trinta e cinco

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I tried to tune you out but you could never be ignored
You could never be ignored
And I'd rather be myself, although it's nervous and unsure
Looking for your shadow in the light beneath the door
And I want you oh-so badly, oh, I've never wanted more
Oh, I've never wanted more

Tonight, tonight
You're the place I go to





Eu não poderia estar alegre e bem-humorado.

Não com Charlotte fazendo estadia no quarto vago do meu apartamento por três revoltantemente rápidas semanas.

Gostaria muito de agradecer a Harry, se não fosse por ele, rever minha irmã ainda estaria fora de cogitação por um tempo. Lottie contou que recebeu uma mensagem dele naquele mesmo dia em que liguei para ela do hospital. No início, eles conversaram amenidades,  trivialidades, não só sobre mim, mas coisas superficiais sobre si também, para se conhecerem um pouco. Por fim, Harry perguntou se ela não gostaria de vim a Cleveland, se reencontrar comigo e com Jay. Ela negou desconfiada, claro que queria vim, mas além da dificuldade que seria pedir um adiantamento das férias, ela não queria aceitar porque não o conhecia. Mas Harry e sua insistência conseguiram persuadi-la a vim.

Ela chegou aqui na terça, três dias depois dele ter embarcado para a Guatemala. Só soube que ela viria na segunda quando recebi a mensagem “Diga ao seu chefe que você não irá trabalhar amanhã porque vai buscar me buscar no aeroporto. Desembarco ao meio dia. E não se atreva chegar atrasar, estou de TPM"

Diferente da última em que ela esteve nos Estados Unidos, não ligo em agir como um carente irritante, ao nível de ter pedido a quarta de folga para ficar grudado nela – preciso mencionar que Vásquez não hesitou em conceder, o cara é o melhor chefe do mundo!

No dia em que ela desembarcou, decidimos ir ao cinema e botar o papo em dia. Só no dia seguinte fomos ao hospital. E se da última vez eu não pude ver o reencontro, a cena de Lottie indo até nossa mãe, beijando sua testa e afagando seus cabelos veio acompanhada de uma sensação de déjà vu e um calorzinho no coração. E

Carregarei aquela cena para sempre.

Acho que quase nunca refleti sobre um privilégio de ter ficado, afinal. O privilégio de poder ver Jay sempre que posso, de tocá-la e “conversar" com ela. Há uma distância absurda, o que sobra para Lottie é a ausência até da presença física de nossa mãe. A saudades a faz perder o controle, mas de uma forma boa, Lottie toca seu rosto e afaga seus cabelos e acaricia suas mãos com carinho. Beija sua testa diversas vezes e deixa o sorriso bobo estampar seu rosto.

Tenho o privilégio de não sentir este tipo de ausência, de abusar o quanto posso da presença de Jay. Porque só sua presença física é capaz de encher meu coração das sensações mais ternas e deleitosas.

É o seu poder, ser tão magnífica ao ponto de transmitir sua aura de doçura, gentileza e amabilidade em qualquer situação, apesar dos pesares.

No final de semana, perco exclusividade da companhia de Lottie para Danielle Campbell e Maya Henry.

Elas criam intimidade em pouco tempo, fazendo com que a minha presença se tornasse dispensável ao ponto de eu precisar ser dramático para ganhar atenção. Até ganho, mas não do jeito que queria, torno-me o centro da conversa entre elas, da pior maneira, onde sou o objeto de reclamações e piadas.

- Ei! Dá para as senhoras pararem com isso? Eu tô aqui! - Mas não adianta em nada.

Acho que conversar com as meninas fez com que surgisse em Lottie vontade de reencontrar os amigos que há tempos não via. Um dia ou outro da semana eu chegava ao apartamento vazio sabendo que ela estava matando tempo com alguém.

You Better Try • L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora