Pity Rain

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      Amherst, Massachusetts. 1857.

...
 
Chuva em lástimas...
Lástimas em chuva...
Por que não fechar os olhos para essa constante mudança? Que me toma e me leva para bem longe de quem já fui um dia?
Como a flor que desabrocha ao alvorecer e murcha ao iniciar do crepúsculo.
Por que não só permanecer?
Por que escolher entre chuva e sol quando os dois fazem parte de minha criação?
Por que não só permanecer...
Inerte e sem possibilidade de escolha.
Inerte e intercalada.
Não vista, não percebida, mas ainda assim bela. Viva.
À espera da chuva. 
Minha chuva de lástimas...

...

             一Deus! Quando foi que desaprendi a escrever?

     Encaro o pequeno papel em minhas mãos em mais uma noite de insônia.
    
     São aproximadamente quatro da manhã, a casa inteira dorme. A única luz presente no meu quarto é a dessa vela sobre minha mesa bem na minha frente, fechada e contemplada por uma pequena cúpula de vidro. Assim são minhas noites. Escrevendo como nunca. Tirando inspiração de onde nem tenho para continuar prosseguindo. Ultimamente tem sido bem difícil considerando que não tenho tido tempo suficiente para escrever. Tenho tarefas a fazer, agora que meu irmão se casou com a Sue. Sinceramente... Não sei porquê tenho que continuar exercendo deveres quando tenho uma empregada em casa. Isso não é justo! Vou viver uma vida inteira assim? Quase não posso respirar direito. Preciso de tempo para os meus poemas, preciso de tempo para mim. Estou entrando num momento crítico da vida adulta no qual preciso me decidir entre a chuva e o Sol, nessas horas, queria ser parte da terra. Não como uma flor que precisa desses dois elementos, mas como um cadáver enterrado. Ah, morte! Quando enfim virá para mim?

      Ouço batidas.

      Ah, pronto! Quem será que me perturba a essa hora?

      Caminho preguiçosamente até a porta, dando de cara com minha irmã Lavínia ao abri-la.

             一Precisamos de leite, mamãe mandou você ir no celeiro buscar 一diz coçando os olhos, com a voz ainda arrastada de sono.

             一Lavínia, nem clareou ainda...

             一Reclama com ela.

             一Por que você não vai?

             一Eu vou ter que fazer o pão. Austin e Sue virão tomar café conosco esta manhã, precisamos deixar tudo pronto antes das seis.

             一Achei que esses dois tivessem casa, estão morando mais aqui do que na deles. Virou pensão?

             一Emily, não dificulta. Enquanto o papai estiver vivo, a casa também é do Austin. Agora vá buscar esse leite!

      Dá meia volta e some por entre os corredores escuros, enquanto eu, respiro fundo para não surtar. Tudo eu nessa casa.

     Após me aprontar devidamente, saio pela porta da frente com minha lamparina e um balde em mãos. Ainda está tudo escuro, não consigo nem enxergar por onde meus pés pisam. O celeiro está iluminado, Henry com certeza o está limpando como faz todas as manhãs ou madrugadas. Ótimo, pelo menos terei alguém para me ajudar com aquelas vacas. Da última vez, levei um coice.

     Ao entrar no local, já sinto de longe o agradável cheiro de esterco. Enrijeço levemente o nariz. Não sei porque colecionam isso, meu pai diz que é bom para a horta. Mas em compensação... Polui qualquer ar.

Com amor, Emily.Onde histórias criam vida. Descubra agora