Amherst, Massachusetts. 1857.
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É manhã de domingo, abro os olhos e pulo da cama. Saio dançando loucamente pelo quarto. Ponho meu vestido favorito, solto meus cabelos e desço as escadas à galopes. É dia de festa!
Austin decidiu finalmente inaugurar sua casa, dando uma festa e convidando a cidade inteira. Tinha pedido ajuda para minha mãe e nossos empregados, queria comidas e bebidas finas. Como sempre, dando trabalho e despesas. Além disso, também tinha contratado funcionários. Decoradores, cozinheiras, músicos e até algumas "garçonetes". Era claro que estava tentando passar uma boa imagem para a alta sociedade que o visitaria, eu não estava nem aí para isso. Queria ir pelo baile mesmo, e pela Sue, embora soubesse que ela iria, provavelmente, me ignorar o evento inteiro. De qualquer forma eu iria. Queria me divertir acima de tudo, espairecer. Estava bem animada.
Quando chego na sala de jantar, encontro meu pai e Freddie já presentes tomando café, ambos bem arrumados como o usual. Me aproximo do meu velho e o beijo na bochecha, fazendo-o sorrir. Para Freddie, também sorrio, o cavalheiro apenas me retribui fazendo o mesmo. Lavínia aparece logo em seguida, com a cara amassada de sono e um vestido amarrotado. Se senta à mesa como um robô, pegando um pedaço de pão e mordendo. Parecia estar no piloto automático, quase dormindo sentada, tadinha! A empregada chega para deixar as frutas, eu pego um gomo de laranja, o enfiando quase todo na boca. Meu pai me olha por cima do ombro em reprovação enquanto Freddie tenta não rir. A empregada volta para a cozinha e eu ponho meu cachecol e luvas, me retirando para o lado de fora.
Assim que cruzo a porta, percebo o tamanho movimento na casa de Austin. Várias pessoas entrando e saindo, algumas carregando coisas, dentre elas, Henry. Eu não sabia, mas ele também havia contratado pessoas especializadas para construir uma espécie de redondel, para treinar seus milhares de cavalos. Aparentemente também estava montando um cercadinho para abrigar coelhos, certamente comprados para Sue. Ela amava coelhos. As batidas constantes de martelo em pregos, o falatório em meio àquela confusão, os gritos de Austin brigando com alguém que tinha feito algo errado... Tudo colaborava para que eu sumisse dali. E é o que eu faço, saindo e indo dar uma caminhada matinal ali pelas redondezas.
Vou andando devagar, olhando para o chão. A vizinhança já estava movimentada àquela hora da manhã. Carruagens passando, pessoas transitando, vendas abertas... Tudo funcionando a todo vapor como tinha de ser. E enquanto caminho, deixo meu olhar passear pela paisagem em volta, me deparando com algo. No fim de um cercado, bem atrás de uma árvore enorme, a Morte estacionava para mim. Então, passo por debaixo de uma cerca e vou correndo até ela, segurando meu vestido.
一Olha ela aí 一a Morte me cumprimenta assim que entro. 一Como vai, princesa?
一Hoje eu até que estou bem.
一Eu notei, sua energia fica mais forte quando está de bom humor 一me estende seu charuto. Eu o tomo nos dedos e dou um longo trago.
一Por que está aqui? 一pergunto.
一Eu estou em todos os lugares, gata.
一Você entendeu.
一Tive que buscar uma pessoa que já estava no fim da linha, dê "oi" para o Gerald 一aponta um senhorzinho que se encontra sentado a uns dois metros de mim.
Nem havia o percebido ali.
一Oi, Gerald, o que houve?
一Já cumpri minha missão na terra, menina, estou em paz agora 一o senhorzinho responde com a voz rouca da idade.

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Com amor, Emily.
Romantik1857. O ano em que Emily Dickinson (Hailee Steinfeld), uma poetisa na qual o mundo nunca viu igual, se encontra em um particular dilema: encontrar um marido ideal para enfim sair da casa de seus pais. É claro que a mesma nunca quis nada disso, óbvi...