Advil. – Digo, voltando a atenção para a nossa mesa.

Todos transpareciam certo constrangimento, o que despertou un incômodo em mim.

- Ele parece nervoso. – Declara Campbell, sem desviar os olhos da mesa deles.

- Eu também ficaria nervoso se tivesse do lado daquele cara... Qual é o nome dele?  - Pergunto, estalando os dedos. Sabia que ele era jogador do Cleveland Cavaliers.

- Hawthorne. Jasper Hawthorne. – Afirma Maya.

- Pois é. Até eu fiquei duro quando vi ele. Hawthorne é um Deus. – Afirmo antes de tomar um gole de champagne.

- Agora ele vai mandar mensagem para você. – Supõe Danielle.

- O Jasper? – Ela revira os olhos. Sinto meu celular vibrar no bolso. Mulheres vem com algum superpoder instalado? Instinto aguçado, mediunidade, premonição? Provavelmente. – Você tem que parar de encarar, Dani.

- Harry que está olhando para cá. – Defende-se. – Não vai ver o que ele escreveu? – Pergunta ela, se ajeitando na cadeira. Nego com a cabeça.

Apesar de não gostar de Harry daquele jeito, estou desconfortável com a situação. Danielle não para de olhar para eles e falar quando Harry está ou não olhando. Liam está com o semblante de quem sabia que isso iria acontecer e Maya está ruborizada de vergonha alheia.

Além disso, meu celular vibra de vez em quando no bolso.

O quanto de champagne eu tomei? Sinto que minha bexiga está prestes a explodir, ou é nisso que eu prefiro acreditar quando me levanto e vou ao toalete no fundo do restaurante.

Ainda estou me esvaziando no mictório quando o som de porta abrindo e fechando cortou o barulho de água contra o porcelanato. Depois que guardo e fecho o zíper da calça, caminho para a pia.

Harry esta ali encostado na  bancada. Ele até expressava casualidade e indiferença, se eu ignorasse os seus pés remexendo nas botas.

Ligo a torneira e deixo a água corrente lavar as mãos.

- Louis.  – Diz relutante.

- Harry. – Cumprimento cordialmente.

Derramo um pouco de sabão nas mãos, esfrego e coloco debaixo da torneira novamente.

- Eu... – As palavras morrem.
Pego um papel-toalha para secar as mãos e o jogo no lixo. Viro para ele e lhe direciono um sorriso falsamente simpático.

- Fico feliz que não esteja mais se sentindo mal. Espero que tenha uma ótima noite. – E saio do toalete sem dar tempo para ele responder.

Quando chego a mesa, decido soar um pouco dramático porque todos os olhares brilham em expectativa.

- Não estou no clima hoje. – Digo sem nem mesmo me sentar.

Beijo as bochechas de Maya e Danielle e dou um par de tapinhas na costa de Liam. Eles tentam me fazer ficar mas eu nego.

- Você nem acabou de comer ainda. – Diz ele.

- Perdi o apetite. Se divirtam sem mim... Mas não muito. – Levanto o indicador, antes de me afastar da mesa.

Quando estou quase na entrada, passo pela mesa de Harry. O vejo me olhar com o lábio inferior preso entre os dentes, ignorando o que Jasper Hawthorne falava. Espelho um sorriso antes de sair.

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