Infinite Thoughts

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       Amherst, Massachusetts. 1857.

...

      Manhã amena, calma e silenciosa. Cada um no seu quadrado, com seus respectivos compromissos. Papai já recebia um monte de homens em seu escritório, numa reunião a respeito de coisas relacionadas ao seu novo método de governo. Mamãe ficava atrás da empregada como um peru tonto, querendo trabalhar mais do que ela. Já Lavínia, só Deus sabe! Enfim, mais uma manhã sem graça e vazia. Daquelas que me faziam ter vontade de continuar na cama pelo resto do dia.

     Meus poemas transbordavam a mesinha, transbordavam sentimentos. Não tinha conseguido dormir a noite inteira com a cabeça borbulhando ideias, precisava colocá-las no papel. Também precisava de mais tinta. Pensando nisso, ponho minha capa favorita sobre a camisola e decido descer até à biblioteca, talvez lá ainda tivesse um pouco sobrando. Só precisava fazer isso com cautela, não poderia correr o risco de ser vista pela minha mãe. Ela certamente me obrigaria a servir cafezinho para os convidados pelo resto da tarde, e eu queria escrever. Só algo muito milagroso seria capaz de me arrancar de meu quarto.

      Após descer as escadas em passos bem leves, entro numa das primeiras portas à direita, invadindo a biblioteca aparentemente vazia. Vou até a gaveta de uma das prateleiras procurar o que eu desejo, e acabo nem percebendo uma presença surgindo.

               一Oh, me desculpe! Não sabia que tinha gente aqui 一ouço a voz masculina atrás de mim.

     Me viro dando de cara com um rapaz alto e robusto, de cabelos bem cortados e barba feita. Com certeza um dos sócios do papai. Se bem que ele parecia meio novo para isso.

               一Tudo bem, eu só vim pegar um pouco de tinta para minha caneta.

               一Presumo que seja uma das filhas. Emily ou Lavínia?

               一Emily.

               一Muito prazer 一estende a mão para mim, que aperto. 一Edward Frederick Cole.

               一Tem o nome do meu pai.

               一É, eu sei 一sorri. 一Mas a maioria das pessoas me chamam só de Freddie.

               一Tá bem, então!

     Ao avistá-lo no fundo da gaveta, pego o tal potinho de tinta e me viro para sair, sendo abordada novamente.

               一Escrevendo algo importante? 一pergunta um tanto quanto tímido.

               一Não, são só alguns poemas. Nada demais.

               一Uau! Você é poetisa? Não sabia disso.

               一Claro que não, você acabou de me conhecer...

      Ele sorri.

               一É, tem razão.

               一E sim, eu sou.

               一Costuma mostrar seus poemas para as pessoas?

               一Não, infelizmente. Não é algo no qual alegraria o meu pai.

               一Eu imagino, mas... Nem os mais próximos têm a oportunidade de lê-los? Aposto que você é boa.

               一Como pode saber?

               一Não sei, mas presumo que seja 一retruca, me fazendo soltar um singelo sorriso. 一Se me deixar ler um deles algum dia, talvez eu tenha certeza. Ficarei lisonjeado.

Com amor, Emily.Onde histórias criam vida. Descubra agora